Há jogos em que o marcador final diz uma coisa e a análise estatística outra bem diferente. Para não irmos mais longe, basta lembrar a análise ao Basileia-FC Porto, feita há três semanas pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona, em exclusivo para o Maisfutebol. Nessa ocasião, o 1-1 foi tradução imperfeita para o ascendente claro da equipa de Julen Lopetegui em quase todos os capítulos do jogo, menos no da eficácia.

Nesse sentido, bem pode dizer-se que o jogo desta terça-feira, no Dragão, foi o total acerto de contas com essa disparidade: desta vez, marcador, análise e estatística concordam em toda a linha com a total superioridade portista na noite que selou o regresso de uma equipa portuguesa aos oito melhores da Europa. E se na Suíça tinha sido a eficácia a deixar mal o dragão ( apenas um golo em 13 remates), desta vez a cobrança veio com juros, especialmente se nos fixarmos numa segunda parte em que o FC Porto marcou... três golos em outros tantos remates.



Esse não é o único dado a valorizar a eficácia portista no estudo feito esta noite pela Lusófona: se quatro golos portistas em dez tentativas impressionam, o facto de sete desses dez remates terem sido enquadrados com a baliza, obrigando o guarda-redes do Basileia a quatro defesas, é outro sintoma invulgar de que esta era daquelas noites em que a pontaria do dragão estava invulgarmente calibrada ( 70 por cento de acerto).

Curiosidade suplementar: mesmo sendo atropelado no Dragão, o Basileia, que tinha feito apenas um remate em sua casa, visou por seis vezes a baliza de Fabiano, três delas enquadradas com a baliza. Por outro lado, o facto de os quatro golos portistas terem surgido em remates de fora da área aponta para menos aproximações à área do que o habitual no FC Porto, como o ilustra o dado de nove remates em dez feitos de fora da área.



Três fatores terão contribuído para esse dado invulgar: a ausência de Jackson e as características diferentes de Aboubakar; o facto de Braimi ter marcado cedo, o que permitiu aligeirar a necessidade de «cair em cima» do adversário; e, finalmente, a lesão de Danilo, que retirou à equipa de Lopetegui um dos principais desequilibradores e alimentadores de corredor. Última curiosidade relacionada com remates e golos: os dois tentos de livre direto no mesmo jogo, por Braimi e Casemiro, são uma raridade que, na Liga dos Campeões, não se registava há mais de três anos.



Nos outros aspectos do jogo, a superioridade do FC Porto ilustra-se facilmente na elevada percentagem de perdas de bola nas primeiras fases de construção, por parte do Basileia, o que retirou fluidez e segurança à equipa de Paulo Sousa, permitindo aos dragões subir as linhas uns bons metros. E isso permitiu disfarçar alguma perturbação portista na circulação mais recuada: a percentagem de perda da equipa portuguesa também foi mais alta do que o normal, em especial nos últimos minutos, quando o apuramento já estava garantido.



Nas bolas paradas, a supremacia portista foi também evidente – além dos dois livres diretos, mais um livre e três cantos, originando uma situação de perigo relativo, contra duas situações sem finalização por parte do Basileia. A concluir, um dado que talvez seja a ilustração mais clara de um jogo de sentido único: o segundo golo do FC Porto, que acaba com as dúvidas quanto ao desfecho, nasce no primeiro lance da segunda parte, ao fim de 1.45 segundos de posse de bola e circulação contínua dos dragões.



Nenhum jogador do Basileia tinha conseguido ter a bola em seu poder quando Herrera embalou o FC Porto para os 45 minutos mais cirúrgicos dos últimos tempos. A oitava presença dos portistas nos quartos de final da Taça/Liga dos Campeões terá sido consumada, deste ponto de vista, com uma das noites mais inapeláveis e desafogadas do seu historial europeu.