Por Rita Pereira


«Foi o pior dia da minha vida.» É assim que Fábio Faria descreve o dia 4 de fevereiro de 2012. No jogo entre o Moreirense e o Rio Ave revelaram-se os problemas cardíacos que obrigariam mesmo o jovem jogador a abandonar o futebol, aos 23 anos.


O futuro passa agora pela formação superior e pelo curso de Gestão do Desporto, apoiado pelo Projeto Solidariedade do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol. Fábio Faria recebeu esta terça-feira um cheque-formação que resulta de uma parceria entre o Instituto Superior da Maia (ISMAI) e o Sindicato.


Sendo o primeiro a beneficiar de um cheque-formação, o antigo atleta do Benfica é o embaixador do projeto. Na cerimónia de entrega do cheque, Fábio Faria confidenciou que espera «ser um exemplo de que é preciso continuar a trabalhar», mesmo quando a carreira no futebol termina cedo.


Os momentos difíceis que passou não foram esquecidos pelo jovem de 23 anos, que garante estar «muito agradecido» ao Sindicato, mas acima de tudo ao «Benfica, que tem cumprido o contrato assinado». «Nunca vou esquecer o que Luís Filipe Vieira tem feito por mim», afirmou o ex-defesa.


O Projeto Solidariedade, explica o Sindicato, é um «apoio oferecido àqueles que, dando tanto ao futebol, por circunstâncias da vida, se encontram a atravessar um período difícil». O Projeto Solidariedade é «ativado pontualmente e quando se justifica fazê-lo», afirma Joaquim Evangelista, presidente do organismo. «É dever do sindicato estar ao lado dos jogadores com mais dificuldades, seja ao nível da saúde, questões económicas ou sociais. Este apoio não pode ser só com palavras, tem de ser com atos concretos», esclarece o dirigente.


Evangelista garante que este projeto é importante «sobretudo para os jogadores», para que «tenham consciência de que existe uma entidade que não deixa de estar preocupada com a sua atividade», principalmente quando «sofrem eventualidades». «A preparação dos jogadores é uma prioridade. Um jogador melhor qualificado pode ter mais oportunidades noutra atividade e até no desporto», explicou o presidente do Sindicato, que considera Fábio Faria «um exemplo de alguém que está a perspetivar o futuro».


O Projeto de Solidariedade do Sindicato dos Jogadores, que tem como lema «Por ti, pelo Jogador, pelo Futebol», não se limita a promover a formação dos atletas, sendo que também ajudou outros jogadores, em situações muito diferenciadas. São os casos que se seguem.


Artur Correia e um AVC aos 30 anos

Tinha a alcunha de “ruço”, pelos cabelos aloirados e foi considerado um dos melhores defesas direitos da Europa na década de 70. Entre passagens pelo Sporting, Académica, Benfica e New England Tea Men, Artur Correia conquistou seis campeonatos nacionais e uma Taça de Portugal.


Na última época no Benfica foi-lhe detetada uma pleurisia – uma inflamação na pleura- e esteve afastado dos relvados alguns meses. Com apenas 30 anos, sofreu um AVC, que lhe arruinou, precocemente a carreira.
Em 2009, Artur Correia foi o primeiro visado do Projeto Solidariedade do Sindicato de Jogadores, com um prémio monetário de valor não divulgado.


José António, 27 anos e uma doença neurológica

José António passou pelo Leixões e pelo Desportivo das Aves, mas abandonou o futebol com apenas 27 anos, na época 2003/2004. A causa prendeu-se com uma doença: Esclerose Lateral Amiotrófica. Esta condição neurológica degenerativa caracteriza-se por, progressivamente, paralisar a força muscular de braços, pernas e todo o corpo e provocou o fim da carreira de José António.


O médio, hoje com 38 anos, também recebeu o apoio do Sindicato dos Jogadores, por intermédio do Projeto Solidariedade.


Humberto Miranda e uma mudança de vida

Humberto Miranda era um jovem jogador de 21 anos. Em 2005, dirigia-se, com o amigo e colega Mauro, para o Estádio Visconde do Vinhal, onde iria ter lugar mais um treino do Tourizense. Um violento acidente de viação provocou a morte de Mauro e mudou a vida de Humberto Miranda. O atleta esteve quatro meses em coma, sofreu a amputação das duas pernas e foi obrigado a abdicar do futebol.


Em 2008, no âmbito do Projeto Solidariedade do Sindicato de Jogadores, Humberto Miranda recebeu próteses articuladas para os membros inferiores, no valor de oito mil euros.


«A proteção social é fundamental, porque estamos perante uma atividade de desgaste rápido», afirmou Joaquim Evangelista no momento de entrega das próteses ao ex-jogador.

Moinhos, dificuldades financeiras e um transplante de coração

Moinhos começou a carreira no Vilanovense, notabilizou-se ao serviço do Boavista e acabou por se transferir para o Benfica, onde foi três vezes campeão, na década de 70. Em 2009, uma grave doença cardíaca obrigou o antigo internacional português a fazer um transplante que o deixou também com algumas dificuldades financeiras.


Através do Projeto Solidariedade, o Sindicato de Jogadores homenageou Moinhos, na altura com 61 anos, que recebeu um cheque no valor de cinco mil euros.


«Mais do que um gesto de ajuda esta é uma homenagem a Moinhos», disse o presidente do Sindicato dos Jogadores em 2010, quando foi anunciado o apoio.