Alvalade é o estádio mais difícil da Liga para o FC Porto e não é de agora. Em dia de novo Sporting-FC Porto, para a sexta jornada da Liga, um olhar para esse registo e ideias sobre o assunto, por quem viveu alguns desses encontros por dentro nos últimos anos.

Tonel estava em campo com a camisola do Sporting em dois momentos fortes: a última vitória dos dragões em Alvalade, já lá vão seis anos, e a vitória dos leões por 3-0 em 2010, a mais dilatada em casa do Sporting para a Liga em quase 40 anos.

O defesa procura uma explicação para o facto de Alvalade ser um terreno mais difícil para o dragão do que o próprio Estádio da Luz, quando o Benfica tem sido o principal adversário do FC Porto na luta pelo título: «Talvez em termos de motivação o FC Porto quando joga com o Benfica esteja mais motivado, num pico mais alto, ao contrário de Alvalade, em que não está no ponto máximo.»

André Castro, ex-jogador do FC Porto agora na Turquia, apresenta outra visão. Acha que a diferença de abordagem ao jogo está do lado dos leões. «Nos últimos anos o Sporting não está tão forte, a lutar pelo título, mas penso que nestes jogos com o FC Porto a motivação deles era mais forte do que nos outros jogos», diz o médio ao
Maisfutebol: «Penso que se vê uma grande motivação do Sporting nestes jogos.»

«O que eu penso que tem acontecido com o Sporting é que, como não têm estado muito bem, têm abordado estes jogos com mais atitude, com muita garra. No Porto não se sente tanto isso. O Porto tem sido normalmente campeão. Claro que sabe ainda melhor ir ganhar à Luz. Mas encara-se todos os jogos de forma igual», defende Castro, considerando que os clássicos de Alvalade têm tido também uma tendência clara.

«O FC Porto tenta ganhar, em todos os jogos teve mais bola, foi sempre o FC Porto a a assumir os jogos», defende, ele que esteve no banco no nulo de 2 de março de 2013, quando uma equipa de miúdos do Sporting, orientada por Jesualdo Ferreira na reta final de uma época louca em Alvalade, forçou um nulo frente a uma equipa do FC Porto, orientada por Vítor Pereira, que estava na luta pelo título, o qual aliás viria a ganhar.

«Lembro-me bem. Foi um jogo em que tivemos muita bola. Em termos de disputa de bola foi um jogo bom, aguerrido, notou-se que o Sporting deu tudo. No final podíamos ter marcado, mas o empate foi justo», analisa.

O último jogo que contraria esta tendência aconteceu a 5 de outubro de 2008. O FC Porto, orientado por Jesualdo Ferreira. Era a 5ª jornada e os dragões venceram por 2-1. Lisandro marcou primeiro, aos 19m, depois João Moutinho, então leão, empatou de grande penalidade, aos 29m. Dois minutos mais tarde, Bruno Alves fixou o resultado final. «Foi um jogo equilibrado, a vitória podia ter surgido para qualquer uma das equipas. Um bom livre do Bruno Alves acabou por dar a vitória ao FC Porto», resume Tonel, saltando rapidamente para o capítulo seguinte desta história: o 3-0 da época seguinte.

28 de fevereiro de 2010, 21ª jornada de outra temporada agitada em Alvalade. «Foi uma época muito conturbada, com a saída do Paulo Bento e do Pedro Barbosa. Estávamos libertos de pressão, face a tudo o que tinha acontecido. Estávamos também a meio de uma eliminatória da Taça UEFA (16 avos de final, frente ao Everton). E ganhámos 3-0 a um super Porto», recorda Tonel.

O defesa admite que houve uma reação de orgulho ferido nessa vitória dos leões, a mais dilatada no clássico de Alvalade desde 1976: «Os jogadores sentiram que estavam a ser desvalorizados, tinha havido muita turbulência, e os jogadores naquele clássico mostraram que tinham valor.»

«Lembro-me que o Carvalhal preparou bastante bem esse jogo, tirou-nos alguma ansiedade. Disse para jogarmos bem, tranquilamente, a um, dois toques, e foi o que aconteceu», recorda.

Esse clássico teve três golos, mas outra das tendências do Sporting-FC Porto é para resultados pouco volumosos. Tonel e Castro procuram explicações.

«Por ser um jogo muito aguerrido, em que normalmente nos últimos anos o Sporting tem dado a bola ao FC Porto, tem sido difícil para o Porto marcar. Se houvesse um golo cedo podiam-se marcar mais golos. Sendo assim, é um jogo mais fechado», observa Castro: «As duas equipas querem ganhar, mas também não querem perder.»

«É um jogo com tendência para estar muito focado no resultado e deixar o espetáculo sair um pouco desvalorizado», observa Tonel, não esperando que o jogo desta sexta-feira mude muito essa tendência: «O FC Porto tem sido uma equipa coesa, que tem estado defensivamente bastante bem. O Sporting também vai abordar o jogo de forma prudente. Têm 90 minutos para decidir, têm que saber controlar os momentos do jogo. Acho que não vai haver muitos golos.»

Ainda outra tendência deste clássico: estreias e juventude. Será o primeiro Sporting-FC Porto de ambos os treinadores, Julen Lopetegui e Marco Silva, e também o primeiro para muitos jogadores, de ambos os lados. Um clássico jovem, que por isso pode ser algo atípico.

«Quem vem de fora ou é novo num clássico não sente tanto peso num jogo desses. Está-se em fase de adaptação», diz Tonel, admitindo no entanto que a experiência é importante num jogo desta dimensão: «Os mais experientes terão sempre um papel importante, já viveram momentos daqueles, já passaram por bastantes jogos, podem transmitir aos mais novos essa responsabilidade.»

«A juventude pode trazer mais golos. O Porto está num ano um pouco revolucionário, as coisas têm saído em geral bem, tenho gostado de ver o Porto jogar. O Sporting tem sempre muitos jovens a aparecer e tem jogadores que já vêm do ano passado», diz por sua vez Castro. «Esse fator juventude pode levar ao jogo coisas que ninguém espera.»

«Se calhar estamos aqui a falar do facto de haver poucos golos e neste vai haver muitos golos. Espero que sim, que ganhe o FC Porto, mas que seja um bom espetáculo», diz o médio, que no verão se desvinculou em definitivo dos dragões, para assinar pelo Kasimpasa. E que continua a torcer pelo dragão. «É um clube que continuo a acarinhar. Não saí com mágoa nenhuma, foi a melhor coisa que fiz, aqui está a correr tudo bem, estou bem.» Aliás, mesmo lá longe, na Turquia, Castro não vai falhar o clássico: «Vou ver, vejo a maioria dos jogos. Tenho jogo no sábado contra o Trabzonspor do Bosingwa.»

Tonel estará do outro lado, também como adepto. «Tenho raízes no FC Porto, mas nunca joguei na equipa principal, e passei cinco anos muito bons no Sporting, com uma relação muito boa com os adeptos e com toda a gente», diz, sem arriscar prognósticos, mas insistindo na ideia de um jogo equilibrado: Neste momento não vejo grande diferença de qualidade entre as duas equipas. Nem dos jogadores. Acredito que os detalhes podem fazer a diferença.»

Os últimos 10 anos de Sporting-FC Porto para a Liga

2013/14, 23ª jornada, 1-0
(Slimani, 53m)

2012/13, 21ª jornada, 0-0  

2011/12, 14ª jornada, 0-0 

2010/11, 12ª jornada, 1-1
(Valdés, 37m) (Falcao, 58m)

2009/10, 21ª jornada, 3-0
(Djaló, 6m; Izmailov, 45m; Miguel Veloso, 47m)

2008/09, 5ª jornada, 1-2
(Moutinho, 29 gp) (Lisandro, 19m; Bruno Alves, 31m)

2007/08, 17ª jornada, 2-0
(Vukcevic, 12m; Izmailov, 14m)

2006/07, 7ª jornada, 1-1
(Djaló, 43m) (Quaresma, 47m)

2005/06, 30ª jornada, 0-1
(Jorginho, 85m)