*Enviado especial a Munique

Há noites assim. Não há a ideia de ser repetitivo, mas se a crónica do jogo do Dragão, na semana passada, começou desta forma, a desta noite também pode começar. A partir daqui, então, faz-se as diferenças. Porque foram abismais.
 
A noite e o dia. O azeite e o vinagre. O heroísmo e o vexame. O FC Porto deixa a Liga dos Campeões depois de uma semana a sonhar em fazer história. Como um qualquer petiz quis nadar na piscina dos grandes, mas caiu sem braçadeiras e foi de lá retirada por uma máquina alemã que, à segunda, não perdoou.

Sejamos sinceros: o jogo desta noite espelha bem mais o que são as duas equipas do que o do Dragão. Mas se o FC Porto foi capaz, por uma noite, de se agigantar e atirar o todo poderoso Bayern para um cantinho da piscina, quase, quase a sair, fazê-lo duas vezes seria, então, heróico.
 
Ainda assim, não desculpabiliza em nada o que o FC Porto fez. A primeira parte, que muitos viam como o período chave do jogo, foi terrível. Um pesadelo. Defesa mal posicionada, meio campo sem capacidade para aguentar a bola, Jackson perdido, Fabiano péssimo.
 
O guarda-redes portista não pode ser visto como a explicação única da derrota mas, pelo menos em três golos, ficou a sensação de que poderia fazer mais. E, em noites como esta, na piscina dos grandes, é preciso mais do que um bom guarda-redes. Ou um bom lateral ou médio. É preciso homens excecionais e o FC Porto não os teve esta noite.
 
Em pouco mais de vinte minutos, o Bayern passou para a frente da eliminatória. Ao intervalo a goleada fazia o azul do Dragão, esta noite mais escuro, parecer pálido, pálido. A imagem que o FC Porto deixava no Allianz Arena era inadmissível.
 
Reyes não foi o culpado mas foi a primeira vítima
 
Voltemos, então, ao início. O Bayern, pese toda a especulação em torno de Robben e Ribéry, jogou praticamente com o mesmo onze do Dragão. Saiu o desastrado Dante, entrou Badstuber. No FC Porto, Indi, como se esperava, fez de Alex Sandro. No flanco oposto uma meia surpresa com a aposta em Reyes.
 
Meia porque era uma das possibilidades e meia porque Lopetegui a trocou pela outra, mais provável, à meia hora. Já o FC Porto perdia 3-0 quando entrou Ricardo. Em abono da verdade, Reyes não tem responsabilidades acrescidas no descalabro que se desenhava. Tem as mesmas dos outros.
 
As mesmas de Quaresma, que viu Bernat passar por ele e nem o incomodou quando o esquerdino centrou para Thiago Alcântara abrir o ativo. As mesmas de Maicon que ficou nas covas perante um rival que nem é dos mais imponentes.
 
Foi o início do fim. O Bayern ficava, demasiado cedo, a um golo do apuramento. E o pior é que veio pouco depois, por Boateng, num cabeceamento colocado, mas subtil. Pedia-se mais a Fabiano.
 
O terceiro, perto da meia hora, foi o melhor da noite. A jogada começa bem atrás, Lahm cruza à direita, Muller levanta para Lewandowski e o polaco atira a contar. O FC Porto nem percebia o que lhe estava a acontecer.
 
É preciso dizer, tudo correu bem ao Bayern também. Cobrou com juros o apagão do Dragão. O quarto golo é o exemplo vivo. Remate de Muller que até nem ia com muita força, desvio em Indi, Fabiano deitado e incapaz de corrigir o movimento. O desvio não justifica que a bola entre. É outro golo em que o guardião deveria ter feito mais.
 
Antes do descanso ainda veio o quinto, de novo por Lewandowski e a certeza que a noite ficaria na história. Mas não pelos motivos que o FC Porto sonhara.
 
Equipa remendada e 20 minutos a sonhar
 
Perante o descalabro, como agir? Lopetegui mudou radicamente a equipa. Lançou o miúdo Ruben Neves, abdicando de Quaresma. Baixou Casemiro para a linha de Marcano e Maicon e subiu os laterais. Resultado? O FC Porto equilibrou-se.
 
É verdade que a intensidade do Bayern não foi a mesma, mas não tira mérito a quem não desistiu de tentar o milagre. O FC Porto passou a ter mais bola e chegou ao golo. O primeiro que o Bayern sofreu em casa, este ano, na Liga dos Campeões.
 
Marcou Jackson, desviando centro de Herrera. O mesmo Jackson que, sozinho, arrancou para a área e disparou rasteiro, a rasar o poste. O FC Porto precisava de dois golos para o milagre e chegou a sonhar. O que explica como o futebol pode ser diferença em boa onda ou em onda negativa.O desacerto enorme do primeiro tempo não permitiu mais do que uma ténue esperança.
 
Deu, apenas, para maquilhar as feridas, mas nem por isso para evitar uma derrota mais pesada. Quando o FC Porto sonhava, uma falta de Marcano à entrada da área, que lhe valeu a expulsão, deu a Xabi Alonso a hipótese do sexto.
 
Igualada a pior derrota de sempre do FC Porto nas competições europeias (6-1 com o AEK Atenas em 1978/79) na pior altura possível. Quando queria voltar a ombrear com os grandes da Europa, o FC Porto caiu com estrondo. Desde o sorteio que se achava possível uma noite destas, mas a glória do Dragão torna, certamente, ainda mais doloroso o que se viu em Munique.
 
Fica a recordação de um percurso muito bom até ao pesadelo do Allianz Arena. E a ideia de que, muitas vezes, mais do a diferença de qualidade, que existe, claro, a coragem e determinação constrói campeões. Esta noite o FC Porto não os teve.