O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

VASCO FAÍSCA, FC PLATANIAS (GRÉCIA):

«Não sei se tem a ver com a minha personalidade, com a minha maneira de ser, ou se tem mais a ver com a sorte... talvez um pouco de tudo! Mas a verdade é que nesta minha vida de emigrante do futebol tenho estado sempre em países, cidades e clubes onde me senti muito feliz e é isso que acontece agora na Grécia, onde estou ao serviço do FC Platanias.

Sou por natureza positivo e por isso, apesar de ter,também passado por momentos tristes e difíceis, as recordações que guardo, aquelas que contam para mim, são muito bonitas e extremamente positivas.

Apaixonei-me por todos os clubes por onde passei - o Farense, o Sporting, o Lourinhanense, a Académica de Coimbra, o Belenenses, o Vicenza, o Pádua, o Ascoli e agora o Platanias. Cidades e clubes que guardo no coração e que tenho seguido e continuarei sempre a seguir com especial atenção, desejando o maior sucesso a todos eles.

Hoje estou na Grécia, na ilha de Creta. Estou longe da minha família, da minha mulher e da minha filha que tiveram de ficar em Itália, (país onde vivemos nos últimos 6 anos) devido à miúda entrar este ano para a primeira classe e por a minha mulher estar a frequentar um curso naquele país. Os meus pais e o meu irmão estão em Portugal, assim como a restante família e amigos.

O cenário daquilo que para mim seria felicidade plena não está completo! Mas como já disse gosto de ver o lado positivo das coisas,e no Platanias estou a prosseguir a minha carreira fazendo o que adoro que é jogar futebol num campeonato de boa qualidade como é a Superliga Grega, tenho uma compensação económica que me satisfaz e a juntar a isso estou a conhecer outro país e outra cultura, a viver num lugar extremamente agradável e bonito como é toda esta região, e a fazer novas amizades extremamente enriquecedoras do ponto de vista humano. Vale a pena fazer alguns sacrifícios!

É duro ser emigrante,mas apesar das muitas saudades, penso que sou um emigrante com sorte, pois tenho vivido e conhecido sítios que para mim são e serão sempre mágicos...


No primeiro ano, em Vicenza com apenas dezanove, vinte anos, recordo dois episódios que me ficaram gravados na memória para sempre! O primeiro, foi quando vi nevar pela primeira vez!! Lembro-me de ter ficado tão entusiasmado que liguei para casa a contar o sucedido. Para mim, Algarvio que apenas só tinha visto neve, não nevar, uma vez num passeio à Serra da Estrela com a família, aquilo era um evento!! Para os Italianos uma chatice... Passados onze anos de Itália, para mim também passou a ser uma chatice...

O outro momento especial foi na minha estreia com a camisola do Vicenza. Saltei do banco para jogar os últimos dez minutos, era a última cartada do treinador para tentar segurar o resultado, Vicenza 2 - Milan 0. Foi uma grande emoção, joguei, ganhámos o jogo, e levei para casa a camisola de um dos meus ídolos de sempre, um tal, Paolo Maldini...

Agora chegou a vez da Grécia e do FC Platanias,clube que representa a vila de Platanias, terra que não tem mais de mil habitantes!! Há que reconhecer grande mérito ao clube e a quem o representa e dirige por ter conseguido chegar onde chegou e por actualmente apesar da pequena dimensão do clube (até há dois anos atrás jogava numa divisão amadora) apresentar condições de trabalho dignas de um clube de primeira liga.

Na Grécia vive-se intensamente o futebol, só para terem uma ideia, existem salvo erro treze jornais diários que falam sobretudo de futebol... Platanias não foge à regra, o futebol e a equipa local são o tema de conversa por todo o lado!!

Platanias é uma pequena terra com gentes muito acolhedoras que vivem sobretudo de turismo sol e praia, tal e qual o ‘meu’ Algarve. Estamos na fase final do campeonato e oferecer a estas gentes gentes uma grande prenda, que é a continuação de um sonho, manter este clube na super liga, e assim escrever mais uma belíssima página no meu álbum de recordações...

Um abraço e até breve.

Vasco Faísca.»