Efeméride é uma rubrica que pretende fazer uma viagem no tempo por episódios marcantes ou curiosos da história do desporto, tenham acontecido há muito ou pouco tempo. Para acompanhar com regularidade, no Maisfutebol.
 
31 de outubro, de 2002. Há 13 anos. O placard assinala 149-0 favorável ao AS Adema no fim do jogo com o Stade Olympique Emyrne (SOE), para o play-off de apuramento do campeão de Madagáscar.
 
Não, não se tratou de nenhuma avaria do marcador, nem de uma avassaladora superioridade do AS Adema. Foi, sim, um protesto recorde. Os 149 golos sem resposta não significam apenas a maior goleada da história num encontro (oficializado pelo Livro do Guinness), mas também o maior número de autogolos num jogo só. É que todos os golos foram marcados pelos jogadores da equipa derrotada, o SOE, em protesto.
 
Mas o que originou este momento histórico? As quatro primeiras classificadas da tabela da THB Champions League - SOE (o campeão da época anterior), AS Adema, US Ambohidratrimo, e Domoina Soavina Atsimondrano (DSA) – seguiram para o play-off de apuramento do campeão. Esta fase consistiu em seis jornadas realizadas entre os dias 20 e 31 de outubro.
 

(AS Adema)

Nestes onze dias, as equipas defrontaram-se entre si, com o AS Adema a assumir a liderança. Na penúltima jornada, um empate do SOE com o DSA, por 2-2, dá o título de campeão ao AS Adema. Só que o golo do DSA, que valeu o empate, surgiu de uma grande penalidade, mesmo no final do encontro, que o SOE considerou ser inexistente.
 
O último jogo do play-off colocava AS Adema frente ao SOE, no dérbi da capital de Madagáscar, Antananarivo. Logo no início da partida, o treinador do SOE, Ratsimandresy Ratsarazaka, irrita-se com uma decisão do árbitro. Sentiu-se injustiçado por aquele lance, mas sobretudo pelo penálti do jogo anterior, que fez o título fugir para as mãos do eterno rival, e já não tinha nada a perder, por isso decidiu que o resto do jogo seria de protesto.
 
Assim, em vez de procurar a baliza adversária, os jogadores do SOE jogavam para trás até rematarem à própria baliza, sem que o guarda-redes nada fizesse para o evitar. Assim foi uma, duas, três... 149 vezes. Uma impressionante média de um golo a cada 36 segundos. Os adversários limitaram-se a ver a vantagem avolumar-se sem terem que tocar na bola.
 
O árbitro deixou o jogo seguir, os adeptos, estupefactos, iam saindo das bancadas, reclamando na bilheteira o reembolso pelo valor pago pelas entradas.
 
A Federação também não ficou contente e tomou medidas. O SOE foi punido com a exclusão de torneios nacionais por dez anos. O treinador foi banido por três anos e impedido de entrar em estádios de futebol pelo mesmo período de tempo.  Foi ainda decretada a suspensão até ao final do ano e proibição de entrar em estádios pelo mesmo período para quatro jogadores: Mamisoa Razafindrakoto, guarda-redes e capitão da selecção de Madagáscar, Manitranirina Andrianiaina, capitão do SOE, Nicolas Rakotoarimanana e Dominique Rakotonandrasana.


( Mamisoa Razafindrakoto) 

Todos os outros jogadores do SOE e do AS Adema foram avisados de que os castigos poderiam ser ainda mais pesados caso fossem cometidas outras irregularidades. 

O protesto chamou realmente a atenção dos responsáveis da Federação e da arbitragem e conseguiu o feito de ficar na história.