Pinto da Costa assumiu ter levado a confiança em Julen Lopetegui até ao limite. O presidente do FC Porto explicou a aposta no treinador espanhol, em maio de 2014, e confessou que não gostava do futebol defendido pelo basco.

No que diz respeito aos atletas, Pinto da Costa deu o exemplo de Gianni Imbula: «Lopetegui disse-me que era um Ferrari. Mais tarde pensei: afinal quis o Ferrari para estar parado na garagem?»

Aqui ficam algumas ideias do presidente do FC Porto na entrevista ao Porto Canal.


REINADO DE JULEN LOPETEGUI:

«Enganei-me na escolha? José Peseiro disse uma coisa interessante na apresentação. Todos os treinadores portugueses que vieram para o FC Porto nunca tinham ganho nada antes. Artur Jorge, Oliveira, Jesualdo, Vitor Pereira, Mourinho, Villas-Boas… Em todos eles havia risco envolvido. De Lopetegui tive boas informações, falei com ele e não foi uma aposta ganha porque não ganhou nada. Tem qualidades, vai ser um treinador de sucesso, mas não se integrou no futebol português».

«Não quis compreender que as coisas não eram como ele pensava. O processo que pensou para a equipa não nos levou ao sucesso. Mudei tarde de mais? Não tenho essa noção. Esteve em primeiro na Liga. Em 15 dias perdeu a liderança. Eu não gostava do jogo da equipa, mas não me compete influenciar o treinador. Não se pode andar com a bola da direita para a esquerda e da esquerda para a direita. Poderes a mais? Cada treinador tem direito de colocar a equipa a jogar da forma que quer».  

«Quando terminou o jogo contra o Rio Ave entrei no balneário e ele disse-me: ‘presidente comigo não há problema e resolvemos tudo em dois segundos’».

«O acordo não se resolveu em dois segundos. Tivemos uma conversa no dia seguinte – recebi-o em minha casa cordialmente, como noutras alturas, pois tínhamos uma boa relação – e ele disse-me que se resolvia tudo numa tarde com o advogado. Passados estes dias, não temos acordo nem conseguimos falar com ele. Tivemos de tomar a decisão de rescindir».

«Falei hoje com Jorge Mendes e disse-lhe que não conseguia falar com Lopetegui. O Jorge ligou-me à noite e disse que o Lopetegui ia enviar uma proposta».   

MAU MOMENTO DO FC PORTO:

«Incluo-me nos adeptos insatisfeitos. Fiz a mudança [de treinador] quando senti que já não havia comunhão de ideias – jogadores, treinadores, público – e por isso foi agora. O jogo decisivo foi o empate contra o Rio Ave, até pela reação do treinador no fim do jogo. Entendi que não podíamos esperar mais».

POLÉMICA COM VITOR BAÍA:

«Eu sou candidato. Todos os sócios que estiverem em condições de concorrer… respeito-os. Não vou falar em nomes. Tanto me faz ser este ou aquele. Não me incomoda que me falem de sucessores. Qualquer um tem o direito de se candidatar, mas não gostava de ter no FC Porto um candidato apoiado pelo Correio da Manhã».

PERDA DE JOGADORES COM LOPETEGUI:

«Quando se tem jogadores emprestados por um ano e que são bons… foram os casos de Óliver e Casemiro. Perdeu Danilo e Alex Sandro, mas ganhou Maxi e Layún. Entraram Danilo, André André, Imbula… aliás, o Imbula veio por vontade dele. Disse-me que era um Ferrari. Eu mais tarde pensei: é um Ferrari e está parado na garagem?»

FLOP-ADRIÁN LÓPEZ:

«O Adrián tem uma história. Quando o treinador veio, não conhecendo o futebol português, escolheu jogadores que conhecia bem. Insistiu no Adrián e entrei em contato com o Atlético e o empresário Jorge Mendes. O preço era exorbitante: 11 milhões por 60 por cento do passe. Disse logo que não, não havia hipótese, mas o empresário apresentou uma solução: disse que o jogador vinha e que nós só começávamos a pagar um ano depois. Se corresse mal, o Jorge Mendes garantia que o colocava noutro lado pelos mesmos 11 milhões. A verdade é que correu mal e temos de pagar».  

«Não perdi a confiança em Jorge Mendes. Mas negócios destes [Adrián] nunca mais faço».