É o primeiro sinal-menos do Sporting na nova época. O primeiro objectivo fracassado na onda que prometia e ainda promete ser gigante e que teve como epicentro o fantástico golpe que foi a contratação de Jorge Jesus.

Cirúrgico na aquisição de unidades com bastante valor, como Teo Gutiérrez, Aquilani e Bryan Ruiz, e moralizado com a conquista da Supertaça frente ao bicampeão e eterno rival, o estado de graça do Sporting não chegou para garantir já 8,6 milhões de euros e a possibilidade de ganhar mais na fase de grupos na Liga dos Campeões. O projecto europeu continua na Liga Europa claro, e com perspectivas de chegar longe desportivamente, mas o impacto financeiro não será nunca tão grande.

A explicação fácil tem-na cada adepto mais desalentado e inconsolável – afinal, o Sporting teve a eliminatória ao seu alcance, e até tinha conseguido o mais difícil, que seria marcar primeiro na Rússia – e passa pelos erros de arbitragem. Um em Alvalade, e grosseiro, naquela mão esticada do defesa do CSKA a cortar o cabeceamento de Slimani. E outro num braço paralelo ao corpo em Moscovo, mas que num último movimento introduz a bola na baliza de Rui Patrício. O primeiro parece demasiado evidente, o segundo, face à posição de todos os juízes, precisa de vários planos televisivos e da célebre câmera lenta para se confirmar. Depois, o famoso canto de que não há provas que sai – mas em que ninguém reconhece que a melhor posição de todos os que viram à distância é a do auxiliar , mas que admito que tenha saído, tal como admito que o fora de jogo milimétrico de Teo na jogada do golo passe despercebido, por ser praticamente impossível validar a olho nu. No entanto, apesar de reconhecer a presença de erros de arbitragem em ambos os encontros, é necessário, acredito eu, olhar para além disso. Houve erros individuais e colectivos da equipa leonina, que devem ser olhados com mais atenção.

Antes de Moscovo, já havia uma tendência. À excepção do jogo da Supertaça, o Sporting marcava e deixava-se empatar. Em Aveiro, frente ao Tondela, foi capaz de colocar-se novamente na frente. Perante o Paços de Ferreira, em casa, com a necessidade de gerir para Moscovo, os leões deixaram-se igualar e perderam dois pontos. O mesmo aconteceu no play-off, nos dois jogos. 1-0, 1-1 e 2-1 em Lisboa, 0-1, 1-1, 2-1 e 3-1 em Moscovo. Parece uma evidência que a equipa de Jesus não consegue controlar os seus jogos. Só o Benfica não conseguiu colocar a nu essa deficiência com golos. Terá a ver com o ADN do futebol que é imagem de marca agora treinador leonino, mais do que da necessidade de tempo que precisa uma nova filosofia para ser implantada. Embora o Sporting possa obviamente melhorar.

Também no plantel deve ser olhada com cuidado a forma como os adversários – algo que foi muito exposto pelo CSKA – têm ganho vantagem com o colocar de bolas atrás da linha de defesa, muitas vezes apanhada desequilibrada: três jogadores a sair, e Naldo mais recuado a falhar o movimento a tempo. O segundo e o terceiro golo dos russos são consequência de erros no posicionamento da linha de fora de jogo, já o primeiro, com toda a polémica que se lhe acrescentou depois, resulta de uma péssima abordagem de Adrien a um livre lateral que já parecia ter-se tornado inofensivo.

O que sobressai também dos primeiros jogos é o momento físico que atravessam alguns dos seus jogadores. Bryan Ruiz, pelo impacto que tem no futebol da equipa, vê-se muito intenso mas num curto período de tempo, desgastando-se muito rapidamente. Não ter tido férias, mais o momento inicial da temporada podem explicar a situação do costa-riquenho, que ainda por cima se viu obrigado a jogar os 90 minutos do jogo com o Paços de Ferreira. Também Teo anda longe de aparentar frescura.

Obviamente que a questão do cansaço de uma ou outra unidade não se colocaria num plantel mais apetrechado em qualidade. Quando Jesus precisar de agitar, o banco resume-se a Montero, Mané e Gelson, e eventualmente a um dos médios que não entre no plano inicial de titulares. Se a queda da Liga dos Campeões poderá atenuar um pouco esse efeito, uma eventual longa caminhada da Liga Europa iria juntar novas complicações. O plantel tem qualidade (sem dúvida), mas ainda é curto de verdadeiras opções.

Claro que as adições de Teo, Ruiz e Aquilani sobretudo, mais as pedras basilares que já lá estavam como Rui Patrício, Paulo Oliveira, Ewerton, William, Slimani e João Mário, dão inequívocas garantias de qualidade. E se a eliminação da Liga dos Campeões não tiver de ser compensada com a venda de nenhuma delas, Jesus continua com matéria-prima para fazer valer a sua lei, apesar do que o desaire com o CSKA acabou por expor e foi referido acima. O crescimento também passa por estas dores.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».