Dois golos, uma exibição de encher o olho e elogios de quem não os costuma dar em público. Não é, porém, a primeira vez que Pizzi, a figura da jornada 11 para o Maisfutebol, obriga Rui Vitória a quebrar a regra de não falar de indivíduos.
Influente como nunca no Benfica atual, Pizzi tem sido, ainda assim, alvo de um enorme debate: deve jogar à direita ou jogar no meio? O que parece evidente é que tem de jogar sempre.
As exibições recentes têm reclamado mais espaço na Seleção Nacional. Mas, de novo, onde? No meio, «porque é diferente de todos os outros», disse ao Maisfutebol, nesta segunda-feira, alguém que já o treinou.
Luís Miguel Afonso Fernandes tornou-se Pizzi em Bragança. Porque jogava na rua com a camisola do antigo avançado do Barcelona e FC Porto e que hoje é selecionador do Chile. Essa é uma história já contada, como aquela celebração para a «tropa de Bragança», o grupo de amigos que fazem o novo comandante da Luz bater continência.
Outra história começou na saída de Enzo Pérez. Esse é o momento que define a trajetória recente de Pizzi. O argentino mudou-se em janeiro de 2014 para o Valencia e abriu vaga na posição 8 do Benfica.
Ainda na Luz, Jorge Jesus atirou Pizzi para o lugar. Determinante na conquista do bicampeonato encarnado, chegou a agradecer a confiança ao treinador de então. No ano seguinte, as coisas mudaram, porém…
Rui Vitória tinha treinado Pizzi no Paços de Ferreira. Numa época de sonho do FC Porto, o então extremo foi a única pedra no sapato portista em 2010/11. Impediu os dragões de igualarem o recorde do Benfica de Hagan, que só cedeu pontos em dois empates, com um incrível e inédito hat trick no Dragão. Nesse dia, Rui Vitória abriu a tal exceção e admitiu que Pizzi tinha tido «um dia em cheio».
A exibição desta ronda com o Moreirense, levou a novo elogio individual do treinador, cinco anos depois do primeiro. Pizzi e Vitória reencontraram-se na Luz, mas o início não foi feliz para ambos. O titular da posição 8 deixou de o ser devido à inconsistência exibicional e aos resultados. Voltou em definitivo só quando Renato Sanches surgiu. Mas, aí, voltou no corredor lateral, a posição de origem.
«Conheci Pizzi quando ele tinha ligação ao Sp. Braga e estava no Sp. Covilhã. Estava muito bem referenciado e resolvemos integrá-lo no plantel. Numa fase inicial ficou, mas depois tinha o Alan e o Osvaldo e acabou por se achar que a melhor decisão era cedê-lo ao Paços de Ferreira. No Paços jogou e bem e numa posição distinta, com mais liberdade», lembrou Domingos Paciência ao Maisfutebol.
O técnico que fez do Sp. Braga vice-campeão nacional (re)encontrou o transmontano na Galiza, ainda que, sublinhe, por pouco tempo. «Apanhei-o no Corunha, continuava a ser um jogador de corredor. Tanto na direita como na esquerda. Era um dos melhores jogadores, ele e o Bruno Gama. Fez uma boa época apesar da instabilidade que se vivia», continuou Domingos, na análise a Pizzi.
Entre a saída de Enzo Pérez e a chegada de Renato Sanches à equipa principal, Pizzi andou da direita para o meio e do meio para o lado de novo; com a lesão de André Horta teve de ser centrocampista à força outra vez. Os desempenhos elevaram o jogo encarnado e fizeram de Pizzi não só um indiscutível, como alguém que seria titular em duas posições: à direita, a oito.
Mas como é que ele aqui chegou? Primeiro, pela necessidade e a aposta de Jorge Jesus, claro. Depois, com a perceção de Rui Vitória de que se resultou uma vez, pode resultar noutras. Por fim, porque um jogador, mesmo acima dos 26 anos, continua a ser um produto em formação e aprende a resposta a novos estímulos.
«Só testando é que se começa a ter a noção da capacidade [de um jogador]. Ele teve um crescimento, com a acumulação de jogos, tem mais maturidade. Hoje é um jogador diferente. É muito mais eficaz em termos de passe e abdicou mais daquilo que era o seu forte, que era o um para um. Temporiza muito melhor agora», considerou Domingos Paciência.
«A maturidade e os jogos deram-lhe uma maior noção de como jogar por dentro. É um jogador que processa rápido e tem velocidade. Também tem bom rendimento no corredor, com bons cruzamentos e jogadas de um para um. Mas no meio o jogo muda. Ele cria uma boa dinâmica a meio-campo, consegue quebrar a organização contrária. Faz muito bem a ligação com o ataque. Para mim, depois de ter visto os últimos jogos, acho que ele é mais útil ao meio», comentou o treinador de Leça da Palmeira.
Pizzi juntou no domingo dois golos aos cinco que já tinha. Com sete, vai a caminho dos 11 que são o recorde pessoal numa só temporada. Curiosamente, com Rui Vitória no Paços de Ferreira. A estatística aliada ao resto tornam Pizzi num indiscutível na Luz. Portanto, a discussão eleva-se para outro patamar: a Seleção Nacional.
O transmontano tem sido chamado por Fernando Santos, mas a utilização menor do que as convocatórias. Pizzi terá de furar para se intrometer entre jogadores que são campeões europeus. Na opinião de Domingos, se o conseguir, fá-lo-á como médio e não a jogar pelo corredor lateral.
«É evidente que nas alas tem muita concorrência, mas no meio-campo creio que ele é diferente dos outros médios que temos. A questão passa por ser diferente o trabalho de rotinas num clube ou numa seleção. Pôr o Pizzi com o William se calhar não é fácil…mas creio que ele é distinto dos outros médios todos pela capacidade ofensiva que tem, capaz de desorganizar a equipa adversária», concluiu Domingos.
Após crescer no Bragança, assinar pelo Sp. Braga, jogar no Sp. Covilhã e Paços de Ferreira, Pizzi partiu em 2011/12 para o Atlético Madrid; jogou a seguir no Deportivo, da Corunha, e no Espanhol, antes de chegar ao Benfica, em duas fases: seis milhões de euros em 2013, mais oito milhões e um total de 14 em dezembro de 2015; há um ano, portanto, o que podia parecer um exagero, hoje já não será assim tanto...