Este Campeonato da Europa tem vindo a quebrar convenções e este sábado caiu uma das mais inabaláveis da história dos Europeus: pela primeira vez a Alemanha ultrapassou a Itália num jogo a eliminar numa fase final. É verdade que foi só no desempate por grandes penalidades, depois de um empate 1-1 no final do prolongamento, mas é a primeira vez que a Mannschaft passa pela Squadra Azzurra e segue em frente. Uma verdadeira final antecipada entre dois monstros crónicos candidatos que deixaram bem patente em campo o respeito que nutrem um pelo outro num grande jogo de futebol.Foram precisos 120 minutos de jogo e dezoito penálties para encontrar o vencedor.

Confiora a FICHA DO JOGO

A constituição das equipas demonstrou, desde longo, as reticências que Joachim Löw tinha por esta Itália, não só pelo percurso da equipa de Antonio Conte neste Europeu, mas sobretudo pelo peso da história. A «squadra azzurra» nunca tinha perdido um jogo com a Alemanha numa fase final e, mais do que isso, nos jogos a eliminar, ganhou quatro vezes a Mannschaft - foi assim na meia-final do Mundial 1970 (4-3), na final do Mundial 1982 (3-1), na meia-final do Mundial 2006 (2-0) e na meia-final do Euro 2012 (2-1).

Nesse sentido, Joachim Löw prescindiu de Mario Draxler, que tinha sido a figura na vitória sobre a Eslováquia (3-0), para reforçar a defesa com Höwedes, jogando, tal como a Itália, com três centrais. Um onze bem mais conservador, com Kimmich e Hector nas laterais na mesma linha de Khedira e Kroos, apenas com Özil e Müller no apoio a Mario Gomez.

Antonio Conte, por seu lado, não pode contar com De Rossi, que não recuperou da lesão que sofreu diante da Espanha, mas manteve-se fiel ao habitual figurino, também com três centrais, mas com uma linha de cinco no meio-campo, juntando Sturaro a Parolo e Giaccherini.

Dois esquemas que criaram um impasse tático no jogo, com a Alemanha a tentar assumir a iniciativa, mas com poucos espaços, e a Itália a tentar responder em contra-ataque, mas sem conseguir profundidade nos passes longos de Bonucci. Muito choques a meio do campo e uma primeira contrariedade para Löw, com Khedira a apresentar queixas numa virilha e a pedir a substituição. Entrou Schweinteiger, para manter os equilíbrios, um pouco mais adiantado do que que Kroos, mas também sem conseguir abrir brechas na bem fechada defesa transalpina.

O jogo prosseguiu com um ritmo muito baixo, com as duas equipas a exercer forte pressão na zona de construção. Do lado italiano, Éder encostava logo em Kroos, impedindo que o médio do Real Madrid desse início à fase de construção. Do lado contrário, Müller também caía logo em cima de Bonucci para impedir que a Itália saísse com os longos pontapés do central. Marcações que se alastravam a todo o campo, em zonas mais baixas ou mais altas do terreno, mas que asfixiavam qualquer tipo de futebol fluído. Até ao intervalo apenas o registo de uma cabeçada de Mario Gomez depois de um bom cruzamento de Kimmich.

Com os ajustes feitos ao intervalo, as duas equipas, à sua maneira, encontraram mais espaços para respirar no segundo tempo. A Itália fez subir os laterais e, por momentos, conseguiu fazer a Alemanha recuar. Mas foi a deslocação de Mezut Özil para as alas que provocou os desequilíbrios mais evidentes. Logo a abrir, grande passe de Schweinsteiger para Mario Gomez amortecer para o remate de Müller para uma espetacular defesa de Florenzi, com o calcanhar, já com Buffon batido. Um lance que dava conta das novas movimentações da Alemanha que parecia decidida a quebrqar todos os pactos. A Itália via-se em dificuldades e, com uma série de faltas, começava a perder jogadores para a meia-final que perseguia. Numa fuga de Mario Gomez pela esquerda, nasceu o golo da Alemanha. O avançado combinou com Hector e o lateral cruzou para a entrada de rompante de Özil que desviou junto ao primeiro poste, num lance dividido com Giaccherini.

A Itália perdeu a concentração por momentos e a Alemanha podia ter acabado com o jogo logo a seguir. Grande passe de Özil, Mario Gomez recebe com o peito e remata de calcanhar para defesa apertada de Buffon que vinha ao seu encontro. A Alemanha estava claramente por cima quando um erro tremendo de Boateng recuperou a Itália novamente para a contenda. O central do Bayern fez-.se a um lance, nas costas de Chiellini, de braços ao alto e acabou por desviar uma bola com o braço em plena área. Grande penalidade clara que Bonnuci converteu em golo.

Faltavam doze minutos para o fim e o equilíbrio tático voltava a impor-se no relvado. Um equilíbrio que prosseguiu no prolongamento, com um ligeiro ascendente da Alemanha e uma oportunidade de Draxler, mas sempre com a preocupação bem patente de não correr riscos e deitar tudo a perder. Cautelas que levaram o jogo para as grandes penalidades, para um duelo de gigantes entre os postes. Neuer de um lado, Buffon do outro. Foram precisos dezoito pontapés para a Alemanha marcar seis e a Itália cinco.

A Alemanha fica agora à espera do resultado do jogo deste domingo entre a anfitriã França e a sensacional Islândia para saber com quem vai discutir um lugar na final.

Estatísticas do jogo: empate em quase todos os parâmetros