* Enviado-especial do Maisfutebol aos Jogos Olímpicos
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Natural da Bahía, José Roberto Gama de Oliveira, o eterno Bebeto, chega ao Flamengo com 21 anos e integra uma equipa de sonho: Mozer, Adílio, Zico… Aos 27 muda-se para a Corunha e é no Riazor que escreve uma história bonita na Europa.

Neto de uma portuguesa, Bebeto recorda o dia em que Pinto da Costa o desafiou para jogar no FC Porto e elogia o comportamento da Seleção Nacional no Campeonato da Europa de 2016. Compara-a, de resto, ao seu Brasil campeão do mundo nos EUA.

Em exclusivo ao Maisfutebol, numa longa conversa na sua sala de estar, o antigo avançado, hoje com 52 anos, prova estar num excelente momento de forma.

Os melhores que conheceu? Zico, Romário, Ronaldo Fenómeno e D10S Maradona.

Nunca teve um convite para jogar em Portugal?
«Por acaso tive. Eu ainda jogava no Flamengo e o FC Porto tentou contratar-me. Mas eu não queria sair do Rio de Janeiro nessa altura. Foi no período em que o Bayern e a Juventus também tentaram. O Uli Hoeness veio cá, ficou doido comigo e acertámos tudo. Mas o presidente do Flamengo não aceitou a oferta. E fui ficando».

Acaba por sair do Brasil já tarde, aos 27 anos. Porquê?
«Eu adorava e adoro morar no Rio de Janeiro. A Juventus fez tudo para me ter. E o Vasco da Gama igualou o salário que a Juventus me oferecia. Preferi escolher o Vasco: ganhava o mesmo dinheiro e vivia na minha cidade de eleição».

Na Europa escolhe o Deportivo. Não teve convites de clubes maiores?
«Antes de ir para o Deportivo, o Borussia Dortmund tentou. E só fui para a Espanha porque a minha esposa me convenceu. Disse que para as crianças seria bom experimentar outra cultura. E lá fui para a Corunha. Queria a liga espanhola».

Como foi o processo que o convenceu a ir para o Riazor?
«O presidente Lendoiro veio cá a casa. Eu disse-lhe: ‘se o Deportivo não descer, eu prometo ao senhor que vou para lá’. Bem, algumas semanas depois recebo o telefonema dele: ‘conseguimos, conseguimos, você tem de vir’. Foi a melhor opção que tomei na minha carreira. Tenho um amor muito grande pelas pessoas da Corunha. Sempre que vou lá é uma festa. Nem posso andar na rua, mexe muito comigo».

Acaba por ficar quatro temporadas.
«As pessoas de lá faziam tudo por mim. Uma vez o meu filho esteve muito mal na Corunha. Uma infeção intestinal. O Roberto. Ficou magrinho. Eles foram fantásticos na ajuda que lhe prestaram. E essas coisas não se esquecem. Eu fui jogar contra o Real Madrid e quando voltei ele já estava melhor. Foram quatro dias de pesadelo».

Curiosamente tem familiares portugueses. Sente essa ‘costela’ lusitana?
«Olha, posso confessar que vibrei com a final do Europeu aqui em casa. Torci muito por Portugal. Aliás, fiz uma previsão para um jornal e incluí Portugal nos favoritos. Gostei muito da forma como o Quaresma entrou nos jogos, dos dois centrais [Pepe e Fonte] e daquele menino que joga muito bem, o Raphael Guerreiro. A equipa era muito coesa, com as linhas bem definidas e juntinhas. Fez-me lembrar o Brasil de 94. Eu via Portugal jogar e dizia sempre que me fazia lembrar a nossa equipa de 1994. Senti isso».

Não temeu a derrota quando o Cristiano Ronaldo se lesionou?
«Quando o Ronaldo se lesionou eu fiquei muito confiante. Ao contrário do que sucedeu com o Neymar. Lesionou-se aqui no Mundial de 2014 e foi um drama, uma histeria. Portugal perdeu Ronaldo e a equipa não entrou em pânico».

Falou do Neymar, mas quem foi o melhor colega de equipa que teve?
«O Zico foi o melhor jogador que vi nas minhas equipas. Inspirei-me sempre nele, é um exemplo. Dava-me boleias, ficávamos a treinar juntos. Nunca esquecerei o que ele fez por mim. Acho que está novamente para a Índia. Depois… o Ronaldinho Fenómeno e o Romário. Adversários? O Maradona, meu amigo, o Maradona».