Se o FC Porto encontrou na primeira parte do seu jogo as bases para a vitória sobre o Sevilha, em Alkmaar, o Benfica fez praticamente o percurso inverso para construir um 0-1 que o deixa com excelentes perspetivas de confirmar as meias-finais na Luz. Em serviço especial para o Maisfutebol, Rui Catalão conta como foi o caminho da apatia até à tranquilidade. A mesma ideia é sustentada pelos números recolhidos pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona em trabalho de análise para a MF Total.

Apesar das evidentes diferenças de qualidade individual, a entrada em jogo algo sonolenta do Benfica traduziu-se no consentimento de demasiadas situações de perigo para o AZ Alkmaar, que até ao intervalo levou 23% dos seus ataques a zonas de finalização. Nessa fase inicial, o único indício claramente favorável aos homens de Jorge Jesus era a invulgar frequência com que os holandeses perdiam a bola numa primeira fase de construção (17%). Um dado que sugeria a multiplicação de oportunidades para a equipa portuguesa se esta conseguisse transmitir maior intensidade à pressão, como veio a acontecer depois do intervalo.

A apatia encarnada fez com que o AZ conseguisse oito situações de remate perante Artur, obrigado a fazer três defesas, duas delas com elevado grau de dificuldade. No outro lado do campo, Alvarado teve um primeiro tempo mais tranquilo, apesar dos seis remates conseguidos pelo Benfica, mesmo na sua pior fase do jogo.

Depois do intervalo, a superioridade do Benfica foi manifesta, e teve como chave a tal capacidade para recuperar bolas em zonas mais adiantadas: o AZ só chegou à área de Artur em 29% dos ataques, perdendo a bola ainda no seu meio-campo em 33% das vezes. Já o Benfica, quando foi desarmado, foi-o muitas vezes perto da área holandesa. Como consequência, as aproximações do AZ à baliza de Artur foram muito menos do que no primeiro tempo (só três remates depois do intervalo, e apenas um deles chegou à baliza) enquanto os encarnados visaram por sete vezes a baliza do AZ, com quatro situações de perigo objetivo, que poderiam ter deixado a eliminatória ainda mais sentenciada.

Duas últimas notas, que têm a ver com as situações ofensivas de bola parada. Por um lado, o Benfica foi praticamente inofensivo até ao intervalo (zero situações de remate), mas criou enormes dificuldades aos holandeses na segundaparte (três remates em oito situações do género). Por outro lado, o AZ dispôs de oito bolas paradas ofensivas, ao todo (quatro em cada meio tempo), com três delas a resultarem em contra-ataques relativamente perigosos do Benfica. Um sintoma da qualidade dos encarnados nas transições rápidas, mas também de alguma imaturidade na recuperação defensiva dos holandeses – dado que pode dar frutos numa segunda mão que, em teoria, obriga os holandeses a assumir alguns riscos na Luz.