Se a leitura feita por analistas, treinadores e adeptos estiver certa, o ponta-de-lança português pode muito bem ser uma figura mitológica. Uma espécie de unicórnio do nosso futebol. É mesmo assim ou esta ideia está inquinada de injustiça?

No momento em que a Seleção Nacional abre um novo ciclo, o Maisfutebol entrevista João Silva e ouve o contraditório. Nascido na Vila das Aves há 24 anos, João transferiu-se no início de setembro para o Palermo, clube da Serie A italiana, e propõe-se a desfazer a tese do primeiro parágrafo.

Técnica e morfologicamente preparado para a função de goleador – 20 golos nas duas últimas épocas, 186 centímetros de altura e 80 quilos de peso – João Silva sente que está a chegar a altura de atingir o principal patamar das representações nacionais.

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Depois de ter sido internacional sub19 e sub21 (3 golos), o homem que trocou o Desportivo das Aves pelo Everton em 2010 volta a criar grandes expetativas em relação à sua carreira.

Estará na Sicília a solução para a posição-9 da Seleção Nacional?


Depois da passagem pelo Everton (com cedências a V. Setúbal e U. Leiria), da transferência para o Levski e da mudança para o Bari, como analisa esta chegada à Serie A?
«Com responsabilidade. Muita responsabilidade. Sinto que a minha visibilidade aumentou e se fizer golos, como tenho feito nas épocas anteriores, posso ser recompensado».

Está a dizer que pode ser o ponta-de-lança da Seleção Nacional a curto prazo?
«Sinto-me com muita vontade de ir à seleção. Vai chegar a minha vez. Sei que não é para todos estar na seleção e representar o país. Tenho de jogar regularmente no Palermo e marcar golos. Estar ao lado Cristiano Ronaldo não é para qualquer um. Só depende de mim, mas já mostrei que sei fazer muitos golos».

Costuma dizer-se que não é fácil fazer golos na Serie A. Aceita a ideia?
«No campeonato italianos não se podem falhar golos. Há menos oportunidades para marcar, claramente. Por isso, se eu fizer uma boa temporada e chegar a um número interessante de golos, ainda me sentirei mais feliz. Estou aqui, jogo na Serie A, olhem para mim».

Durante os quatro anos de Paulo Bento na seleção nunca teve contatos com ele?
«Falámos uma vez, mas eu estava ainda nos sub21. Elogiou o meu trabalho, nada de especial, nada de concreto. Mantenho uma boa relação com o Rui Jorge, mas agora tenho é de conquistar o mister Fernando Santos. Estou aqui em Itália, repito, pronto para tudo. Tenho a certeza que vamos ao Euro2016 e sonho com a minha presença. Sonhar é grátis».



Curiosamente, a sua transferência para o Palermo chegou a estar em risco. O que aconteceu?
«Sei que toda a documentação foi enviada a tempo pelos responsáveis do Bari e do Palermo. Depois disseram-me que houve um problema no sistema informático da federação e que, por 33 segundos, a transferência não seria validada. Estava bem no Bari e continuei tranquilo. Acreditei que tudo ia ser esclarecido, como foi. E lá cheguei à Serie A».

Está há pouco mais de um mês no Palermo e estreou-se em Nápoles. Como correu?
«Joguei 26 minutos num ambiente de doidos. Fantástico. Quero mais e estou a treinar bem para ser titular e fazer golos rapidamente. Fui o último jogador a integrar-me no plantel e sei como as coisas funcionam em Itália. Foi um grande passo para minha carreira, depois de ter dado um para trás ao aceitar jogar na Serie B».

Os sicilianos são um povo apaixonado por futebol. Como está a conviver com a experiência de viver e jogar nessa ilha italiana?
«As pessoas vivem tudo com intensidade máxima, é verdade. O Palermo é o único clube da Sicília na Serie A e o estádio está sempre bem composto. Vivo numa cidade bonita, num clube ambicioso e sei que vamos fazer um campeonato bom. Tenho estado a viver no hotel, mas já comprei casa. O clima é ótimo, a praia é fantástica e a comida excelente. Não sou muito esquisito, adapto-me bem a tudo e passo muito tempo em casa, não sou de sair. Já falo bem italiano e comunico sem problemas».

Coletivamente o campeonato não está a correr bem: o Palermo ainda não venceu…
«Estamos a jogar bem, a praticar bom futebol, mas a derrota contra o Empoli (3-0) foi muito má. Empatámos contra o Inter e o Nápoles, sempre a jogar bem. Contra a Lazio perdemos 4-0 e podíamos ter ganho, não estou a exagerar. Foi um jogo estranhíssimo».

Números de João Silva no futebol sénior:

. 2009/10: Desp. Aves, 33 jogos/14 golos
. 2010/11: U. Leiria (emp. Everton), 12 jogos/4 golos
. 2011/12: V. Setúbal (emp. Everton), 21 jogos/4 golos
. 2012/13: Levski Sofia, 31 jogos/12 golos
. 2013/14: Bari, 44 jogos/8 golos
. 2014/15: Palermo