O único jogo da terceira eliminatória da Taça de Portugal entre equipas da Liga precisou de 120 minutos e oito grandes penalidades de desempate para ficar decidido. A história terminou muito diferente do que começou entre Académica e Belenenses. Ao fim da primeira parte era tudo azul, depois virou. Grande alma da Académica, que segue em frente na prova que lhe é tão querida.

Este é um clássico do futebol português, mas curiosamente as duas equipas não se defrontavam para a Taça de Portugal há quase 40 anos. Reencontraram-se numa tarde de outono no Restelo, com demasiado azul das cadeiras à vista nas bancadas. Estavam apenas algumas centenas de espectadores.

Ambas as equipas chegavam aqui com algumas limitações, e chegavam em momentos diferentes. O Belenenses a recuperar ânimo depois do mau arranque neste regresso à Liga e depois de viver o momento difícil que foi a doença e a paragem forçada de Van der Gaag, que teve de abandonar o banco. A Académica sem ganhar há três jogos para a Liga, mas com a motivação de a única vitória que somou para o campeonato ter sido precisamente frente ao Belenenses. O problema é que não voltou a ganhar desde então.

Falta apresentar o relvado do Restelo. Está em muito mau estado, com peladas e muita areia, e convém dizê-lo porque condicionou muito o jogo. Nestas condições, entrou melhor o Belenenses. Os homens do Restelo pegaram na bola e foram eles que tomaram conta dela durante quase toda a primeira parte, perante uma Académica apática e incapaz de sair a jogar.

Se era a partir das alas, com Marinho e Diogo Valente, que Sérgio Conceição esperava conseguir ganhar desequílibrios, não se confirmou. O relvado terá culpas, é por ali que está mais difícil jogar, mas isso não explica tudo. O Belenenses conseguiu fazê-lo, apesar de tudo, em conbinações frequentes entre Arsénio, Fredy, Miguel Rosa e Sturgeon, nos últimos tempos adaptado a ponta de lança.

Fredy deu um primeiro aviso logo aos seis minutos, quando fez a bola passar perto do poste. Mas houve mais, livres batidos por Miguel Rosa, um cabeceamento de Diakité e outro de Sturgeon. E, aos 39 minutos, o golo. Fredy aproveita uma perda de bola de Marinho e remata forte. Era mais que merecido o golo do Belenenses, que até podia ter feito mais. Não fez, pagou por isso.

É que, mesmo a despedir-se da primeira parte, a Académica deixou um aviso. Esteve muito perto de marcar, num lance de insistência em que a defesa do Belenenses acaba por afastar o remate de Ogu.

Talvez tenha sido um sinal. O facto é que foi tudo diferente no segundo tempo. Sérgio Conceição tirou Ogu e o capitão Marinho, meteu Cleyton e Abdi, a Académica trouxe do balneário uma atitude totalmente nova e virou o jogo. 
Com a Académica a crescer, o Belenenses encolheu-se. E a Briosa chegou ao golo do empate aos 50m. Foi Diakité quem acabou por introduzir a bola na sua baliza, depois de um cruzamento de Djavan e de ela tabelar em Abdi e Rafael Oliveira.

Mas havia mais. Com o Belenenses a ver jogar, Fernando Alexandre consumou a reviravolta aos 62m, num grande remate de longe. No Belenenses, Marco Paulo mexeu, tirou Sturgeon e fez entrar Tiago Silva. E o Belenenses chegou ao 2-2 de penálti, depois de o árbitro assinalar falta de Aníbal Capela sobr João Afonso. Bateu Fredy.

À medida que o Belenenses reagrupava fileiras, o jogo entrava num ritmo louco. Ainda houve um segundo penálti, a penalizar falta de João Afonso sobre Cleyton. Mas o jogador da Académica permitiu a defesa de Matt Jones.

Nada feito. As duas equipas de Liga frente a frente nesta ronda de Taça não iam ficar por ali. Foi preciso jogar um prolongamento. Que baixou, e muito, o ritmo. Sem história, à espera das grandes penalidades.

E os penáltis sorriram à Académica e deixaram o Belenenses a amaldiçoar os postes. Primeiro João Afonso, a seguir Diawara, remataram ao ferro. 2-4 nos penáltis, a festa segue para Coimbra.