Muito calor apesar das cheias. Muito trânsito, mas poucos acidentes. Um país pobre mas seguro. A Tailândia que Zezinando descreve parece uma nação de contrastes. A atravessar um momento delicado, com as cheias que já mataram mais de 300 pessoas, tenta readquirir a ordem e o sossego.

A conversa do Maisfutebol com o médio português não poderia ignorar a realidade social tailandesa. «Felizmente a água não chegou à zona onde eu moro. Nestes últimos dias não tem chovido. Pode ser um bom sinal», alerta.

Banguecoque, a capital, é atravessada pelo rio Chao Phraya, cujo caudal transbordou devido às intensas chuvas. Zezinando escapou à praga da água e espera, agora, não ter problemas com outra: a dos crocodilos. Alguns já foram encontrados em zonas residenciais e teme-se que mais lhes sigam o rasto. «Nem quero pensar. Será um perigo andar na rua», lamenta, ele que no início até ficou surpreendido...com o calor.

«Para comer? É um sapo se faz favor»

O drama das cheias acentuou uma realidade que não tinha escapado ao olho de Zezinando: «O nível de bem-estar aqui é médio/baixo. Às vezes encontro situações que me deixam a pensar que tenho uma vida maravilhosa. As cheias deixaram famílias sem nada, perderam o pouco que já tinham. Há crianças na rua, às tantas da noite, a pedir comida. A pobreza deixou-me um bocado abalado.»

Mas se a miséria o choca, congratula-se pela segurança: «Ainda não ouvi falar de assaltos. Até é estranho, com tanta pobreza. Não sei se há zonas mais perigosas, mas sinto-me seguro na rua. Mesmo de noite, nunca fui atacado.»

Outro problema, obviamente diferente, é o trânsito. Infernal. Melhor dizendo: infernalmente organizado. A expressão é nossa e tenta definir brevemente o cenário que Zezinando deu conta.

«A qualquer hora há filas e mais filas para entrar e sair da cidade e para ir a todo o lado. Demoro uma hora e meia a fazer um caminho que, sem trânsito, fazia em quinze minutos. Mas há regras e as pessoas respeitam. Aliás, ainda outro dia estava a pensar que com tanto tempo aqui e com tanto trânsito, nunca vi um acidente», conta.

Se a pobreza geral e o trânsito caótico são marcas vincadas de Banguecoque, Zezinando não tem dúvida em eleger o que de mais estranho encontrou: «a alimentação». Na Tailândia, a velha expressão «Eu cá como de tudo um pouco» ganha toda uma nova força.

«Eles comem de tudo aqui. E quando digo de tudo, é mesmo de tudo (risos). Comem sapos com a maior da naturalidade. Faz parte da cultura ir a um restaurante, olhar para o menu e pedir: «É um sapo, se faz favor» (risos). Eu não me meto nisso. Prefiro coisas simples. Não tenho sequer a curiosidade de experimentar», garante.

Um amigo português e um mercado inusitado

Aos poucos, a vida em Banguecoque ganha uma normalidade inesperada. Zezinando sai à rua, conhece os lugares, faz amigos. Um deles, especial. «Encontrei um português que mora cá há 14 anos, ao lado do nosso estádio. Almoço muitas vezes em casa dele», conta.

«Não gosta muito de futebol, estou a tentar que isso mude. Tem 70 anos e disse-me que só tinha ido uma vez a um estádio, mesmo morando ao lado do nosso. Já consegui com que fosse outra vez. Não é mau», brinca.

Nos tempos livres, passeia no shopping ou no jardim zoológico. Ainda não conhece um dos mais raros lugares da cidade que dá nome ao seu clube. O mercado de Samut Songkhram é considerado, por alguns, uma das sete maravilhas da Tailândia.

Porquê? Pela escassez de espaço que deixa as tendas em cima de uma linha de comboio... em actividade. Quatro vezes por dia, o comboio fura o mercado, para desespero dos vendedores e júbilo dos turistas.

«Quando penso que já vi de tudo, aparece isto», brinca, agradecendo a dica.

O mercado de Samut Songkhram