A fortaleza foi uma imagem que Nuno Espírito Santo usou muito esta época para falar da solidez do FC Porto em casa. Mas agora os dragões enfrentam a grande fortaleza europeia: o Estádio da Juventus não vê uma derrota na Europa há quase quatro anos. A precisar de fazer algo inédito, virar fora uma derrota por 0-2, não há dúvidas sobre a dimensão da tarefa pela frente para o FC Porto e sobre as poucas probabilidades que tem a favor. Do seu lado, o dragão pode apoiar-se no bom momento de uma equipa que chega a Turim com a motivação em alta. E pode socorrer-se também de algumas boas memórias.

O mote da fortaleza do Dragão é assente em excelentes números dos azuis e brancos em casa. Para a Liga o FC Porto perdeu apenas dois pontos em casa, no empate com o Benfica. E sofreu uma só derrota nesta temporada, precisamente na primeira mão destes oitavos frente à Juventus. Mas os números da Juventus são incríveis. A última vez que perdeu um jogo em qualquer competição no seu estádio foi há mais de ano e meio, a 23 de agosto de 2015, frente à Udinese. São 46 jogos, 39 vitórias.

Esta época ganhou todos os jogos para o campeonato no Juventus Stadium: 15 jogos e 15 vitórias. Na Liga dos Campeões, no entanto, o registo não é tão eufórico: empatou os dois primeiros jogos no Grupo H, frente a Sevilha e Lyon, tendo ganho apenas o último, ao Dínamo Zagreb. Suficiente no entanto para terminar na frente do grupo.

Para encontrar a última derrota europeia da Juve em casa é preciso recuar a abril de 2013, quando o Bayern Munique venceu por 2-0, repetindo o resultado da primeira mão para seguir em frente. São a partir daí 20 jogos sem perder, entre eles 11 vitórias e nove empates.

A Juve está no novo estádio desde setembro de 2011 e só lá perdeu desde então cinco jogos. Apenas um deles por um resultado que serviria ao FC Porto: o 3-1 da vitória do Inter para a Serie A em novembro de 2011.

O histórico de confronto direto também não sorri ao FC Porto. Há a memória original e dolorosa da Juve, a derrota na primeira final europeia dos dragões, a Taça das Taças de 1984. Aqui, a recordação de Basileia. E depois o confronto da fase de grupos da Champions em 2001-02, um nulo nas Antas e uma vitória da Juve por 3-1 em casa.

O FC Porto já fez 13 jogos em Itália e conseguiu três vitórias. Mas o único resultado que serviria para uma reviravolta é o mais recente.

Este FC Porto, recorde-se, começou a temporada a dar a volta em Itália. No play-off com a Roma, depois do empate a um golo no Dragão. Se bem que com um adversário e um resultado original bem diferente, e também com circunstâncias muito especiais nessa segunda mão.

Os italianos tiveram dois jogadores expulsos entre o fim da primeira parte e o início da segunda e o FC Porto, já em vantagem graças ao golo de Felipe, embalou para uma vitória pot 3-0 que selou o apuramento para a fase de grupos da Champions. Nuno Espírito Santo recordou esse jogo na antevisão da decisão dos oitavos, para dizer que o FC Porto «está melhor agora».

Só por uma vez os dragões conseguiram de resto dar a volta a uma eliminatória europeia depois de terem perdido a primeira mão em casa. Foi em 2003, na caminhada que só acabaria em Sevilha, com a conquista da então Taça UEFA.

O adversário dos quartos de final foi o Panathinaikos, que venceu a primeira mão no Dragão, por 1-0. Do final desse jogo ficou para a memória a história das palavras que José Mourinho dirigiu ao eufórico treinador dos gregos, Sergio Markarian: «Não faças a festa porque ainda não acabou.»

O Panathinaikos, que já tinha sido de Fernando Santos nessa temporada, tinha um registo impressionante em casa, sem derrotas em dois anos. E o FC Porto nunca tinha ganho na Grécia. Mas aconteceu.

O FC Porto acreditou e Derlei empatou a eliminatória aos 16 minutos, depois de um passe de Hélder Postiga. E manteve-se no jogo até ao final dos 90 minutos, sem mais golos para qualquer dos lados. Seguia-se o prolongamento e aí apareceu de novo Derlei. O «Ninja» recebeu a bola e não a largou até voltar a introduzi-la na baliza. O jogo levava 103 minutos e estava dada a volta à eliminatória. Recorde aqui a crónica desse jogo.