A época nem está a ter um início particularmente feliz para o Paços de Ferreira, como atesta a recente eliminação na Taça de Portugal, frente ao Vilafranquense. Mas isso não invalida que a máquina pacense tenha mais um talento a despontar. Como outrora Diogo Jota, Josué, Diogo Figueiras, Luisinho, Sérgio Oliveira ou até os misters Rui Vitória e Paulo Fonseca. Os últimos anos têm sido prolíferos por aqueles lados e há mais talentos na forja.

Pedrinho é um deles.

Chegou do rival Freamunde, onde já tinha trabalhado com Carlos Pinto, impôs-se rapidamente e pegou de estaca. Já soma três golos, o último belíssimo, na conversão de um livre frente ao Desp. Chaves. Tem sido um dos destaques maior da equipa e, aos 23 anos, é um jogador apetecível para outros voos.

Já o era. «Tive quatro, cinco propostas da Liga no início da época», confessa nesta entrevista ao Maisfutebol, onde conta um pouco mais sobre o inicio da carreira, passado no pelado do Cristelo, em Paredes, onde jogava e…praticamente morava. «A minha casa era pegada ao campo», lembra.

Passado, presente e futuro de uma das revelações do primeiro terço da Liga 2016/17.

Tem sido um início de época agitado para o Paços de Ferreira, mas sempre com o Pedrinho a criar jogo. Que balanço faz destes primeiros meses?

Individualmente acho que está a ser um bom começo. Estamos a pecar um bocado pelos resultados que não estão a ser o que desejamos. Mas vejo margem de crescimento. Temos um plantel cheio de qualidade. Por esta ou por aquela razão não temos conseguido apresentar os níveis de qualidade que queremos. Mas o melhor está para vir.

A nível individual, este arranque de temporada está a superar as suas expectativas?

Não. Tenho confiança em mim e no meu trabalho. Era este o meu objetivo: chegar à Liga. Agora estou a conseguir fazer o que quero, onde quero. Tal como disse há pouco para a equipa, o melhor Pedrinho ainda está para chegar.

Vinha confiante para chegar e ser logo titular?

Trabalho para conseguir atingir esse objetivo, que é jogar sempre. Tenho sido aposta e agora há que continuar a trabalhar para continuar a ser uma aposta regular no onze e continuar a fazer boas exibições.

Carlos Pinto foi importante na vinda para o Paços de Ferreira?

Sim, claro. Estaria a mentir se dissesse que não. Mas o principal motivo de vir para cá foi mesmo o próprio clube. É um clube estável e eu queria estabilidade nesta fase da minha carreira, que é decisiva. E também na minha vida privada. Estava a precisar de um clube que me desse essa estabilidade. E também é um clube bem perto de casa e estava à procura disso nesta fase da minha vida. Acho que tudo encaixou. E, claro, o mister Carlos Pinto é uma pessoa de quem gosto. Gosto de trabalhar com ele.

É fácil trabalhar com ele?

É fácil, sim. Quem for bom profissional terá sempre o Carlos Pinto a defende-lo até à morte, quem não for sabe que terá ali um problema. O Carlos Pinto gosta de bons profissionais e a partir do momento em que um jogador é bom profissional terá todo o apoio dele, jogue bem ou mal. O que importa é o profissionalismo.

Como é o grupo que encontrou em Paços?

É animado. Se fosse um mau grupo, a esta hora, dada a posição na tabela, o nosso ânimo seria diferente. Se formos ao balneário vamos encontrar um grupo a rir. Uma anedota para aqui, uma brincadeira para ali. Isso demonstra que temos um bom grupo e que temos tudo para crescer.

E também confiança de que a situação vai mudar…

Sem dúvida. Acho que a qualidade que temos conseguido nos treinos vai começar a sair nos jogos também. Temos feito bons jogos mas não tão bons como queremos e os resultados não estão a ser o que realmente queríamos. Temos de trabalhar para dar a volta a isso.

Já o vimos jogar a 10, a 8, até mais encostado a uma ala. Afinal que tipo de jogador é o Pedrinho?

A minha posição é a 10. Nas duas últimas épocas foi ali que joguei. Apresentei uma boa regularidade. Fiz duas boas épocas, principalmente a última. Mas temos de nos ajustar ao que o treinador pede. Se me pedir para jogar a defesa direito, como já o fez, jogo sem problema.

Mas no Paços tem mais preocupações defensivas, não é?

Sim, estou um pouquinho mais recuado do que estava nas outras épocas. Faço o que o treinador me pede. A adaptação está a ser fácil. Um bom jogador de futebol tem de entender todos os momentos do jogo e é isso que eu procuro entender. Por isso é que já joguei a defesa direito, já joguei a extremo. Se calhar é porque os treinadores sabem e acham que eu entendo bem o jogo e isso torna a minha tarefa mais fácil.

Frente ao Desp. Chaves, em dois livres, marcou um e o outro só não entrou porque o guarda-redes fez uma grande defesa. É um tipo de lance que treina muito?

Não é que se treine muito... É como ser jogador de futebol: quem nasce com talento, se trabalhar será jogador. Isto é uma coisa que veio comigo desde miúdo. Sempre tive essa característica de conseguir bater bem as bolas paradas. Vou treinando durante a semana e isso depois reflete-se no jogo. A equipa confia em mim, tal como eu confio se for outro a bater.

No ano passado fez 13 golos na II Liga. É certo que o campeonato tinha mais jornadas, mas acha possível igualar estes números este ano?

Não é fácil. Mas não é impossível, apesar de estar mais recuado e ter uma tarefa diferente no jogo da equipa. Já levo três, dois de bola parada. Vamos lá ver... Acredito que posso chegar lá perto.

O que seria um bom campeonato para o Paços?

O Paços está habituado a trabalhar para chegar à Europa. Sabemos as dificuldades que isso traz. No ano passado falhou por um ponto e isso demonstra a grande dificuldade para conseguir esse objetivo. Que nem sequer é aquilo que nos pediram. É uma ambição de toda a gente, uma espécie de segunda meta. Para o grupo seria fantástico, para o clube também porque valoriza-se ainda mais. É um clube em crescimento. Se calhar, na Liga é o clube que tem uma margem de progressão maior e também é uma das razões por que estou aqui.

Havia um plano B ou sempre quis ser jogador de futebol?

Sempre. Sempre. Morei praticamente num campo de futebol. Cresci com uma bola, basicamente.

Isso é curioso…

Mas é verdade. Tenho muito orgulho em dizer isso. Venho de uma família muito humilde. Cresci num campo de futebol, em Cristelo, que é a minha terra. A minha casa era pegada ao campo de futebol. Não dava para ser outra coisa. Se Deus quiser, o meu irmão há de seguir também este caminho. Está agora nos juniores do Freamunde. Era impossível ter outro sonho a não ser este. Deixei a escola cedo, o meu foco foi sempre o futebol, era louco por uma bola. Quando tinha cinco anos já andava no meio da equipa principal do Cristelo. Gostava de andar lá a brincar com eles, ainda me lembro disso.

Pedrinho nos tempos do Cristelo

O Pirlo dizia recentemente que foi para o futebol porque não sabia fazer mais nada.

É basicamente isso. Quando se tem um sonho não entra mais nada na cabeça. Quando começas a acreditar, quando acreditas em ti, quando queres mesmo aquilo, e eu queria, é meio caminho andado para se ter sucesso.

Para jogador de futebol, o Pedrinho é relativamente baixo. Nunca lhe disseram que isso poderia ser um problema?

Ufff (risos). É a frase que mais ouvi até hoje no futebol! O Messi não é alto, o Iniesta não é alto, o Modric não é alto, o Xavi não é alto. E são ou foram dos melhores do mundo. Quando se tem qualidade, com trabalho, isso será um pormenor no meio de outros tantos. Ainda hoje brincam comigo sobre isso, mas é um pormenor.

Acha que o futebol está demasiado físico?

Depende da mentalidade da equipa e do treinador. Vai muito por aí. Nem é isso que me preocupa. Nem penso que é uma desvantagem ser mais baixo do que os outros.

Quem são os seus ídolos no futebol?

Português, tirando o Ronaldo que não é deste planeta, gosto e refencio-me no João Moutinho. Tem uma regularidade muito interessante. Atingiu um patamar alto, poderia ter conseguido ainda mais. É o jogador que mais gosto. A nível mundial, gosto do Modric e do Iniesta. São diferentes mas quem gosta de futebol gosta daqueles dois.

Procura neles alguma coisa para o seu jogo?

Temos de ser um bocadinho únicos. Quando digo referências falo de inspiração. De quem gosto. Gosto de me sentar num sofá e ver o Modric ou o Iniesta a jogar. Deixam-me sem palavras. São fenomenais.

Chegar à seleção nacional passa-lhe pela cabeça?

Não é um objetivo, temos de ser realistas. A seleção está com jogadores com uma tremenda qualidade. Por isso, não é um objetivo, é um sonho porque toda a gente tem o direito de sonhar. Há casos que começaram de baixo, tarde e conseguiram lá chegar. O André André por exemplo. O próprio Deco que veio tarde mas chegou e com uma qualidade abismal. É um sonho que sei que é muito, muito, muito complicado. Mas é um sonho... Sei da qualidade que há, principalmente no meio campo, a quantidade de opções que existem e jovens, como Renato Sanches, André Gomes, João Mário ou os jogadores dos sub-21 que têm feito grandes resultados. Nota-se bem a dificuldade que é lá chegar. Mas é um sonho. Tudo a seu tempo (risos)

PARTE II | A rivalidade Paços-Freamunde: «Vi quem são os meus amigos»