I can't believe it, I can't believe it! Football, bloody hell! Alex Ferguson sorria como um menino na entrevista rápida depois do apito final de Pierluigi Collina. Dois golos nos descontos davam o título europeu ao Manchester United e contradiziam a velha máxima que lembrava a toda a gente, há algum tempo, que «no final ganhavam sempre os alemães». Não o foi dessa vez, e foi duro para Matthäus, Effenberg e os outros. O veterano perdia a sua última oportunidade de ganhar a Taça da Liga dos Campeões, o único grande troféu que lhe faltava, e chorava no banco, depois de nada ter podido fazer para evitar o descalabro nos minutos finais.

26 de maio de 1999. Barcelona cantada por Monserrat Caballet em cima de um carrinho de golfe (e pelo falecido Freddy Mercury, em vídeo) incendiou a cerimónia de abertura. Mais de 90 mil nas bancadas do Camp Nou. Quarenta mil ingleses e talvez mais dez mil nas ruas da cidade, à espera que Ferguson voltasse a fazer magia. De um lado o Manchester United, do outro o Bayern Munique, e com algo em comum: nunca nenhum deles tinha conseguido o
treble , a conquista de campeonato, Liga dos Campeões e Taça nacional. Uma frase ficaria sublinhada para sempre nesse dia. «Never say die.» Porque o United estava morto e enterrado já nos descontos da final, e Alex Ferguson mudou tudo com duas substituições e o Fergie-time . E Solskjaer, o baby-face killer , fez mais uma vez jus ao nome.



Final entre não campeões, com baixas de vulto

Os «Red Devils» apresentavam-se na Catalunha com duas baixas de vulto no meio-campo. Roy Keane e Paul Scholes estavam castigados. E, na defesa, era Berg a baixa, por lesão. Do outro lado, Ottmar Hitzeld não tinha o francês Lizarazu e o brasileiro Elber, que tinham terminado a época mais cedo com lesões nos joelhos. Desde o início, os bávaros começaram a mostrar a sua força física, com os adversários a tentar sair em velocidade, motivados com o que Ryan Giggs tinha feito nos últimos encontros da época, e reunidos à volta de um novo
playmaker , de nome David Beckham. Mas Jeremies e Effenberg corriam a todas as bolas e conseguiam controlar o rival à distância. O veterano Matthäus também ajudava a equilibrar a equipa como líbero. Quando os de Ferguson se aproximavam, era Kahn, um dos melhores guarda-redes do mundo, que dizia presente. Hitzfeld também era um treinador confiante, anunciara o seu onze 48 horas antes do embate.

Era a segunda época em que clubes não campeões tinham acesso à prova milionária, e tanto o Manchester United (o campeão da época anterior era o Arsenal) como o Bayern (o Kaiserlautern venceu em 1997/98 a Bundesliga) gozavam desse estatuto, embora tenham chegado a Barcelona já com as novas faixas. Na competição propriamente dita, o United tinha passado a fase de grupos com dificuldade, atrás deste mesmo Bayern, como um dos dois melhores segundos (a seguir ao Real Madrid). No entanto, tinha conseguido o melhor ataque da primeira fase, com 20 golos marcados. Depois, eliminaria o Inter (2-0 e 1-1) e a Juventus (1-1 e 3-2). O Bayern, por sua vez, ganhara o Grupo D com mais um ponto que o United, e a seguir eliminara os compatriotas do Kaiserslautern (2-0 e 4-0) e o Dínamo Kiev (3-3 e 1-0). No seu grupo, os finalistas tinham empatado os dois encontros (1-1 em Old Trafford, 2-2 na Alemanha), o que prometia equilíbrio para a partida decisiva. No que ao currículo diz respeito, os britânicos contavam apenas com um troféu, em 1968, enquanto os germânicos já tinham três, todos seguidos, de 1974 a 76, além de terem sido finalistas vencidos em 1982 e 1987.

Como o tri foi ganho:

Basler e Babbel enganaram Schmeichel

Seis minutos, e o Bayern adiantava-se no marcador. O norueguês Ronny Johnsen derrubou Jancker à entrada da área. Mario Basler encarregou-se do livre e contou com a preciosa colaboração de Babbel num dos extremos da barreira, tapando a visão de Peter Schmeichel, capitão na ausência de Keane e na sua despedida de Old Trafford - em final de contrato, rumaria a Alvalade e ao Sporting. O Grand Danois deu um passo para a direita no momento do remate, a bola passou por cima de Babbel e não lhe deu hipótese de defesa. Os «Red Devils» tentaram assumir o jogo, mas não era fácil. Com Jeremies a mostrar todo o seu pulmão, os ingleses não conseguiram chegar muitas vezes perto de Kahn durante praticamente toda a primeira parte.

Sempre num ritmo muito elevado, o encontro entrou na segunda metade. Jancker continuava a incomodar Johnsen e Stam, e até mesmo Schmeichel. Mas o United também ameaçava mais que antes. Blomqvist falhou a melhor oportunidade até aí aos 57 minutos, e os ingleses começaram a acreditar. Teddy Sheringham seria a primeira opção de Ferguson para inverter o resultado, tirando o sueco. Estavam assinalados 67 minutos.

Schmeichel gigante, e os ferros, claro!

O que se passou a seguir foi a vertigem total. Os ataques viraram parada e resposta, com a sorte a brindar os homens de Alex Ferguson várias vezes. Schmeichel brilhou com três grandes defesas, e Schöll e Jancker atiraram bolas ao poste (que belo chapéu!) e à trave (uma bicicleta em apoio), esta aos 84 minutos. Os alemães não conseguiam matar o jogo.

A dez minutos do fim, já tinha saído Matthäus, esgotado. E entrado Solskjaer do outro lado. E o Manchester United sentiu-se protegido pela sorte e por os melhores homens do Bayern estarem a ser retirados de campo (Basler também seria rendido aos 89 minutos).

Solskjaer, defendeu Kahn. Sheringham, defendeu Kahn. Yorke falhou a emenda. Solskjaer de cabeça, novamente Kahn. Schmeichel também respondia do outro lado, já se disse. O jogo estava frenético. 



E tudo virou em três minutos

Enquanto se iam colocando enfeites do Bayern na Taça e os adeptos bávaros acendiam tochas a comemorar, os ingleses continuavam a acreditar. O quarto árbitro assinalava os três minutos de descontos. E Effenberg era obrigado a ceder canto, para evitar mais um cruzamento da esquerda. Era o tudo por tudo. Schmeichel chegou à área rival, Beckham marcou a pedir resposta à altura do guarda-redes. A bola sobrou para Yorke, Fink aliviou de forma incompleta e a bola caiu à entrada da área. Em cima do pé direito de Giggs. Que azar para o galês! Ou seria sorte? O remate saiu frouxo, mas apanhou Sheringham mais à frente, sem marcação, para a emenda. Incrível! Fora de jogo? Todos olharam para o auxiliar, mas nada. O Manchester United empatara mesmo.

A bola foi ao centro. Um pontapé para o ar e, quase sem se perceber como, a bola chega a Solskjaer na esquerda. O norueguês ganha o canto na luta com Kuffour e a multidão enlouquece. Percebe o que vai acontecer. O comentador tem a premonição. «Este é o ano deles!» Beckham outra vez, Sheringham reage melhor que Linke e desvia para o segundo poste, onde Solksjaer, apertado por Kuffour, atira para as redes. O ganês atira-se para o chão a chorar e a bater na relva. Também Jancker está inconsolável. Matthäus, que tinha perdido a final de 1987 para o FC Porto também por 2-1 (e com golos no último quarto de hora, aos 79 e 81 minutos) e novamente depois de os alemães terem marcado primeiro, é procurado pelas câmaras. O olhar está preso no vazio.

Os últimos três minutos da final, vistos atrás da baliza do Bayern:


Daí a uns minutos, Peter Schmeichel e Alex Ferguson erguem a Taça em conjunto. E o jogo entra para a história. Como dizem os ingleses, que grande
comeback! O melhor de sempre!

MANCHESTER UNITED – Schmeichel; Gary Neville, Johnsen, Stam e Irwin; Beckham, Butt, Giggs e Blomqvist (Sheringham, 66); Cole (Solskjaer, 80) e Yorke
Não utilizados: Van Der Gouw, May, P Neville, Brown e Greening

BAYERN MUNIQUE - Kahn; 
Matthäus (Fink, 79); Babbel, Kuffour, Linke e Tarnat; Jeremies e Effenberg; Basler (Salihamidzic, 88); Jancker e Zickler (Schöll, 70)
Não utilizados: Dreher, Helmer, Strunz, Daei

O jogo completo: