Portugal tem dos melhores jogadores, treinadores e árbitros do mundo. É a profissão que nenhum miúdo quer ter quando for grande, mas tem as suas «coisas boas». Conheça melhor dois dos homens do apito que mais bem têm representado o nosso país lá fora.

Nuno Bogalho tem 36 anos e é funcionário da Câmara Municipal de Coimbra. Até aqui nada de extraordinário, não fosse o seu «hobbie», como lhe chama, apitar jogos de futsal. «O árbitro é o único que não tem adepto, qualquer decisão é sempre contra qualquer equipa, nunca agrada. O árbitro não é a pessoa mais bem vista no desporto, mas sem árbitros não se realizam os jogos», afirma, ao Maisfutebol.

Tirou o curso em 1999/2000, nas modalidades de futsal e futebol. Foi apitando a nível regional nas duas, até que chegou a hora de «optar». «Apaixonei-me pelo futsal e hoje não me arrependo», assegura.

Foi «sempre degrau a degrau», até chegar à primeira categoria nacional e à nomeação para internacional, em 2011. Em pouco mais de um ano, esteve no apuramento para a UEFA Cup, no Europeu Universitário e nos jogos de preparação para o Europeu. «Ainda tenho de esperar mais algum tempo para chegar aos árbitros de elite. O objetivo é chegar ao ponto mais alto: aos Europeus, aos Mundiais, às fases finais de competições de clubes».

Em relação à arbitragem de futsal, Nuno Bogalho lamenta que seja «uma modalidade muito desgastante», mas admite não ter «muitas dificuldades», porque tem «as suas coisas boas», e até aconselha os jogadores: «Se tiverem oportunidade, tirem o curso e atuem nem que seja só um jogo para sentirem o poder de decidir, bem ou mal».

Sobre a nomeação de Pedro Proença para a final da Liga dos Campeões deste sábado, acredita que «é o coroar da arbitragem profissional portuguesa» e que vai «arrastar todas as modalidades» para terrenos positivos.

«Temos sempre bons árbitros, nas várias modalidades, em competições internacionais. Estamos a trabalhar bem e as pessoas estão a fazer as apostas certas nos momentos certos. Peço só uma maior compreensão por parte das pessoas, sobretudo dos dirigentes, já nem falo dos comentadores. Tenham contenção nas palavras, sejam mais compreensivos», apela.

Do futsal para o voleibol. António Vaz de Castro, de 55 anos, tem uma das carreiras mais longas da arbitragem portuguesa. Começou em 1976/1977, como «voluntário» da Académica de Coimbra. «Ia treinando normalmente e, quando faltavam árbitros, alguém tinha de apitar...», recorda, ao Maisfutebol.

Acabou por tirar um curso «em 1978 ou 79» e foi subindo gradualmente de categoria até chegar a internacional em 1991. Apitou na Liga Mundial em 2001, no Europeu de 2005, na Final Four da Liga dos Campeões em 2010/2011 e em várias competições internacionais no voleibol de praia.

«Foi fácil impor-me a nível internacional, o nível técnico e intelectual permitia-me estar à vontade. A dificuldade foi nunca ter atingido o topo, os Jogos Olímpicos. A Europa tem contingentes para a praia e o pavilhão e há outros valores que se levantam, como os patrocinadores. Dentro dos critérios para quantos árbitros europeus é que vão, muitas vezes não entra o mérito», lamenta.

Para as Olimpíadas de Londres, foi agora nomeado outro português, Rui Carvalho. «Eu agora estou reformado, atingi o limite de idade para o voleibol internacional», explica, continuando a apitar a nível interno. «O limite são os 60 anos. Enquanto me sentir com as condições físicas e intelectuais necessárias, vou fazê-lo».

Questionado sobre o estado da arbitragem nacional, diz que se nota um «percurso consolidado», que «tem evoluído bastante». Acredita que a escolha de Proença «vai servir de incentivo» a outros e que é necessário «vocacionar» os jovens para a atividade. «É natural que nos próximos tempos surjam mais árbitros, bons árbitros».