O Cinfães prepara-se para a inesquecível receção ao Benfica, na terceira eliminatória da Taça de Portugal. A formação orientada por João Manuel Pinto espera fazer uma surpresa, compensando os sacrifícios diários que alimentam os sonhos.

O clube do distrito de Viseu disputa o Campeonato Nacional de Séniores e tem vários jogadores que fazem dezenas de quilómetros para treinar diariamente.

O Maisfutebol foi tentar perceber quem viaja a pensar no Benfica: s ão dois carros, dez jogadores, 90 quilómetros para cada lado. Quase todos do Grande Porto. Mais um de Paços de Ferreira e outro de Lousada. Alguns trabalham durante o dia, saem a correr e arrancam rumo a Cinfães. Não são profissionais.

Será isso que irão fazer no sábado de manhã. O jogo começa às 14h30, o Benfica estará em estágio, depois de ter feito a viagem no dia anterior, enquanto metade da equipa de João Manuel Pnto estará na estrada para chegar ao recinto.

«Não vamos treinar na sexta-feira, não costumamos treinar na véspera dos jogos, para evitar o desgaste. Também serve para poupar algum dinheiro. Tem de ser. Há uns anos, um jogador nestas divisões podia ganhar entre 1500 e 2000 euros. Agora a média está pela metade, entre 700 e 1000», explica Miguel Moreira, o capitão.

Miguel Moreira faz parte do grupo de viajantes. Tem uma loja de comércio em Lousada, sai às 17h00 a caminho de Cinfães e volta às 22 horas. «Junto-me ao grupo que vem do Porto, encontramo-nos na variante, antes do Marco, e vamos para o treino. São dois carros.»

«A verdade é que nunca nos habituamos às curvas. Mas estamos a representar uma instituição que nos respeita, que merece o melhor de nós, portanto damos tudo. Vamos em grupo para poupar dinheiro. Cada um de nós leva o carro um dia, e assim gasta-se bem menos. Este mês só devo gastar à volta de 60 euros em combustível», frisa o jogador, ao Maisfutebol.

 

Comerciantes, serralheiros, mecânicos e professores

Esta é a realidade do Cinfães, adversário do Benfica. Alguns andam na estrada, outros trabalham durante o dia, outros ainda fazem as duas coisas.
«O Bruno Teixeira, por exemplo, vem do Porto e é mecânico . Temos ainda o Joel, que trabalha numa loja de móveis em Paços de Ferreira. Há mais um que é serralheiro, outro que é professor. Há de tudo um pouco», diz Miguel Moreira.

Joel entra na conversa para acrescentar pormenores. O seu dia começa às 7h20, passa pela loja de móveis em Paços de Ferreira, segue-se um treino em Cinfães e o regresso a casa, onde chega às 22 horas. «Por vezes chego ao treino cansado, claro, mas tem de ser. O trabalho é um bocado pesado, é preciso levar móveis de um lado para o outro, mas faz parte e compensa. Mesmo a viagem faz-se bem, somos um bom grupo e vamos sempre em conversa. Agora só se fala do Benfica, claro», admite o avançado.

O jogador de 27 anos fala ao
Maisfutebol no final de um desses dias. Nesta sexta-feira, ainda irá trabalhar. «Pelo menos, de manhã. O meu patrão é muito compreensivo e tenta facilitar ao máximo, só lhe posso agradecer.»

«No sábado, o grupo que vem do Porto vai juntar-se a nós, às 9 horas, para seguirmos para Cinfães. Não há estágios, enquanto no Benfica é só luxos», brinca Joel, completando: «Para mim será um jogo especial, mesmo não sendo do Benfica. Sou do Sporting. E sim, estou mais satisfeito com o que o Sporting tem feito este ano».

«Temos um ou dois por cento, mas...»

Os jogadores do Cinfães esquecem as dificuldades e projetam o encontro deste sábado. O capitão tem a palavra. «As pessoas de Cinfães merecem este prémio. Sentimos que só temos um ou dois por cento de hipóteses, mas vamos agarrar a oportunidade se ela aparecer. O Benfica não vai de certeza correr mais que nós. Temos um coletivo muito forte», avisa Miguel Moreira.

«O nosso treinador (João Manuel Pinto) tem lembrado que já foi eliminado pelo Torreense quando estava no FC Porto e pelo Gondomar quando estava no Benfica. Tem usado isso para nos motivar. Vamos dar o nosso melhor e será um jogo para ficar na memória», acrescenta Joel.

Para Miguel Moreira, esta será a oportunidade de uma vida. «Costuma dizer-se que estes jogos são um prémio, às vezes um prémio de carreira. E por que não fazer uma gracinha? Vamos ver o que vai acontecer. Se pudesse, gostaria de defrontar o Matic, um jogador que procuro seguir pois jogo na mesma posição. Mas o mais importante é o sucesso do Cinfães», conclui o experiente médio.