*Enviado-especial ao Euro 2016
A Croácia é o adversário que se segue, este sábado, em Lens, nos oitavos de final do Euro 2016. Portugal vai ter pela frente o mais técnico dos rivais até aqui, e também um dos que mais bem tem jogado. O MAISFUTEBOL olhou um pouco para a equipa de Ante Ancic, e apresenta-lhe aqui algumas das suas principais ideias de jogo.
Dois selecionadores, 29 jogadores utilizados na fase de qualificação e nos primeiros três jogos do Euro 2016. Niko Kovac resistiu até à derrota na Noruega (2-0), que fez a Croácia cair, a dois jogos do final da fase de qualificação, para o terceiro lugar, atrás dos nórdicos e da Itália. Ante Cacic pegou nas rédeas da equipa nos confrontos de dificuldade relativa com Bulgária (3-0) e Malta (0-1), e teve a notícia que esperava vinda de Roma: 2-1 para a squadra azzurra na receção aos noruegueses, que permitia aos croatas terminar no segundo posto do Grupo H.
Uma orquestra com grandes solistas sem maestro a condizer
Cacic montou a equipa preferencialmente em 4x2x3x1, encontrou em Badelj o pivot defensivo que daria um pouco mais de liberdade e verticalidade a Modric. Entregou a Rakitic a posição 10, e apostou no crescimento do jovem Pjaca, que aos poucos tem adquirido algum protagonismo.
Uma derrota em jogos competitivos
A fase de qualificação – já se sabe, com dois selecionadores – teve seis vitórias, três empates e uma derrota, a tal frente à Noruega. Somou duas igualdades com a Itália, ambas por um golo, e um nulo na visita ao Azerbaijão. Marcou 20 golos e sofreu cinco. Entrou no Europeu com um 1-0 frente à Turquia, empatou depois a dois golos num final estranhíssimo frente à República Checa e, por fim, venceu a campeã em título Espanha por 2-1, e com isso o seu grupo. Ou seja, juntou aos tais 20 mais cinco marcados e apresenta um total de oito sofridos.
Na parte final do apuramento, Cacic deixou de fora alguns jogadores que contribuíram ainda bastante para o apuramento, casos de Ivica Olic e Danijel Pranjic, e ainda o central do Liverpool Dejan Lovren, com quem mantém um diferendo há bastante tempo.
O adversário de Portugal nos oitavos de final tem como referências os seus cérebros: Modric, que tem como ponto de partida o duplo-pivot, e Rakitic, mais à frente, como principal criador de passes de rotura. No entanto, a forma de Perisic impressiona. O avançado do Inter marcou oito golos entre a fase de qualificação e o Euro 2016, dois dos quais nos últimos dois encontros. Modric, o companheiro que chega mais perto, apenas assinou três. Perisic, descaído sempre para um dos flancos, a maior das vezes para a esquerda, apresenta-se muito confiante e rápido no arranque, e será uma ameaça constante para a baliza portuguesa.
A Croácia mostra-se igualmente um conjunto muito fluido, sendo já considerada uma das com melhor futebol praticado em França. Dos 25 golos apontados, 21 foram em situações de bola corrida. Acrescentou a estes mais dois na sequência de livres indiretos e um de pontapés de canto – em ambas situações Rakitic foi fundamental –, e um penálti.
Rakitic, com quatro assistências, justifica completamente a posição que ocupa no terreno. Modric, Perisic e Kalinic somaram duas nestes dois anos.
No aspeto defensivo destaque para cinco golos em oito sofridos de bola corrida – sublinhem-se dois remates certeiros à entrada da área e um cabeceamento após cruzamento da direita – e três de bola parada – dois penáltis e um livre indireto.
A DEFENDER
Pressão – usada como estratégia, consoante o momento do jogo. Alta, a tentar provocar o erro, ou mais posicional, no seu meio-campo, para apanhar o adversário descompensado. O golo do triunfo frente à Espanha começa junto à sua área, num bloqueio a um remate, desenvolvendo-se depois uma transição veloz, que começa num passe a queimar linhas de Pjaca, chega a Kalinic e depois ao remate de Perisic, que faz a bola entrar junto ao poste de De Gea. O seu, o primeiro, aquele que fica mal a qualquer guarda-redes.
Não foi só nesta altura, perto do final, que a Croácia abdicou da pressão, já estava à espera da Espanha no seu meio-campo praticamente depois do intervalo.
Por outro lado, o golo espanhol resulta de uma pressão ineficaz dos croatas, com os blocos muito afastados, e que permitiu à Roja colocar rapidamente a bola entre linhas e criar uma bela jogada que envolveu o passe de rotura de Silva, a entrada de Fàbregas ao primeiro poste e o cruzamento para Morata.
Reação à perda – muito rápida, em bloco, para atrasar a construção do adversário ou recuperar a bola, sobretudo se acontece no seu meio-campo. Intensidade forte a meio-campo, que pode criar problemas a jogadores com capacidade de decisão mais lenta.
Jogo aéreo – alguma fragilidade aparente no jogo aéreo, embora tenham um central alto – Corluka, 1,92 metros. O outro titular, Vida, tem menos oito centímetros e o lateral-direito Srna menos 10. Se a estes juntarmos Modric (1,72), Kovacic (1,78), Jedvaj (1,84), por exemplo, a seleção de Antic pode ter, por vezes, uma média baixa de alturas, o que pode explicar algumas dificuldades.
A ATACAR
Contra-ataque – a Croácia sente-se obviamente bem com a bola, mas torna-se preferencialmente perigosa em contra-ataque. Perisic apresenta-se aí, muitas vezes sobre a esquerda, como o jogador que mais vezes define as jogadas, sendo com assistências ou com golos. Com dois bons pés e rápido a sair do drible, é um dos maiores desequilibradores do plantel de Antic.
Futebol direto – poderá parecer estranho que uma equipa que gosta tanto da bola possa de vez em quando tentar outro tipo de jogadas, mas com Perisic e Mandzukic na frente é até comum que uma das saídas seja feita pelo central Corluka, a tentar chamar a jogo um destes avançados.
Bolas paradas – livres e cantos são de Rakitic, que provocou alguns estragos nas defesas contrárias durante a fase de qualificação. Os cruzamentos saem sempre muito perigosos, carregados de açúcar.
Profundidade – é dada sobretudo pela direita, pelo veterano Srna, que chega ainda muitas vezes à linha com força ainda para cruzar. Perisic e Mandzukic (ou Kalinic, quando é ele) são os alvos.
Ordem para atirar – à entrada da área não pede licença. Basta ver o golo de Modric frente à Turquia, quando praticamente nada o fazia prever, para explicar o que se passou em muitos jogos da fase de apuramento. E que tiveram resultado nos golos de Brozovic e Perisic na goleada à Noruega (5-1), por exemplo.
GOLOS
8 – Perisic; 3 – Modric; 2 – Kramaric, Brozovic, Rakitic e Kalinic; 1 – Olic, Schildenfeld, Pranjic, Mandzukic, Bodurov (Bulgária) e Sadygov (Azerbaijão).
21 – bola corrida; 4 – bola parade (2 – livres indiretos; 1 – penálti; 1 – canto).
Golos sofridos:
5 – bola corrida; 3 – bola parada (2 – penáltis; 1 – livre indireto).
ASSISTÊNCIAS
4 – Rakitic; 2 – Kalinic, Modric e Perisic; 1 – Jelavic, Srna, Pranjic, Olic, Mandzukic e Brozovic
PONTOS FORTES
Enorme talento individual do meio-campo para a frente, com muitas soluções para os vários lugares, e luta intensa. Kalinic tem-se aproximado de Mandzukic, Pjaca está no limiar da titularidade, Brozovic é um box-to-box que pode entrar a qualquer instante. Rakitic e Modric são jogadores de classe mundial, e falta a afirmação de Kovacic, que parece tardar.
Dinâmica a meio-campo e no ataque, sempre muito intensa.
Capacidade de gerir os diversos momentos do jogo, adaptando-se.
A inteligência e a classe de Modric e Rakitic, a forma de Perisic e a sempre objetividade e capacidade física de Mandzukic – embora já ande há algum tempo afastado dos golos em jogos competitivos –, além da irreverência de Pjaca, sempre pronto a mexer com o jogo.
PONTOS FRACOS
Algumas fragilidades defensivas, sobretudo em bolas paradas.
A falsa de uma solução para o duplo-pivot que não contemple Modric.
Falhas na pressão alta em bloco.
Strinic foi o lateral-esquerdo (é o único de raiz nos 23) escolhido para os dois primeiros jogos da fase final, voltando a ser solução na seleção croata dois de muitos meses sem jogos competitivos. Vrsaljko substituiu-o frente à Espanha, no que terá sido uma decisão de gestão de esforço. O lado esquerdo da defesa parece longe de estar consolidado ainda.