O futebol está desde sempre no caminho de Bracali. A baliza nem tanto. Foi o pai, Armando, «o verdadeiro Bracali», como revelou, que o acabou por convencer a escolher a posição.

Iniciou-se no Paulista, de Jundiaí, onde começou por ser «o filho do treinador» e de onde saiu como ídolo para o Nacional da Madeira.

Seguiu-se o FC Porto e o Olhanense, «o maior erro» de uma carreira que ainda está longe de terminar, adianta em entrevista ao MAISFUTEBOL.

 
Apesar de jogar futebol desde criança, apenas se tornou guarda-redes na adolescência. O que o levou finalmente a optar pela posição?
Adorava jogar futsal e futebol (jogava a trinco), mas sempre como jogador de campo. Houve um dia em que o meu pai foi ver um jogo e disse-me «dificilmente serás profissional de futebol; tens mesmo que estudar…», mas eu sabia que ele queria que eu fosse para a baliza. Ele tinha sido guarda-redes do Santos, do Atlético Paranaense e já era treinador de guarda-redes dos seniores do Paulista, clube da minha cidade (Jundiaí, no interior de São Paulo). Convidou-me para ir lá treinar e no final sentenciou: «Perfil e jeito tens. Tens só de crescer mais um pouco. Agora é contigo…» Fui fazer um teste às camadas jovens onde já estava o Artur (que viria a ser guarda-redes do Benfica) e fiquei. Mesmo assim, continuei a estudar. Licenciei-me em educação física numa altura em que já era sénior do Paulista.

Lembra-se de algum conselho que o seu pai lhe deu?
Disse-me um dia: «Nunca treines apenas para ser mais um.» Sigo esse conselho até hoje.

O seu pai chegou a ser seu treinador. Foi uma relação fácil?
Os «corneteiros» na bancada criticavam no início, mas depois firmei-me como titular, fiz quase 150 jogos pelo clube e cheguei a capitão. Vencemos a Taça do Brasil – um feito notável para uma equipa da 2.ª divisão brasileira – jogámos a Taça Libertadores… Tornei-me ídolo do Paulista.

E foi assim que veio parar ao Nacional da Madeira, clube que mais marcou a sua passagem por Portugal. Como recorda essa altura?
Fiquei à espera de um grande clube brasileiro, mas apareceu o Nacional a propor-me cinco anos de contrato. As pessoas no Paulista libertaram-me por um preço muito baixo, uns 200 mil euros, com a condição de ficarem com 50% do passe.

Custou-lhe a adaptação a Portugal?
No início, não jogava. Era suplente do Diego Benaglio. Era muita coisa diferente. Até nos faltou um treinador de guarda-redes e eu arranjei um que tinha sido estagiário do meu pai. Além disso, sentia falta do carinho dos adeptos e de outras coisas básicas: até o feijão eu trazia na mala. Pensei até em desistir, mas depois da primeira época comecei a fazer amigos, a jogar e passei a gostar de viver em Portugal.

Nesse período de cinco anos foi treinado por Carlos Brito, Jokanovic, Manuel Machado... Algum preferido?
O que mais me marcou foi o Manuel Machado. É muito seguro, educado… Sem precisar de gritar consegue passar a mensagem.

E jogos, algum que o tenha marcado?
A eliminatória da Liga Europa em que afastámos o Zenit. Nunca uma pequena equipa portuguesa tinha entrado na fase de grupos através da eliminatória. Mas pelo Nacional cheguei a fazer 104 jogos seguidos na Liga, por exemplo. Não sei se é um recorde... Fui feliz lá.

Suponho que bem mais feliz do que no Olhanense, onde jogou por empréstimo do FC Porto em 2012/13…

Se pudesse voltar atrás não tinha ido. É o pior da minha experiência em Portugal; o maior erro da minha carreira. 

O que correu mal em concreto?
Em 12 meses recebemos três ou quatro… Houve greve de jogadores, colegas que não conseguiam pagar a renda e tinham os senhorios a bater-lhes à porta. Nesse aspeto, eu estava tranquilo porque estava cedido e era pago pelo FC Porto. Mas o dia-a-dia era difícil. Andávamos uma hora atrás de campos disponíveis para treinar… Não caímos naquele ano porque tínhamos jogadores que respeitavam a sua profissão, mas aquilo foi deixado no mais puro amadorismo. Apesar de tudo, até conseguimos empatar no Dragão, num dos poucos jogos em que o FC Porto perdeu pontos nessa época.

Depois disso, já passou pela Grécia e regressou a Portugal para jogar no Arouca. Aos 34 anos, pensa em terminar a carreira?
Quero é jogar mais tempo. Se regressar ao Brasil será só para fazer um jogo de despedida no Paulista. Depois, não faço ideia do que fazer… Sou licenciado em educação física e certamente farei o curso de treinador. Quero ficar por Portugal. É o meu mercado, as pessoas já me conhecem, além disso é o melhor para a família.