Paulo Futre conquistou popularidade com as referências aos chineses, com o sócio, o concentradíssimo e vai vir charters. Não era novidade para quem trabalha com aquela realidade. O potencial da China é inesgotável. Chegou agora ao Rio Ave.

Com mais de um bilião de habitantes, a China tarda ainda assim em desenvolver um interesse consolidado no futebol local. Aliás, nem é o desporto favorito, longe disso. De qualquer forma, são números avassaladores. «Basta ter 5 ou 10 por cento de simpatizantes por futebol, já é uma massa tremenda.»

As palavras são de Miguel Lemos, da Football Pacific Consulting, empresa de gestão de carreiras e marketing desportivo especializada no mercado da China. A companhia intermediou o acordo entre a Liga dos Chineses em Portugal e o Rio Ave, anunciado nesta sexta-feira.

Equipa de chineses nas instalações do Rio Ave

Em suma, o Rio Ave vai disponibilizar instalações e um treinador português para a criação de uma equipa de futebol amador constituída por jovens chineses. Em troca, o clube de Vila do Conde abre as portas a um mercado extenso.

«Não basta ter um chinês na equipa para virem charters. O Futre disse aquilo por uma questão de estratégia, como reconheceu. E resultou muito bem. Mas também é verdade que aquilo não era novidade, ou só o era para o público que segue o futebol português», frisa Miguel Lemos, ao Maisfutebol.

O Real Madrid fez uma digressão na China, a Supertaça de Itália disputou-se lá. O Corinthians contratou um jogador chinês como estratégia de marketing. Diferentes estilos, a mesma ambição: aproveitar o filão. Contudo, isso não basta. O Rio Ave abraçou um projecto mais abrangente.

«O Beira Mar tem o Zhang, que joga e marca. O Benfica teve o Dabao, que é agora uma das estrelas da selecção da China. Mas não jogava. Por isso, não basta trazer um jogador de lá e esperar ter retorno. Ainda assim, acredito que será uma questão de tempo até isso acontecer nos grandes clubes portugueses.»

Rio Ave é o primeiro clube a formar aliança

Começar de dentro para fora. É esse o âmbito do protocolo estabelecido entre o Rio Ave e a Liga dos Chineses em Portugal, que representa milhares de emigrantes orientais no nosso país. Antes de mais, importa cativar essas pessoas.

«Em Vila do Conde, há cerca de 2.500 chineses. Mais um par de milhares nas zonas limítrofes e com negócios na cidade. Só que as gerações mais velhas não têm o hábito de gostar de futebol. As crianças sim. É essas que importa treinar e melhorar, para no futuro poderem entrar nas camadas jovens do Rio Ave e cativar pais e avós», acrescenta um de dois sócios da Football Pacific Consulting.

A empresa de gestão de carreiras participa neste protocolo entre o Rio Ave e a Liga dos Chineses. Para além disso, vai abrindo portas a Oriente.

«Temos um treinador português e seis jogadores numa equipa chinesa de futsal (Zhuhai Ming Shi F.C.). Como está a correr bem, outras portas abrem-se. Os chineses são fabulosos homens de confiança mas precisam de ter muita confiança nos parceiros para investir. São esses laços que estamos a reforçar», remata Miguel Lemos.