1986/87. Temporada de ouro no F.C. Porto, selada com o primeiro título europeu do clube. Com as atenções centradas nos homens de Artur Jorge, Custódio Pinto, treinador dos juniores, tinha em mãos duas enormes promessas na arte de fazer golos. Domingos e Paulo Alves, que segunda-feira estarão frente a frente em Alvalade, partilharam o balneário do F.C. Porto, numa época que acabou com o título de juniores e uma fornada com muito potencial.

Vítor Baía, Fernando Couto, Secretário ou Jorge Couto também integravam a equipa. Domingos era o artilheiro-mor. Paulo Alves a alternativa. Dois pontas-de-lança portugueses prontinhos a tomar de assalto a ribalta. Um luxo nos tempos que correm.

O Sporting-Gil Vicente colocará em campos opostos dois amigos-rivais. «O Paulo ainda era júnior de primeiro ano, tinha mais dificuldades para entrar na equipa. O Domingos era o titular, estava mais vincado no clube e já era uma das figuras», começa por dizer Jorge Couto, em conversa com o Maisfutebol.

O antigo avançado de F.C. Porto e Boavista traça o perfil dos colegas de balneário: «Eram dois goleadores, cada um à sua maneira. O Domingos era mais móvel, inventava golos. O Paulo era uma referência na área, jogava melhor de cabeça e pedia mais jogo de equipa. Ficava no banco e entrava sempre naqueles jogos complicados. Era muito útil.»

Título em Alvalade, com golo de...Domingos

Nenhum deles o sabia, mas o Sporting seria o futuro de ambos. Mais cedo para Paulo Alves, que marcou golos de leão ao peito entre 1995 e 1998. Depois, ou agora, para Domingos, com as funções que se conhecem.

Naquela altura, o Sporting não era apenas um eterno rival. Foi o último obstáculo antes do título de juniores. «O campeonato era decidido por um representante da zona norte, outra da zona sul e um das ilhas. Se vencêssemos em Alvalade éramos campeões. Ganhámos 3-1 e o Domingos fez um golo espectacular», conta Jorge Couto.

Eram tempos de glória para o actual técnico leonino, que na temporada seguinte já jogava com os seniores. Paulo Alves nunca o conseguiu. «Teve um azar incrível», lamenta Jorge Couto. «Rompeu completamente o joelho, os ligamentos cruzados, anteriores, posteriores...foi tudo à vida! Até se pôs em causa se voltaria a jogar. Ainda recentemente recordámos isso. Ele disse que demorou muito a libertar o receio de disputar os lances», prosseguiu.

Acabaria por conseguir uma carreira acima da média o técnico do Gil Vicente. «Deu a volta por cima. Havia outro rapaz, o João Paulo, que era fantástico, diziam que era o novo Futre. Teve uma lesão semelhante e não teve a mesma sorte», conta Jorge Couto.

Gomes, a referência, entre muitas brincadeiras

No horizonte de qualquer avançado das escolas portistas, na década de 80, havia a figura de Fernando Gomes. Domingos e Paulo Alves ombreavam pelo estatuto de herdeiro do «Bibota». «Não há como esconder, era a referência deles e de todos. E o Domingos ainda conseguiu jogar com ele», recorda.

Paulo Alves, a braços com a tal lesão gravíssima, seria emprestado ao Gil Vicente e por lá ficaria por uns tempos. Para trás ficava o azul e branco que nunca vestiu outra vez. Ficarão as lembranças.

«Tanto o Paulo como o Domingos eram reservados. O Paulo, então, vinha de Vila Real, estava há pouco tempo no Porto, era muito tímido. Brincávamos com ele, claro. Uma vez adormeceu no autocarro, tirou os sapatos e enchemo-los de espuma da barba. Mas não era só a ele. Era a quem calhasse», brinca Jorge Couto.

Ser treinador era assunto que nunca se discutia. As preocupações estavam em conseguir uma carreira segura como jogador. Domingos agora treina um grande. Paulo Alves lidera o Gil Vicente. O reencontro dos herdeiros de Gomes está marcado para segunda-feira, em Alvalade, onde o Gil só ganhou uma vez, em 2002 ( 0-3). E Paulo Alves marcou, pois claro.