«Andiamo a Berlino!», gritava o relatador Fabio Caressa aos microfones da Sky Italia.

A concretização do sonho italiano de voltar a um Mundial nasceu a 4 de julho, no relvado de Dortmund pelos pés de um herói improvável: Grosso, o Fabio com o papel principal nesta história.

Na meia-final, a anfitriã Alemanha, de Ballack e Klose, perante 65 mil espetadores (lotação reduzida por motivos de segurança) estava numa fase de transição para atual geração de ouro. Itália, pelo contrário, era uma seleção de um patamar muito superior à desbotada Squarra Azzurra dos nossos dias. Desses tempos sobraram apenas dois resistentes: Buffon, titular, e De Rossi, suplente não utilizado (na meia-final de 2006 e no adeus à qualificação para 2018 foi assim).

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FICHA DE JOGO

ALEMANHA: Lehmann; Friederich, Mertesacker, Metzelder e Lahm; Schenider (Odonkor, 83’), Ballack, Kehl e Borowski (Schweinsteiger, 73’); Klose (Neuville, 111’) e Podolski.

Selecionador: Jurgen Klinsmann.

ITÁLIA: Buffon; Zambrotta, Cannavaro, Materazzi e Grosso; Camoranesi (Iaquinta, 91’), Pirlo, Gattuso e Perrotta (Del Piero, 104’); Totti e Luca Toni (Gilardino, 74’).

Selecionador: Marcelo Lippi.

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Era a Itália de Pirlo e isso bastaria para fazer toda a diferença. E de Totti, de Del Piero, de Cannavaro…

Uma Itália com pose de candidata, dominadora, que começou o jogo a dominar e que no prolongamento carregou ainda mais no acelerador. Quando não embatia no muro alemão, era no ferro… Gilardino ao poste, seguido de Zambrotta à barra. Nem o tempo extra parecia trazer justiça a um jogo que ameaçava só desempatar-se da marca dos 11 metros.

Até surgir aquele canto que viria a sobrar para um cisne – permitam-nos pela leveza de movimentos e graciosidade definir Pirlo assim.

Cannavaro (coisa estranha isto de um central bater um canto) cobra sobre a direita para a área, onde aparece Friederich a antecipar-se a Gilardino, aliviando para a meia-lua da área. Ainda sem o saber, entrega o ouro ao bandido: está lá Pirlo para receber o presente.

O resto é plano do Arquiteto… E pé de obra de Grosso.

O 21 domina com o pé esquerdo e espera o momento certo: um, dois, três, quatro toques e… passe. A bola passa debaixo do nariz de Metzelder e encontra na área Grosso, que se posicionava para receber a assistência. O resto é tudo mérito do lateral esquerdo. Sem tempo nem espaço para preparar o remate naquela zona Grosso desfere um pontapé de primeira, cruzado e a meia altura. Com Ballack à sua frente encolhido, o que lhe sai do pé esquerdo é uma bomba teleguiada para fazer explodir a alegria italiana.

Golo! 1-0 aos 119 minutos!

Diante daquela mítica parede do Westfallenstadion, tingida de branco nacional na vez do amarelo Borussia, Grosso derrubou o muro germânico.

Golpe de teatro? Talvez. Mas ainda havia mais um ato, que se cumpriria dois minutos depois graças a um chapéu notável do artista Del Piero, entrado já no prolongamento.

«Andiamo a Berlino!», gritava Caressa. E em Berlim voltaria a ser Grosso o protagonista ao marcar a grande penalidade decisiva na final diante da França, que valeu à Itália o quarto título mundial da sua história.

O sonho, porém, começou a ganhar forma cinco dias antes, em Dortmund, a 4 de julho. Após essa meia-final nas ruas de Roma os adeptos fizeram um funeral à Mannschaft.

Tudo isso são memórias de uma bella Italia que já não volta.

Hoje, a Alemanha é campeã do mundo em título. 60 anos depois, a Squadra Azzurra está fora do Mundial.

Golo de Fabio Grosso:

Golo relatado por Fabio Caressa na televisão italiana:

Resumo do Itália-Alemanha em alta definição: