O FC Porto está diferente. Essa é a conclusão óbvia depois do segundo jogo no México e do segundo aberto ao público. O FC Porto está melhor? Essa é a conclusão que, para já, é madrugadora. Que parece melhor, disso não há dúvidas, porém falta perceber se o crescimento vai durar 90 minutos ou, como hoje, esbarrar no apito para o intervalo. O empate final a dois é penalizador para um dragão que entusiasmou no primeiro tempo e perdeu-se no segundo. É, ainda assim, um empate diferente do que se viu frente ao Cruz Azul. O resultado foi semelhante, mas o FC Porto foi melhor desta vez.

Mesmo jogando contra um Chivas repleto de juventude, com jogadores dos juniores a suprirem lacunas provocadas por problemas físicos no plantel, a equipa de Sérgio Conceição realizou um primeiro tempo de elevada qualidade, num jogo que teve pouco de pré-temporada nesse período.

O dragão entrou de faca nos dentes e garras afiadas. Característica evidente no futebol portista, de resto. Conceição puxou a equipa para a frente e não pede grandes rendilhados. Ao contrário de Nuno Espírito Santo, por exemplo, ou Julen Lopetegui, para ir mais atrás, troca o controlo pela vertigem. Não pára a pensar como vai ferir o rival. Antes, usa a força bruta para o fazer. Sabe o caminho e vai por lá, sem mais questões.

FILME DO JOGO

O primeiro tempo, sobretudo, mostrou que o plano é esse. E assenta num 4-4-2, ainda que Otávio, que jogou pelo centro frente ao Cruz Azul, seja um extremo adaptado. A dupla Soares-Aboubakar, porém, mostra que a aposta é mesmo neste esquema e os próximos encontros servirão para tirar eventuais dúvidas.

Com a mesma linha defensiva da última segunda-feira, dando a entender que Ricardo está mesmo a ganhar a corrida a Maxi Pereira na direita (e as exibições do português mostram o porquê), Conceição voltou ainda a entregar a batuta a Óliver Torres, o melhor enquanto esteve em campo. Pena que tenha sido apenas meia hora, embora o bom jogo portista se tenha alastrado a todo o primeiro tempo.

Aliás, ao contrário do duelo com o Cruz Azul, a primeira parte foi claramente melhor do que a segunda. Foi ali, enquanto houve frescura, cabeça e as substituições não tomaram conta do jogo, que se viu aquilo que o novo líder portista pretende: futebol de processos simples, rapidez, entrega, pressão alta e autorização para disparar.

O golo de Aboubakar, logo aos 2 minutos, aproveitando um erro defensivo dos mexicanos, ajudou a embalar a equipa, mas foi o futebol de Óliver Torres a empurrar, definitivamente, o FC Porto para os píncaros. O primeiro tempo foi a melhor amostra portista na pré-temporada e deixou água na boca para o que aí vem. Sobretudo pelo segundo golo, pleno de qualidade. A bola passou por meia equipa portista antes de Herrera descobrir Otávio que, de cabeça (!), empurrou com convicção. Um lance que qualquer um, treinador ou adepto, gosta de ver.

Ainda na primeira metade, Aboubakar atirou à trave, após assistência de Ricardo, e Soares, mais discreto do que o colega do ataque, cabeceou a rasar o ferro, num canto.

ANÁLISE: Ricardo e Aboubakar são mesmo reforços

Pena é que o segundo tempo tenha ficado bem distante em termos qualitativos. Com artistas diferentes, a amostra também foi distinta. Galeno esteve nervoso, Brahimi e Corona voltaram a não ser os extremos que o FC Porto de Conceição precisa. Um aspeto a rever, até por serem os naturais candidatos à titularidade. Salvou-se Sérgio Oliveira, que ainda ficou perto de marcar, num remate cruzado, que rasou o poste.

No meio disto tudo, o Chivas cresceu e ganhou confiança num golo estranho, marcado com a equipa do FC Porto parada e em posição duvidosa por parte de Macías. Um daqueles lances clássicos do livre cobrado rapidamente com apenas uma equipa atenta. Já o segundo, que deu o empate, perto do final, é todo ele mérito mexicano, numa bela jogada finalizada por Viejo, perante o desamparado Vaná, em estreia absoluta com a camisola portista.

Já se percebem as ideias de Sérgio Conceição e é natural, até, que várias delas sejam bastante apelativas para a massa adepta. Mas falta, ainda, esticar a manta até ao mais importante: a vitória. Em quatro jogos de pré-temporada, apenas um triunfo. O teste de Guimarães, no domingo, pode ajudar a perceber ainda melhor até onde pode ir este dragão.