O Estados Unidos-Portugal sublinhou algumas coisas já observadas nos jogos da primeira jornada do Grupo G. Primeiro as que dizem respeito à equipa nacional.

1. Má organização. Como no primeiro jogo, este domingo Portugal foi uma equipa muitas vezes mal colocada em campo. Isso foi especialmente notado na forma como decidimos (?) lidar com o facto de os Estados Unidos terem a sua principal força de ataque na direita. Este problema não é novo e tem a ver, essencialmente, com o facto de Ronaldo não defender. Como a estrela da equipa não acompanha o lateral direito contrário, muitas vezes o nosso defesa esquerdo é apanhado em situações de dois para um. Daí podem sair cruzamentos, passes para dentro, até remates. Perigo , numa palavra. Esta situação aconteceu, para citar um único exemplo, com a Dinamarca durante o Euro 2012. Se o adversário não é muito poderoso, o problema não causa grande dano. Se por acaso joga aí o melhor futebolista inimigo, pode ser dramático. Frente aos Estados Unidos foi penoso ver. Durante tempo demasiado, a seleção não foi capaz de lidar com o assunto. Como se fosse uma novidade. Sobrou para André Almeida, que foi sobrevivendo. Num segundo momento, Paulo Bento decidiu colocar ali Raul Meireles. Na prática,
sem bola Portugal ficou a jogar em 4-4-2 . Não teria mal nenhum, não fosse o caso de o selecionador ter dito antes que não iria fazer alterações substanciais por acreditar que esse seria o caminho para a desgraça. E, já agora, não implicasse esse posicionamento de Raul Meireles um buraco no meio-campo e um desgaste extra para um jogador que já não estava bem. No fundo, Portugal ficou sem um flanco, até porque Ronaldo jogava onde queria.

2. Ronaldo. Precisamente. Ainda se lembram dos 99,9 ( isto foi o que escrevi depois de o ouvir dizer isso…) e dos 100 por cento? Esqueçam. Depois do jogo, Ronaldo confessou o que todos já tinham visto: afinal não está bem . Nunca seria fácil gerir este processo Ronaldo. Jogador e selecionador não poderiam dizer ao mundo que o avançado do Real Madrid está muito longe do que vale. De resto, a ligadura no joelho, sublinhada pelo gelo, cumpriu essa função. O que tem faltado é agir em conformidade. Se Ronaldo não está bem e tem um estatuto que lhe permite jogar onde quer e defender o que pode, porque não assumi-lo? Se Ronaldo não está em condições de ser Ronaldo (mas apenas fingir que é Ronaldo ), por que não colocá-lo no meio e meter em campo alguém que pelo menos não desequilibre a equipa quando é preciso defender? Percebo que Paulo Bento goste das suas ideias. Mas, encaremos o facto, lamentavelmente não temos o Cristiano Ronaldo. 

3. As lesões. Paulo Bento tem razão quando afirma que cada caso é um caso. Mas já tenho dificuldade em compreender que nos diga que Postiga não deu nenhum sinal de que estava menos do que perfeito nos treinos. Se Postiga sempre foi o titular e estava bem, por que razão não começou de início com a Alemanha ou, pelo menos, foi a primeira opção de ataque? E, já agora, se estava ótimo, por que entrou com uma proteção na zona que depois cedeu? Quando tudo isto acabar, os responsáveis da seleção devem prestar esclarecimentos sobre os problemas físicos. Há três perguntas que, do meu ponto de vista, precisam de respostas concretas: quando convocou os 23, que informação clínica possuía o selecionador? Durante os dias em que trabalhou em Portugal, a que tipo de exames foram sujeitos os jogadores? Por último, em que medida as lesões musculares são «previsíveis» ou condicionadas pela preparação ou outros fatores? Todas as lesões são diferentes, sim. Mas são muitas. E isso precisa de ser analisado. ( vale a pena ler o que disse Beto)

4. Tantos fatores. Até agora, Portugal tem somado problemas e dificilmente alguma seleção resistiria a tamanha sucessão de coisas más. Fica a lista, por ordem cronológica. Má entrada no primeiro jogo. Erro defensivo coletivo a custar um golo. Lesão de Hugo Almeida. Expulsão de Pepe. Certeza de que Ronaldo não está sequer perto dos 70 por cento. Lesão de Coentrão. Observação do pobre estado de forma dos médios Raul Meireles e Moutinho. Lesão do guarda-redes, Rui Patrício. Lesão de Hélder Postiga. Lesão de André Almeida. Mau posicionamento de Ronaldo a defender. Incapacidade de ajudar a equipa a resolver os problemas, a partir do banco. Aquele movimento lento de Bruno Alves no segundo golo, sublinhado do péssimo Mundial do defesa central, logo quando era tão necessário. Do lado das coisas razoáveis, apenas uma convicção: a diferença entre os que jogam e os que estão no banco não é, hoje, assim tão grande. Ricardo Costa, William Carvalho e Varela não entraram mal. Pelo contrário. Desconfio que Ruben Amorim teria sido muito útil, pela qualidade tática e rigor. 

Por fim um ponto que também tem a ver com o adversário de domingo.

5. Os Estados Unidos. A seleção de Klinsmann voltou a demonstrar que é apenas uma equipa bem arrumada que teve dois momentos de felicidade, ambos no jogo com o Gana: um golo cedo e um golo perto do fim. Não são especialmente fortes, nem especialmente organizados. Seguramente possuem nesta altura maior consciência das suas forças e fraquezas do que, por exemplo, a seleção portuguesa. Mas só isso.

O balanço da presença de Portugal no Mundial far-se-á quando a história terminar. Hoje, segunda-feira, não encontro um aspeto que permita acreditar na permanência além da fase de grupos.

NOTA: um dia depois de ter escrito este texto, o médico da seleção nacional resolveu dar algumas explicações. Vale a pena ler com atenção.