Morreu uma pessoa.

Antes de ser adepto, antes de carregar um cachecol, uma bandeira, antes de participar num cântico ou vibrar com um golo, foi uma pessoa que morreu.

Perdeu-se uma vida.

Matou-se uma pessoa, e sim não foi a primeira.

De pouco adianta agora, mas o Estado português deve desculpas à sua família. Mais que não seja pelo estado a que isto chegou.

O futebol cá do burgo também. Os dirigentes, da Liga, da Federação, todos os que ainda forem vivos e os de agora, que peçam perdão. Os não-jornalistas que incendeiam com gozo programas de televisão de entretenimento grotesco, os jornalistas e os meios que lhes dão voz. Os adeptos que insultam toda a gente, e as suas famílias. As claques. Todas. Os clubes que lhes abrem as portas sem critério. Os pais que não educaram os seus filhos.

Eu também peço desculpa.

Não basta silêncio num minuto de silêncio nos estádios. Ou aplausos em 60 segundos de aplauso. É necessário o silêncio de todos, de uma ponta a outra do futebol português. Que se calem e ouçam. Que aprendam a respeitar o próximo, e respeitarão o jogo.

Todos os que falaram depois da madrugada de sábado calados seriam uns poetas. Que necessidade há de aproveitar politicamente uma morte? Para um lado ou para o outro. Que se ouçam primeiro antes de abrir a boca. Se não em mais nenhuma altura, que se calem agora. Por respeito.

Se as claques de clubes portugueses servem para isto acabem-se com as claques. Legalizadas ou não, não há inocentes. Se não se registam todos os membros de que vale legalizar? Se não se pune quem deve ser punido de que vale ter uma lista com uns nomes no papel? Se não estão legalizadas porque têm o seu lugar nos estádios e bilhetes mais acessíveis? Há um pouco mais de controlo por parte da polícia, mas estará longe de ser suficiente.

Se é para isto, para combates de madrugada agendados às portas dos estádios, para gerar o pânico um pouco por todo o lado, desmembrem as claques. Descaracterizem os seus elementos. Tornem-nos iguais aos outros. Deixem tarjas, bandeiras, tochas e privilégios do lado de fora dos estádios.

Se não puderem ser claques durante os jogos, a sua razão primária para existir, dificilmente poderão continuar a sê-lo nos outros dias. Se não mantiverem o apoio dos clubes, oficial e oficioso, irão fragilizar-se e perder poder. Não virá nenhum mal ao mundo com isso, bem pelo contrário. Menos poder, menos potencial violento, que é o que se pretende.  

Os outros, por sua vez, que os tornem desnecessários! Que façam a festa, que devolvam o jogo aos verdadeiros adeptos e às famílias! Que façam com que os clubes não precisem deles em lado nenhum!

Se apontamos tanto para Inglaterra por que não agora outra vez? Têm os ingleses um problema de ambiente nos estádios?

No dia em que se voltar a gostar do jogo não haverá mais violência. Essa será a cura, mas ainda parece muito distante de chegar, e os últimos sintomas têm sido preocupantes. 

O futebol português está doente, e deve ser colocado de quarentena.