Minuto 42. A defesa sadina corta, atrapalhada uma combinação entre João Mário e Slimani e a bola sobra para Bruno César que remata para o segundo golo do Sporting no Bonfim.

Minuto 61. João Mário cobra um livre da direita, a bola passa por toda a gente e chega a Bruno César, que remata para o quinto da noite e segundo da conta pessoal.

Antes disto, já tinha sido o reforço, em estreia de leão ao peito, a assistir Slimani para o primeiro, abrindo o livro para uma noite em cheio. Oficializado a 13 de novembro pelo Sporting, estreou-se quase dois meses depois, na primeira oportunidade após a reabertura do período de transferências.

Uma contratação estratégica, face à necessidade de colocar Bryan Ruiz no apoio direto a Slimani e também pelo conhecimento que Jorge Jesus tem dele. Afinal de contas, falamos de alguém que foi contratado pelo Benfica em 2011/12, no terceiro ano do técnico ao comando da águia.

No Benfica, embora nunca tenha sido um titular indiscutível, foi um jogador muito útil na temporada e meia em que lá jogou. No primeiro ano, por exemplo, fez 13 golos, tendo marcado no primeiro jogo que fez na Liga, frente ao Feirense, feito que repetiu (e melhorou) agora ao serviço do Sporting.

Aliás, Bruno César é apenas o segundo jogador a marcar mais de um golo na estreia pelo Sporting, desde o ano do último título leonino. Só Fredy Montero fez igual (melhor), com um hat-trick ao Arouca. Um jogo, de resto, especial: os cinco golos do leão foram todos de estreantes. Além de Montero, também Maurício e Wilson Eduardo marcaram no seu primeiro jogo pelo Sporting.

De 2001/02 até aos dias de hoje apenas 11 jogadores marcaram no primeiro jogo, já incluído Bruno César. Curiosamente, três deles fizeram-no esta época. Antes do reforço contratado ao Estoril, já Téo Gutierrez tinha marcado (a meias com Carrillo, é certo) na Supertaça, ao passo que Bruno Paulista festejara no seu primeiro jogo, o duelo com o Vilafranquense para a Taça de Portugal.

Jogadores que marcaram na estreia pelo Sporting desde o ano do último título:

2001/02: Marius Niculae, frente ao FC Porto, Liga (1 golo)
2001/02: Mário Jardel, frente ao U. Leiria, Liga (1 golo)
2005/05: Koke, frente ao Paredes, Taça de Portugal (1 golo)
2007/08: Izmailov, frente ao FC Porto, Supertaça (1 golo)
2010/11: Elias, frente ao P. Ferreira, Liga (1 golo)
2013/14: Wilson Eduardo, frente ao Arouca, Liga (1 golo)
2013/14: Maurício, frente ao Arouca, Liga (1 golo)
2013/14: Fredy Montero, frente ao Arouca, Liga (3 golos)
2015/16: Teo Gutierrez, frente ao Benfica, Supertaça (1 golo)
2015/16: Bruno Paulista, frente ao Vilafranquense, Taça de Portugal (1 golo)
2015/16: Bruno César, frente ao Estoril, Liga (2 golos)

Quando Jesus pensou nele para lateral esquerdo do Benfica

Na sua apresentação no Sporting, Bruno César reconheceu a importância de Jorge Jesus no processo: «Já pude ser treinado por ele no Benfica, ensinou-me muita coisa e isso fez a diferença para poder vir para um clube grande de Portugal com um treinador que já conheço e já me conhece, o que facilita bastante.»

Jesus, de resto, conhece tão bem Bruno César que via nele capacidades que ainda mais ninguém descobrira. Nem veio a descobrir. Falamos da revelação de que pensava no «Chuta Chuta», alcunha que ganhou pelo gosto em rematar à baliza, para jogar como lateral esquerdo.

Desde a saída de Fábio COentrão, curiosamente também ele uma adaptação, que Jesus teve dificuldades em encontrar, no Benfica, uma solução que rendesse. O brasileiro Emerson falhou a sucessão imediata e a aposta seguinte foi outra adaptação: Melgarejo. O paraguaio nunca convenceu e Jesus chegou mesmo a dizer que tinha outra carta na manga. «Se ele não tivesse saído, posso dizer-vos que hoje o lateral esquerdo titular do Benfica tinha sido o Bruno César e não o Melgarejo», confessou o treinador, em janeiro de 2013, dias depois de o brasileiro assinar pelo Al-Ahly da Arábia Saudita.

De facto, o plano estava a ser traçado, mas o próprio Bruno César tinha dúvidas. Confessou-as quando deixou o clube saudita, em dezembro de 2013, numa entrevista à Antena 1: «Nunca mais treinei nessa posição. Apenas com o Jorge Jesus fiz alguns treinos nessa posição, cerca de dois meses. Na altura uma pessoa está disposta a ajudar a equipa mas é difícil jogar como lateral-esquerdo porque sempre joguei do meio campo para a frente. Jogar nesse lugar não é demérito, mas fazer carreira como lateral-esquerdo para mim é complicado.»

Antes de ser leão já via o Sporting como candidato

Depois de sair do Benfica, em janeiro de 2013, além do Al-Ahly, Bruno César representou o Palmeiras, num fugaz regresso ao Brasil. A 31 de julho de 2015, porém, a notícia caía com espanto quase geral: era reforço do Estoril.

Assinou até ao final da época e deixou uma cláusula importante no contrato: via aberta para uma proposta tentadora, nomeadamente de um grande. O telefone tocou a partir de Alvalade. Jesus não esqueceu o brasileiro e este também não esqueceu o técnico.

A 3 de agosto, na apresentação como jogador do Estoril, não teve problemas em defender que o Benfica cometera um erro ao deixar sair Jesus: «Já estava lá há muito tempo, já conhecia os jogadores e era bicampeão. Toda a gente ficou surpreendida. Víamo-lo de vermelho e branco e agora vamos vê-lo de verde e branco.»


Uma descrição que, agora, também assenta bem no próprio Bruno César. A verdade é que, após os jogos com Benfica e FC Porto, instado a comentar os candidatos ao título, não se assumia em prol da ex-equipa.

«O Benfica está um pouco diferente claro, não vejo com tanta intensidade como era antes», disse, após o jogo na Luz.

E no Dragão avisou para o papel do Sporting: «Está com plantel muito bom e treinador muito bom. Creio que também será candidato.»

Agora, também a ele cabe a responsabilidade de provar o estatuto no campo. E dificilmente poderia ter começado de melhor forma…