O Gil Vicente perdia com o Beira Mar, em casa, e Paulo Alves preparava mentalmente o esquema para dar a volta ao jogo. No banco tinha opções como Cesinha, Bruno Madeira, João Martins ou Yago, mas, a meia hora do final do jogo o que se ouviu foi: «Zé! Anda!».

Franzino, mas felino, Zé Luís despiu o fato de treino, ouviu as últimas indicações do «mister» e entrou. Quinze minutos depois tinha marcado o primeiro golo com a camisola do Gil Vicente. E que golo, num golpe de cabeça perfeito. Diz quem o conhece que o jogo aéreo é mesmo um dos seus pontos fortes, mesmo não sendo muito alto. Compensa com uma capacidade de impulsão acima da média.

O encontro terminou empatado, o Beira-Mar tem a liderança em perigo e a culpa é de um menino que caminha a passos largos para deixar de ser aspirante e se tornar jogador. O modelo está identificado. «A minha referência é o Drogba. Revejo-me no seu estilo de jogo, é o meu ídolo», contou ao Maisfutebol.

Aos 19 anos cumpre o último ano de júnior, o primeiro em Portugal. O Gil Vicente descobriu-o na ilha do Fogo, em Cabo Verde, e Zé Luís nem pestanejou: «Cabo Verde é um país pobre e nem sempre aparecem estas oportunidades para jogar no estrangeiro. Apenas me disseram: queres? E claro, depois é aceitar, porque é um sonho jogar na Europa e vou trabalhar para isto até ao fim», assegurou.

O primeiro passo está dado com a estreia na Liga de Honra e logo a marcar. «Acabou por correr bem. A ideia era tentar fazer o que o treinador me pediu e consegui. Tive, também, muito apoio dos colegas. É verdade que quando entrei estava nervoso, acho que é normal. Depois à medida que se vai tocando na bola isso desaparece. Já passou, agora é pensar na próxima», afirmou.

«Quando me propuseram assinar pensei: fixe!»

27 golos na I Divisão Nacional de juniores é um registo interessante. Se lhe somarmos o facto de a equipa gilista ter acabado por descer de divisão, o número parece, até, ganhar outra dimensão. Tudo isto, num ano que deveria ser de adaptação a um novo futebol e a uma nova realidade.

«Vim sozinho, deixei a família. No início foi difícil fazer amigos. A timidez atrapalha sempre, mas aos poucos a adaptação a Barcelos foi correndo melhor. Moro com mais dois amigos cabo-verdianos que vieram comigo para os juniores do Gil. Quando cheguei notei logo uma diferença grande também no futebol. Eu jogava nos seniores lá em Cabo Verde, mas o nível de exigência no campeonato de juniores aqui é muito maior. Nos seniores então...», comenta.

Zé Luís só agora vai treinando sistematicamente com a equipa principal, finda a época nos juniores. Mas o contrato de formação estava assinado há muito. «Fiz um jogo pelos juniores e fizeram-me uma proposta para assinar. Pensei logo: Fixe!», atira, entre sorrisos tímidos.

O objectivo, agora, é terminar bem a temporada e garantir uma vaga no plantel gilista no próximo ano. Depois, bem, depois logo se vê: «Todos os jogadores gostavam de subir na carreira, mas, para ser sincero, não há nenhum clube em Portugal que eu aponte logo: era aqui que gostava de jogar. Vamos ver como correm as coisas.»