Se há futebolista que conhece bem Jorge Jesus, esse futebolista é Bruno César. O atual jogador do Penafiel trabalhou com o treinador no Benfica e no Sporting, num total de mais de quatro anos. Na entrevista ao Maisfutebol, Bruno assume o «choque» do primeiro impacto com o técnico em 2011 e sublinha as características que o diferenciam: exigência e intensidade.

Nesta parte da entrevista, Bruno César fala ainda da opção de Jesus em colocá-lo como extremo, lembrando que no Brasil tinha sido sempre um «número dez». A concorrência com Pablo Aimar e Javier Saviola ditou essas regras. Aos 32 anos, maduro e sereno, eis Bruno César. 

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Maisfutebol - O tempo voa e o Bruno chegou a Portugal já há dez anos. Que memórias guarda dessa entrada no Benfica?
Bruno César - Foi ótimo ter vindo para Portugal. Amadureci rapidamente. Em Portugal percebi que as coisas eram diferentes, completamente. A saída, a chegada, a adaptação, parece tudo um filme. Joguei mais anos em Portugal do que no Brasil (risos). Os meus planos passam por ficar cá, já não penso voltar ao Brasil, e isso prova o quanto gosto de viver e jogar cá. A minha esposa está grávida, vamos ter uma menina portuguesinha agora. Pretendemos ficar a viver neste país maravilhoso.

 

 

 

Em 2011 chega do Brasil e apanha logo um treinador com a exigência do Jorge Jesus. Foi um choque para si?
Foi um choque, é verdade. A maioria dos brasileiros que chega às mãos do Jorge não joga muito na primeira época. Por uma questão de adaptação às ideias e à exigência dele. Por incrível que pareça, eu na primeira época fiz logo muitos jogos [44 partidas, 13 golos]. No segundo ano não joguei tanto. Foi um choque porque ele quis que eu jogasse como extremo e eu nunca jogara nessa posição. No Brasil eu tinha sido sempre um segundo avançado, mas ali não havia forma de jogar nessa posição. Com o Aimar e o Saviola… não dava para bater de frente com eles (risos). O Jorge adaptou-me a extremo e eu gostei. Fiz muitos jogos, mas a intensidade e o estilo de jogo eram completamente diferentes.

O que diferencia o Jorge Jesus dos outros treinadores? O que o torna especial?
A intensidade com que trabalha. Na semana de treinos e nos jogos. Mal acaba o jogo ele vai ver o que correu mal. Há mais treinadores a fazer isso, mas com a intensidade e a exigência que ele tem, não me acredito. Ele transmite isso à equipa e isso faz a diferença. Entende bem o jogo, lê-o rapidamente e isso facilita tudo.

Lidava bem com a exigência e o lado emocional do Jorge Jesus?
Sim, aprendi a lidar. Estive um ano e meio no Benfica com ele e depois no Sporting já sabia como o Jorge era. Se não for como ele quer, o jogador não joga. É assim. Mas acredito que é complicado para quem chega. O Alan Ruiz sofreu muito com ele no Sporting. O Jorge cobra porque sente que o jogador tem qualidade para melhorar e sabe que vai melhorar. Fica em cima de nós por causa disso.

Ele olhava para si como o homem de confiança dentro do campo?
Acho que sim, demonstrou várias vezes isso. Quando me foi buscar ao Estoril, poucos acreditavam em mim. As pessoas diziam que fui para o Estoril já sabendo que ia para o Sporting, mas é completamente mentira. Antes de eu ir para o Estoril, depois de rescindir o meu contrato na Arábia, fui oferecido ao Jesus e ao Sporting. E ele não me quis. Depois de três ou quatro meses é que me foi contratar. Isso demonstra que confiava em mim e por isso colocava-me em várias posições, mesmo em momentos complicados dos jogos. Com ele temos de estar sempre ao mais alto nível, seja em cinco ou em 90 minutos.

Confirma que o Jesus se opôs à sua saída do Benfica?
Foi muito complicado, aconteceram coisas, havia outros interesses. Eu era novo, disse que queria sair, depois disse que não queria sair. Foi bom financeiramente para mim e para a minha família. Se fosse agora, não sei se sairia outra vez. Podia esperar e sair para outro lugar, mas não me arrependo. Tomei a decisão e tracei esse caminho. A decisão foi minha. Podia ter esperado? Se esperasse, se calhar não tinha feito a carreira que fiz.

O Jorge Jesus já falou consigo desde que chegou a Penafiel?
Eu tenho uma relação muito boa com o preparador-físico dele, o Mário Monteiro. É muito meu amigo. O Jorge já deve saber que estou em Penafiel, mas ainda não me disse nada.