Ponto forte: realistas e pragmáticos
A seleção dos Estados Unidos vive muito da orientação de Bradley e da irreverência de Dempsey, mas o talento destes dois jogadores é suportado pela união de uma equipa comprometida com a sua missão. Uma equipa realista, que conhece os seus pontos fortes mas que, acima de tudo, assume perfeitamente as suas limitações. E esse é um bom princípio para as esconder. E uma equipa que, neste contexto, sabe ser pragmática na abordagem ao jogo: opta por processos simples, sem tentar aquilo que não sabe, e procurando apanhar todas as «migalhas» que o jogo dá. Portugal tem mais talento, indiscutivelmente, mas para vencer terá sempre que igualar o adversário na atitude.

Ponto fraco: debilidade técnica
O futebol tem evoluído nos Estados Unidos, sobretudo no que diz respeito à visibilidade da Major League Soccer, mas ainda há um longo caminho a percorrer, e isso nota-se no ADN dos jogadores, nas lacunas ao nível da formação desportiva. E o principal problema é mesmo o baixo nível técnico de muitos jogadores, algo que procuram compensar com um elevado poder atlético e um espirito competitivo muito próprio.

Principal ameaça: Clint Dempsey
O «Capitão América» é a grande fonte de inspiração desta seleção americana. O jogador em quem os adeptos e os próprios colegas confiam para fazer a diferença no ataque. «Deuce», como também é conhecido, tanto pode jogar nas costas do ponta de lança como assumir ele próprio a função de jogador mais adiantado. É um elemento tecnicamente evoluído, positivamente agressivo na abordagem a todos aos lances, e um ótimo finalizador. Tanto aparece bem entre linhas, a criar desequilíbrio, como a cair no espaço entre os centrais e os laterais contrários. No jogo com o Gana sofreu uma fratura no nariz, mas com a ajuda de uma máscara vai tentar, uma vez, assumir o estatuto de super-herói.

Onze provável:



HOWARD: guarda-redes muito experiente, forte entre os postes mas algo lento a sair dos postes quando é preciso jogar como líbero e dobrar os «centrais».

FABIAN JOHNSON: nascido na Alemanha, está habituado a jogar em zonas mais adiantadas do terreno, e por isso a lateral mostra-se muito ofensivo. Foi o elemento com mais assistências na fase de apuramento (três). A defender não é tão forte, mas ainda assim é um elemento regular.

CAMERON: polivalente, joga a lateral direito no Stoke e já foi médio defensivo com Klinsmann, mas para este Mundial é a aposta do selecionador para central do lado direito, e frente ao Gana fez uma exibição muito sólida.

BESLER: está em dúvida para o jogo com Portugal, depois de ter sido substituído ao intervalo no desafio com o Gana. É um central mais limitado tecnicamente do que o parceiro, e menos forte no jogo aéreo, até pela estatura, mas com o mesmo nível de concentração e entrega.

BEASLEY: aos 32 anos, e com mais de cem internacionalizações, o esquerdino participa no quarto Mundial, e agora trocando o estatuto de extremo pelo de lateral. É um jogador com qualidade técnica, mas que apresenta evidentes fragilidades defensivas, e para compensar isso acaba até por prescindir um pouco da vocação ofensiva.

BECKERMAN: uma das revelações do Mundial até ao momento. Fantástica exibição frente ao Gana. Não tem grande poder físico mas na entrega é inexcedível, e parece estar em todos os lados em que é preciso «apagar um fogo».

BRADLEY: o jogador mais influente da equipa a seguir a Dempsey. Regressou recentemente à MLS, mas aos 26 anos tem já várias épocas de experiência no futebol europeu, com passagens por Heerenveen, Borussia Monchengladbach, Aston Villa, Chievo e Roma. Filho do antigo selecionador Bob Bradley, é o médio «box to box» que assume comanda a equipa, pegando no jogo junto aos centrais e depois aparecendo também em zona de finalização. Sem ele em campo, ou anulado pela equipa adversária, a qualidade de jogo dos «states» ressente-se inevitavelmente.

BEDOYA: também à procura do seu espaço no futebol europeu, este médio ofensivo joga tanto no centro do terreno como na ala, o que combina bem com a vocação ofensiva de Fabian Johnson. As recorrentes aproximações à zona central abrem espaço para a subida do lateral.

JONES: nasceu na Alemanha e chegou a representar esta seleção três vezes, mas em 2010 juntou-se à seleção americana. Joga preferencialmente como médio defensivo, mas neste Mundial aparece pela esquerda. Está longe de ser um flanqueador, mas é um elemento rigoroso defensivamente, tanto a fechar na zona central como a apoiar Beasley.

JOHANNSSON: com a lesão de Altidore deve aparecer como titular frente a Portugal. É um avançado tecnicamente evoluído, que defrontou o Benfica esta época, ao serviço do AZ Alkmaar, mas completamente diferente de Altidore. O habitual titular é um jogador muito forte fisicamente, possante, que segura bem o futebol direto que a seleção americana pratica muitas vezes. Johannsson está mais talhado para uma boa circulação de bola, para tabelar com os médios, para cair nas alas, etc.

Outras opções:

Caso Besler não recupere, o parceiro de Cameron no centro da defesa deve ser Brooks. Também nascido na Alemanha, este central entrou ao intervalo frente ao Gana e marcou o golo da vitória, assumindo assim estatuto de herói. A outra opção seria Omar González, um jogador mais forte na saída com a bola controlada, mas que até por isso é mais visto como o suplente de Cameron.
No que diz respeito à provável ausência de Altidore, e se Klinsmann não escolher Johannsson, a outra alternativa é o mais experiente Chris Wondolowski, de 31 anos, um jogador que finaliza muito bem.
A meio-campo destaque para Zusi, que teve um papel relevante na qualificação, com dois golos e duas assistências, aparecendo várias vezes como titular. Referência ainda para «Mix» Diskerud, um jovem médio nascido na Noruega, e que joga no Rosenborg.

Análise detalhada:
Os Estados Unidos jogam habitualmente em 4x4x2, ou 4x4x1x1, se tivermos em conta o posicionamento de Clint Dempsey como avançado mais móvel, a movimentar-se em redor da referência ofensiva. Portugal deve ter em conta sobretudo o aparecimento do capitão americano no espaço entre linhas, algo que falhou por completo na abordagem ao jogo com a Alemanha.

A seleção orientada por Jürgen Klinsmann tem muitas limitações na primeira fase de construção de jogo, tendo em conta as características dos centrais, o que faz com que muitas vezes aposte num futebol mais direto. Muitas vezes estes passes longos saem falhados, na verdade, mas o alvo é sempre Altidore, que em todo o caso falhará, ao que tudo indica, o jogo com Portugal. E Johannsson, como já foi referido, não tem a mesma capacidade para segurar jogo.

As dificuldades dos «states» para organizar o jogo ofensivo são ainda mais gritantes na ausência de Michael Bradley. Se Dempsey é o desequilibrador da equipa, o antigo jogador Da Roma é o organizador. Com ele em campo a equipa ganha maior capacidade de circulação de bola e os elementos mais ofensivos saem muito melhor servidos. Daí que seja importante reduzir a influência de Bradley, até porque Beckerman, o parceiro do lado, é mais um «bombeiro» a tentar compensar os desequilíbrios da equipa. Pouco ou nada participa na construção de jogo.

Importa ter em conta também a capacidade ofensiva do lateral direito Fabian Johnson, tendo em conta as habituais condicionantes com Cristiano Ronaldo nesse aspeto. O camisola 23 dos Estados Unidos aproveita muito bem a movimentação de Bedoya, que joga à sua frente mas procura muito o espaço interior. Do lado esquerdo acontece o mesmo com Jones, que até é um médio defensivo de raiz, mas DaMarcus Beasley tem-se mostrado muito menos influente ofensivamente.

O trabalho dos dois médios-ala dos Estados Unidos é muito importante na organização defensiva da equipa, normalmente em 4x4x2. Dempsey forma a primeira linha defensiva com o ponta de lança, e depois formam-se duas linhas de quatro elementos. A seleção de Klinsmann é relativamente sólida defensivamente, quando tem tempo para erguer o «muro», mas se a Seleção Nacional estiver ao seu nível então criará, por certo, imensas dificuldades a este adversário.

E o mais normal será a seleção americana adotar uma postura especulativa, à espera do erro português, mas refira-se que é uma equipa que apresenta muitas dificuldades a reagir à perda de bola e a recuperar posições, algo que Portugal pode também explorar, sempre que possível.

Os Estados Unidos têm uma equipa matreira, que também sabe tirar proveito dos lances de bola parada, que representaram quase metade dos golos da qualificação (11 em 26). Seis destes tentos surgiram de canto, a fórmula encontrada para garantir o triunfo sobre o Gana, na ronda inaugural.