Que azar, estará a estas horas a lamentar Rui Rego, guarda-redes do Beira Mar. O primeiro dos dois golos que sofreu no último domingo, em Arouca, só pelo lance em si já justificava o desabafo do guardião, mas houve mais: o autor do remate não marcava há dois anos e meio.
«Faço poucos golos, até por que jogo como médio defensivo, mas têm sido decisivos. O último tinha sido pelo Fafe, em Famalicão. Ganhámos por 3-0 e conseguimos nesse jogo a subida da III para a II Divião», conta envaidecido ao Maisfutebol, Bijou, que reconhece a felicidade do remate a quase 50 metros da baliza:
«Tenho treinado livres e achei que o jogo estava propício a meter a bola na área, para que algum colega a pudesse desviar. Com sorte, foi para a baliza e o sol deve ter perturbado o guarda-redes. Quando olho, só a vejo a bater nas malhas laterais.»
Um momento de fortuna do mais recente herói arouquense, como aquele que conheceu há uns anos, quando deixou Cabo Verde para jogar nos juniores do Benfica. «Fui à inspeção e quando viram o meu nome, Davidson Coronel, disseram-me que ficava livre. Com um apelido assim, não podia ir à tropa», conta, entre risos.
Já a alcunha, ficou a devê-la a uma personagem de uma novela, que passou na televisão do arquipélago, quando ainda era criança. «Foi uma coisa de família. Como passava muito tempo a chorar, puseram-me o nome dessa figura», explica.
As lágrimas da mãe e a profecia que não se concretizou
Em Cabo Verde, Bijou sonhava em ser jogador de futebol. Sabia que, um dia, poderia ser alguém na modalidade, mas a mãe, zelosa, não via futuro na quimera do filho e queria antes que estudasse. «Ela só me deixava jogar na EPIF [Escola de Preparação Internacional de Futebol], porque ai promoviam a integração dos jovens na sociedade.»
A profecia da progenitora não se concretizou e Bijou acabou por seguir o seu rumo fazendo aquilo que mais queria. «Falo muito com ela, está agora nos Estados Unidos, e sente-se muito orgulhosa de mim. Depois do jogo, liguei-lhe, e até chorou ao telefone ao saber que marquei o golo», revela, com emoção.
No Benfica de Fernando Santos, ao lado do ídolo
A entrada de Bijou em Portugal deu-se, como já se explicou, pelas portas da Luz. Jogou nos juniores e na equipa B. Pelo meio, em 2006, ainda foi chamado para a o estágio de pré-época, na Suíça, sob o comando de Fernando Santos. «Foi no ano do regresso do Rui Costa e tive o privilégio de estar com o meu ídolo, o Manuel Fernandes», recorda.
«Da formação, fui eu, o Tiago Gomes, o Canales e o João Coimbra, mas só este último ficou no plantel. Não me deram muitas oportunidades de jogar, mas não guardo rancores. Aprendi muito e tentei disfrutar ao máximo. Privei com jogadores que estava habituado a ver apenas na televisão», acrescenta.
Passados alguns anos, o cabo-verdiano confessa que gostaria de reencontrar os encarnados. «Mas não nesta fase», atalha, de pronto. «Se for outra equipa da Liga, que nos calhe em casa. Já que chegámos aqui, queremos ir ainda mais longe. Vamos pensar jogo a jogo, encarando-os sempre para ganhar e depois logo se vê», afiança.
«Em conversa com um colega, antes do jogo com o Beira Mar, disse-lhe: se já marquei num jogo que valeu uma subida, por que não agora fazer um golo que nos possa levar à final? Numa altura de crise como esta, ao menos para sonhar não precisamos de pagar imposto», gracejou. Nem mais.
Recorde a proeza do Arouca de Bijou
Clemente, o especialista da Taça