Dentro do campo, são os únicos que não têm adeptos. Qualquer decisão é criticada e qualquer distração é notada, porque têm sempre de apitar para um dos lados, contra o outro. Ouvem insultos, são agredidos e sabem que ninguém gosta deles, seja em que modalidade for. No entanto, os árbitros portugueses, orgulhosos da nomeação de Pedro Proença para a final da Liga dos Campeões deste sábado, garantem que nada lhes dá maior prazer.

Há quem diga que é o melhor árbitro português de todos os tempos. Carlos Ramos, de 41 anos, já apitou finais singulares em Wimbledon e Roland Garros, no Open dos Estados Unidos e no da Austrália, uma espécie de Grand Slam da arbitragem. «Quando era miúdo não queria ser árbitro, nenhum miúdo quer», admitiu, ao Maisfutebol.

Começou como jogador no Clube de Ténis do Jamor, mas, aos 16 anos, experimentou apitar num torneio, porque «ganhava um bom dinheiro para pagar as raquetes». «No primeiro dia em que pisei um campo como árbitro, gostei logo», contou.

Carlos Ramos formou-se como árbitro e foi subindo de categoria. Por «razões pessoais», mudou-se para França em 1996, o país com «a melhor arbitragem de ténis do mundo», mas garante que «teria tido as mesmas possibilidades em Portugal». «Temos bons eventos de ténis, com excelentes condições, para nós são ideais. Por isso é que temos bons árbitros».

Foi subindo de categoria, e, em 1991, tornou-se árbitro profissional. « Foi o meu primeiro e único emprego, até deixei de estudar para arbitrar. Foi uma boa aposta». Lamenta que seja «uma profissão ingrata», porque «um segundo de desatenção» é suficiente para estragar uma boa exibição. «Mas dá-nos muito prazer», assegura.

No entanto, até num desporto como o ténis, em que o fair-play marca a diferença, e mesmo sendo um dos árbitros mais respeitados do mundo, Carlos Ramos também já teve de enfrentar a ira de um jogador. Neste caso, Alexander Dolgopolov.



Sobre a arbitragem, puxa a brasa à sua sardinha. «Temos três árbitros reconhecidos internacionalmente (eu, o Carlos Sanches e a Mariana Alves - o trio que vai aos Jogos Olímpicos de Londres), mas temos falta de bases, porque agora há um buraco grande entre os melhores e os outros. Falta classe média nos árbitros de ténis», brinca.

Quanto à nomeação de Pedro Proença, Carlos Ramos destaca que «é fruto não só de um muito bom trabalho a nível pessoal, mas também é sinal que há um sistema que funciona».

Fica satisfeito por ver que o «papel da arbitragem está a ser mais reconhecido» e dá o exemplo francês, em que um árbitro «é reconhecido como agente de autoridade na lei», tornando mais severos os castigos para quem os ameaça de qualquer maneira.

Carlos Ramos, árbitro já elogiado por jogadores como Roger Federer, Rafael Nadal e Novak Djokovic, propõe ainda que se promova um «encontro entre árbitros portugueses» das várias modalidades. «Era giro para nos conhecermos», diz.

Aos 41 anos, o português promete continuar a pisar os principais palcos do ténis. «Nesta modalidade, não temos limite de idade, mas há uma seleção natural. Com a idade, começamos a perder os reflexos e a credibilidade. Um erro hoje é só um erro, daqui a 10 ou 15 anos é por estar velho».

Para os mais novos, o árbitro deixa um aviso e um conselho: «A arbitragem não é feita de jogadores falhados. Vejam-na antes como uma forma muito interessante de estarem envolvidos no vosso desporto preferido. Olhem para mim: segunda-feira vou para o meu 20º Roland Garros. E eu adoro ténis...», conclui.