Fernando, Fernando, Fernando. Nos últimos meses só se tem ouvido falar de Fernando. Fernando naturalizado, Fernando na Seleção, Fernando «o polvo», o parceiro ideal de Fernando, Fernando renova, Fernando sai, Fernando castigado. No último sábado, em Coimbra, todos tiveram de adicionar um outro nome a Fernando: Alexandre. No Académica-FC Porto quem saiu por cima não foi o médio brasileiro dos dragões, mas o médio português da Briosa. Marcou o único golo do jogo, salvou outro em cima da linha e ainda anulou por completo Lucho González, que praticamente não se viu em campo.

Aos 28 anos, o jogador natural da Lourinhã está a ter a sua época mais concretizadora, com três golos (um na Taça e dois no campeonato). Formado no Benfica, foi internacional pelas camadas jovens e esteve inclusivamente no Europeu de sub17, em 2002, na Dinamarca, onde alinhou ao lado de Cristiano Ronaldo e João Vilela. Nunca teve uma oportunidade na equipa principal da Luz, tendo atuado na formação B e depois foi forçado a percorrer uma espécie de «via sacra» pelo Olivais e Moscavide, Mafra e E. Amadora antes de assinar pelo Sp. Braga em 2009. Pouco jogou na equipa arsenalista e foi dispensado por Domingos, o que o levou a ser novamente emprestado, primeiro ao Leixões e finalmente ao Olhanense, onde permaneceria três épocas. Foi aí que conheceu Sérgio Conceição, que o convenceu a assinar no último defeso pela Académica.

Em Coimbra vive uma nova oportunidade para mostrar o seu valor, agora como médio-defensivo. A vitória sobre o FC Porto passa a figurar no currículo, mas no seu discurso aparecem sempre palavras solidárias de partilha dos resultados pela equipa. «Para nós, Académica, é mais uma vitória importante, como foram as conseguidas com o Braga, o Belenenses e o Olhanense. São mais três pontos que guardamos para nós», começa por dizer em conversa com o Maisfutebol.

«Muito sinceramente não me compete marcar golos e fico muito mais satisfeito por ter feito o meu trabalho com eficácia. Em todo o caso, não deixa de ter a sua importância, ainda para mais quando vale três pontos», sublinha, comentando ainda o lance na mesma baliza, mas na segunda parte, quando evitou o empate, desviando um remate de Varela para o poste: «Naquele momento acabámos por ser sorte, aproveitando também a fase que o Porto atravessa em que parece que as bolas não entram quando deviam entrar».



A principal missão de Fernando Alexandre era conter o ímpeto ofensivo dos portistas e anular a hipótese de Lucho González entrar na área. «O Porto apresenta muitas soluções ofensivas, tem uma variedade de jogadores que lhes permite utilizar a tática que quiser. Depois de chegarmos à vantagem adaptámo-nos bem às alterações táticas que eles fizeram e a mim competia-me baixar para ajudar os colegas», revela, comentando o momento em que Licá entrou em campo, o que obrigou Fernando Alexandre a ajudar os defesas-centrais.

«O conjunto tinha a missão de cortar espaços, pois era importante que o FC Porto não jogasse entre linhas. Eu tinha de impedir a entrada na área de Lucho, sabendo que ele aparece muitas vezes discretamente naquela zona para fazer golos», confirma, salientando o facto do médio portista não ter conseguido explanar o seu futebol.

Sem inimigos no futebol

Jogador experiente, Fernando Alexandre tenta reconstruir na Académica o seu trajeto rumo a um clube com maiores ambições. Formado no Benfica e com passagem pelo Sp. Braga, teve propostas para jogar no estrangeiro, mas acabou por optar pela continuidade na Liga portuguesa, depois de três boas épocas no Olhanense. A temporada até nem começou bem, por causa de uma lesão, mas a partir do momento em que recuperou conseguiu agarrar um lugar e neste momento é um dos jogadores-chave da estratégia de Sérgio Conceição.

«Alguma experiência e alguns comportamentos nos treinos têm ajudado a que as coisas corram bem. Por outro lado, penso que a exposição é maior na Académica do que no Olhanense», aborda o jogador.



Para trás ficam muitas épocas de sofrimento, com empréstimos sucessivos e falta de oportunidade para mostrar o seu valor, tanto no Benfica como no Sp. Braga: «Não sei se tenho explicação para isso para além das escolhas dos treinadores. A forma de trabalhar foi sempre a mesma, embora com o passar do tempo os comportamentos e as rotinas sejam sempre melhoradas».

Em 2009/10 foi contratado pelo Sp. Braga, mas não conseguiu convencer Domingos e acabou por ser emprestado. «É difícil de explicar porque é que não fiquei em Braga. Foi escolha do treinador, mas também devo dizer que não tenho qualquer frustração ou rancor por não ter ficado nesses clubes. Não ficou nada mal resolvido e não tenho inimigos no futebol», vincou.

Apesar dos seus 28 anos, Fernando Alexandre continua a alimentar sonhos e vêm como possível voltar a dar o salto: «Continuo a trabalhar da mesma forma e acho que tenho condições para jogar numa equipa com ambições europeias, como achava quando tinha 18 ou 19 anos. Tenho é de me focar no trabalho e o resto surgirá».