Pedro Caixinha mereceu a confiança dos responsáveis do Santos Laguna. Um europeu no campeonato mexicano. Uma realidade pouco habitual, enormes dificuldades em perspetiva e o sucesso a justificar a aposta no português.

Nesta altura, a equipa de Torreón ocupa o quarto lugar na Liga Mexicana e chegou às meias-finais da Liga dos Campeões da CONCACAF, depois de ter afastado o Houston Dynamo dos Estados Unidos.

«Tive de trabalhar para mudar algumas coisas, mudar mentalidades. Não foi fácil mas agora já se interrogam como é que um europeu conseguiu resultados tão positivos em tão pouco espaço de tempo», frisa Caixinha.

O apoio da estrutura do clube foi importante: «Estou a lidar com pessoas de tremenda idoneidade no clube, é difícil de encontrar uma estrutura melhor, com todas as condições para trabalhar. É um casamento perfeito.»

O deserto na rota do tráfico de droga

O Maisfutebol marca o número combinado mas é Hélder Baptista, antigo médio e atual adjunto do treinador, quem atende o telefonema. Minutos depois, Pedro Caixinha em discurso direto.

«As condições são boas mas Tórreon está no meio do deserto. Depois, há a insegurança provocada pelo facto de estarmos na rota do tráfico de droga. Há uma luta dos cartéis por território mas notava-se mais até há cerca de um mês, quando houve um reforço policial», admite.

O treinador português está ciente dos riscos: «Não estamos livres de acontecer alguma coisa mas as pessoas do clube tudo fazem para contribuir para essa tranquilidade.»

Reuniões globais para análise de jogos

Pedro Caixinha reforça os aspetos positivos. Desde logo, a forma como o clube discute abertamente os seus problemas, sem conversas de corredor ou quezílias internas.

«As pessoas no clube têm uma visão muito empresarial, muito fora do normal. Por exemplo, fazemos reuniões abertas depois dos jogos. Juntam-se os elementos da presidência, a equipa técnica, a equipa médica, o chamado departamento de inteligência que analisa os jogos e falamos sobre o que correu bem e mal. Todos, abertamente, sem problemas.»

Os elogios não ficam por aqui: «Quando fomos para a pré-temporada, fui contra a ida para zonas de praias como é normal em muitos clubes daqui. Acabámos por escolher o centro de treinos da seleção mexicana que, sem ser luxuoso, tem todas as condições. Por exemplo, fala-se muito em Portugal da casa das seleções mas ainda não existe.»

«Depois há outros aspetos onde se nota a influência de outros desportos, o interesse em adotar conceitos da NBA, por exemplo. Há drafts de jogadores antes de cada torneio e negociações de contratos nessa mesma altura», lembra Caixinha.

Viagens e jogos em simultâneo

O futebol mexicano cresce. Tem lições para dar: «O México foi campeão do Mundo de sub-17 há dois anos e essa equipa vai agora disputar o campeonato do Mundo de sub-20. Vai lutar pelo título. O México também foi campeão olímpico. Ou seja, tudo sinais de uma aposta forte no futebol local.»

«Dou um exemplo: por aqui, todos os escalões desde os sub-17 têm a mesma estrutura. O calendário é exatamente igual para os sub-17, os sub-20 e a equipa principal! Isso permite que a equipa técnica principal consiga acompanhar melhor os jovens», revela.

As equipas, como tal, seguem a cada semana para os mesmos destinos. «Quando fazemos uma viagem, os jovens partem normalmente de véspera, fazendo as viagens de autocarro, na medida das possibilidades. Alguns que já trabalham com o plantel principal viajam connosco no dia seguinte, de avião.»

«Depois, sucedem-se os jogos. Quanto a mim, só há um aspeto negativo. Os sub-20 jogam no estádio da equipa principal. Ou seja, jogam horas antes do nosso jogo e isso provoca um desgaste no terreno. Mas o conceito é extremamente interessante», remata o treinador português.