A imagem é de festa e tem um reverso, de desilusão. Uma e outra contam o final de uma história intensa, numa madrugada em Sydney perante 104 mil espectadores nas bancadas. O primeiro ouro olímpico da história dos Camarões, a vitória no torneio de futebol de 2000 com reviravolta sobre a favorita Espanha. Uma bela decisão de futebol de verão. Sem a carga de um Campeonato do Mundo, sem o peso emocional de uma decisão que nos é próxima como a de Praga esta noite ou a de Hamilton há duas semanas com os sub-20, mas com tudo dentro.

Um bom resumo também do que é o torneio olímpico de futebol, essa espécie de primo afastado das grandes competições, mas uma das poucas provas à escala planetária. Essa prova onde Portugal vai estar apenas pela quarta vez na sua história no Rio 2016, mesmo que por agora, no meio da desilusão pela final do Europeu sub-21 perdida em Praga, isso possa parecer fraco consolo.

Esta é a história da vitória dos Camarões, apenas a segunda de uma seleção africana, quatro anos depois da Nigéria nos Estados Unidos. Ainda assim, mais recente que a última vitória de uma seleção europeia: essa foi da Espanha, em casa, Barcelona 1992.

Era 30 de setembro de 2000, as primeiras horas desse dia pelo horário europeu. Jogava-se a final num imenso estádio cheio, com os alegres Jogos Olímpicos australianos a queimarem os últimos cartuchos.

Para trás já tinham ficado muitos dos favoritos, incluindo o Brasil, eternamente à procura do ouro olímpico, que nunca ganhou. Esse Brasil, que tinha Helton na baliza e onde jogava um tal de Ronaldinho, tinha caído nos quartos de final, precisamente frente aos Camarões. Que seguiram alegremente, afastando na meia-final o Chile.

Na decisão defrontavam a Espanha de Puyol, o então benfiquista Marchena ou Xavi. Sim, ele mesmo. O jogo ainda não levava um minuto já a Espanha se via a vencer, precisamente num livre batido por Xavi.


A vantagem da «Roja» podia ter aumentado logo de seguida, aos três minutos, mas um então adolescente Kameni (16 anos!), na baliza dos Camarões, travou um penálti batido por Angulo.

Esse momento deu alento aos Camarões, adotados pela maioria dos adeptos no Olímpico de Sydney. Ainda assim, foi a Espanha quem voltou a marcar, um golo de Gabri em cima do intervalo.

Mas a história estava longe de acabar.  Aos 53m, Amaya acabou a introduzir a bola na sua baliza, depois de um remate de Mboma. E cinco minutos mais tarde um então jovem Samuel Etoo, 19 anos por essa altura, marcava o 2-2 e fazia o jogo voltar ao ponto de partida.


 

As coisas complicaram-se mais ainda para a Espanha quando Gabri viu vermelho, aos 70 minutos. Os Camarões ganhavam confiança, mesmo que ela não tenha resultado em golos. O prolongamento chegou e com ele, logo a abrir, a segunda expulsão para a «Roja», por duplo amarelo a Jose Mari. À Espanha restava tentar não deitar tudo a perder, os Camarões não conseguiram fazer valer a vantagem numérica mas levaram a decisão para os penáltis.

O vilão dessa madrugada foi Amaya, que atirou a bola à trave.


Mais ninguém falhou e quando Wome converteu a quinta grande penalidade, os Camarões ganharam direito à sua primeira festa olímpica.

A Espanha chorava a derrota, no tempo em que a «Roja» ainda não era a máquina de ganhar que seria daí por uma década, mas já tinha alguns dos protagonistas do seu futuro de sucesso. Dessas lágrimas saíram muitas vitórias, é essa a esperança, é isso o desporto.  


Recorde aqui a final olímpica de 2000 e a ficha de jogo