Quando Vellasco Carballo apitou para o final do FC Porto-Bayern Munique, por entre a festa pelo resultado histórico e as contas ao que falta fazer na Alemanha, havia uma outra questão a preencher a mente dos homens de boa memória: onde encaixar o 3-1 ao Bayern de Guardiola?
 
O resultado surpreendente e a exibição convincente entram, definitivamente, na galeria dourada das noites europeias do FC Porto. Uma lista que não é assim tão pequena, de resto.
 
O Maisfutebol enquadrou-a num top-10. Ordem cronológica, porque as memórias variam de pessoa para pessoa e as opiniões também.
 
Propositadamente, excluíram-se as finais. Basileia, por ser a primeira. Viena, do inesquecível calcanhar. A tórrida noite de Sevilha. O rolo compressor de Gelsenkirchen. A final 100 por cento lusitana de Dublin.
 
Ficamos com os jogos das caminhadas nas várias provas. Liga dos Campeões, sobretudo. Mas também Liga Europa/Taça UEFA e Taça das Taças, no início de tudo.
 
Uma viagem que atravessa décadas e hegemonias. Com vitórias gordas, outras suadas. Com colossos de outros tempos e dos tempos atuais.
 
Último critério para a escolha? A exibição portista. Mais do que noites que ficaram na história pelo apuramento, como o sofrido e histórico empate de Old Trafford com o golo de Costinha, ou a festa de Vermelhinho no nevoeiro de Aberdeen, destacamos as noites em que o FC Porto brilhou intensamente pelo que jogou.
 
Como na quarta-feira.
 
-FC Porto-Man. United, 4-0 (Taça das Taças), 1977
 
Provavelmente, a primeira grande noite europeia do FC Porto. Com José Maria Pedroto ao leme, a equipa vinha de uma eliminatória suada mas de sucesso com os alemães do Colónia e teve de enfrentar, pela primeira vez, o poderoso Manchester United. Primeira mão nas Antas e resultado para a história: uma goleada de 4-0, com Duda, autor de um hat-trick, em destaque. António Oliveira foi o outro portista a festejar, numa equipa que tinha ainda Rodolfo ou Seninho, o homem que consumou a eliminação dos ingleses em Old Trafford com os dois golos na derrota por 5-2.
 
A Europa começava a conhecer o FC Porto.

 

-FC Porto-Aberdeen, 1-0 (Taça das Taças), 1984
 
No caminho para a primeira final europeia da sua história, o FC Porto teve atuação de sonho na primeira mão das meias-finais, nas Antas. Os escoceses do Aberdeen, treinados por Alex Ferguson, eram uma das equipas da moda na Europa. Tinham vencido o Real Madrid na final da mesma prova na época anterior e procuravam repetir a façanha.

Apanharam um FC Porto endiabrado, com Costa a brilhar à esquerda e Gomes a faturar no miolo. O resultado foi escasso para a diferença evidente entre o que produziram as duas equipas. Vermelhinho corrigiu o pormenor na segunda mão.

 

-FC Porto-Dínamo Kiev, 2-1 (Taça dos Campeões Europeus), 1987 
 
Numa altura em que a luta pelo poder no futebol europeu era bem mais concorrida e dispersa geograficamente, o Dínamo Kiev, espinha dorsal da seleção da União Soviética finalista do Europeu no ano seguinte, era a grande equipa do momento.
 
Último obstáculo antes da desejada final de Viena, o FC Porto precisava de uma noite perfeita. Foi quase. A primeira metade foi muito difícil e o nulo persistiu. No segundo tempo apareceu o génio de Paulo Futre a rasgar da direita para o centro, finalizando com um remate fortuito mas certeiro. O 2-0 de penálti, por André, dava justiça ao marcador e o 3-0 chegou a parecer uma questão de minutos. Veio o 2-1 e o susto. Mas Kiev não engoliu o Dragão na segunda mão.



-Werder Bremen-FC Porto, 0-5 (Liga dos Campeões), 1994
 
Para se perceber a dimensão deste triunfo portista pode fazer-se um exercício de comparação: imaginem o Bayern Munique a perder 5-0 em casa frente a uma equipa portuguesa. O Bremen era o campeão alemão em título mas acabou esmagado pelos portugueses, numa noite de sonho.
 
Rui Filipe marcou de fora da área ainda cedo e Kostadinov aumentou a parada na primeira parte. Os alemães carregaram em busca da reviravolta, mas abriram espaços que o FC Porto aproveitou com mestria. Daí à humilhação foram…três passos. Um de Secretário, outro de Domingos e o último de Timofte. Inesquecível.
 

 

-AC Milan-FC Porto, 2-3 (Liga dos Campeões), 1996
 
E a Europa descobriu Mário Jardel. Por ventura, até os portistas passaram a perceber melhor do que nunca o furacão que haviam contratado meses antes. No jogo de arranque da fase de grupos da Champions, o FC Porto jogava no mítico San Siro, frente ao Milan de Roberto Baggio, Weah ou Maldini.
 
Esteve duas vezes a perder, mas de ambas saiu por cima. Artur anulou o golo de Simone, Jardel, em dois golpes depois de sair do banco, desfez a segunda vantagem de Weah. O FC Porto arrancava a melhor carreira de sempre num grupo da Champions: cinco vitórias e um empate, nas Antas, com este mesmo Milan.
 
 

-FC Porto-Lazio, 4-1 (Taça UEFA), 2003

A eliminatória anterior já tinha produzido uma noite fantástica em Atenas, com Derlei a dar a volta a uma derrota inesperada nas Antas, com o Panathinaikos. Mas a obra prima da caminhada até Sevilha foi mesmo a goleada à Lazio, numa noite de chuva intensa mas de futebol perfumado.

Foram quatro, poderiam ter sido muitos mais. Peruzzi, guarda-redes italiano, que até comprometeu no terceiro golo, evitou muitos outros, em noite inspirada de Deco, Alenitchev, Derlei, Maniche e Postiga, os dois últimos autores de golaços.
 
A Lazio de Claudio López, Simeone, Mihajlovic e Fernando Couto, o grande candidato a vencer a prova naquela época (e que marcou no Dragão logo aos 5 minutos), foi reduzida a pó em noite de nota artística altíssima.

 

-FC Porto-Manchester United, 2-1 (Liga dos Campeões), 2004
 
O golo de Costinha é icónico, mas a exibição de sonho do FC Porto foi no Dragão e não em Old Trafford. Só o golo de Quinton Fortune, a abrir, destoou num roteiro das estrelas. Noite de futebol intenso e reviravolta. Benny McCarthy foi o herói maior, mas bem secundado por Deco, Alenitchev, Carlos Alberto…
 
O primeiro golo, num remate em volley é muito bom, mas o golpe de cabeça, já na segunda parte, que fez o 2-1 fica para a história.
 
Tudo isto no primeiro jogo europeu do, então, novinho Estádio do Dragão, com a improvável soma de três golos sul-africanos...

 

 
-Manchester United-FC Porto, 2-2 (Liga dos Campeões), 2009
 
Cinco anos depois, o FC Porto regressava a Manchester e sabia que enfrentaria um rival sedento de vingança pelo que acontecera na caminhada até Gelsenkirchen. Mas o dragão de Jesualdo Ferreira não se intimidou. Longe disso.
 
O pior foi mesmo o empate, quando poderia ter ganho. Jogou futebol para isso. Cristian Rodríguez e o improvável Mariano Gonzalez marcaram os golos portistas. Impossível esquecer, ainda, o erro de palmatória de Bruno Alves que permitiu, na altura, o empate a Wayne Rooney e tirou o fulgor à entrada em jogo do FC Porto.
 
Cristiano Ronaldo? Só na segunda mão…Mas todos se lembram, também, de que forma…

 

-FC Porto-Villarreal, 5-1 (Liga Europa), 2011
 
Falcao e 45 minutos de sonho. Quem apostaria que, depois de estar a perder 1-0 ao intervalo, o FC Porto acabaria a golear o «submarino amarelo»? Poucos, certamente. Mas Falcao, em noite endiabrada, indicou o caminho.
 
Um póquer do colombiano, com o compatriota Freddy Guarin a marcar, também, pelo meio. A noite mais histórica da caminhada até Dublin do FC Porto de André Villas-Boas, trucidando a única equipa de fora das fronteiras lusas presente naquelas meias-finais e transformando a viagem até Villarreal numa mera formalidade.
 


-FC Porto-Bayern Munique, 3-1 (Liga dos Campeões), 2015
 
E a viagem acaba onde começou. A noite em que o Bayern Munique de Pep Guardiola caiu no Dragão tem lugar cativo no Livro de Ouro do FC Porto. Uma equipa desfalcada, é certo, mas com seis campeões do mundo em campo (Neuer, Boateng, Lahm, Gotze, Muller e Xabi Alonso) e uma forma de jogar que não muda e fez escola.
 
O FC Porto de Lopetegui ganhou lugar na história. Como ganharam Quaresma, Jackson, Danilo ou Casemiro por mais uma noite mágica.