Há momentos que só vivemos uma vez na vida.

Uma final da maior competição europeia de futebol, a prova de clubes mais apetecida no Mundo, em solo português, será, eventualmente, um desses momentos especiais.

A Federação Portuguesa de Futebol avançou para a candidatura da
final da Champions na Luz tendo um forte motivo simbólico por trás: 2014 é o ano do centenário da FPF e nada melhor para assinalar em grande a data redonda do que acolher o jogo decisivo da Liga dos Campeões .

Os dados gerais do plano que está a ser preparado foram expostos, esta terça ao início da tarde, pelo diretor-geral da Federação, Tiago Craveiro, no Future Football Congress, que se realizou na Maia.

E os números, de facto, impressionam. Falam por si: expetativa de
400 a 500 euros de consumo, em média, por visitante; estimativa de 110 milhões de espetadores pelas transmissões televisivas em todo o Mundo (desde 2009, a final da Champions tem mais audiências que o Super Bowl); planeamento iniciado 18 meses antes do evento; 14 elementos da FPF e 30 da UEFA especialmente dedicados ao projeto final da Champions a funcionar «em espelho» (com dois elementos da UEFA para cada da FPF por tarefa); 300 elementos de staff da organização a partir de maio; 1.110 elementos da PSP e  750 stewards; 150 elementos de emergência médica; 400 figurantes para as cerimónias de abertura e encerramento e 150 voluntários; seis mil pessoas envolvidas na organização, num rácio impressionante de uma pessoa da organização para cada dez espetadores (seis mil/61 mil).

A melhor final de sempre

O objetivo da FPF é assumidamente ambicioso: «Queremos organizar a melhor final de sempre da Champions», admite Tiago Craveiro. O diretor-geral da Federação, pessoalmente empenhado na empreitada, aponta, sem dúvidas: «Esta será, de longe, a operação mais complexa jamais feita em Portugal para um jogo».

E para grandes objetivos, grandes planos: para esta final estão nomeados dois embaixadores e não apenas um. Eusébio e Figo, os dois Bolas de Ouro portugueses que deixaram atividade (o terceiro, CR7, esperemos que ainda se mantenha por muitos e bons anos...)

Eusébio venceu em 1962, Figo em 2001. Ambos serão caras cruciais na representação do projeto final da Champions na Luz em 2014, um pouco por todo o Mundo.

Os eventos adicionais

Não será «só» o jogo decisivo da Champions 2014 que será organizado em maio, em Lisboa. A Luz acolhe, dia 24 desse mês, o grande duelo, mas dois dias antes terá lugar, no Restelo, a final da Champions feminina, um setor em que a UEFA e a FPF, pela via da promoção e desenvolvimento do futebol, apostam cada vez mais.

Entre 22 e 24 de maio, no Terreiro do Paço terá lugar o Champions Festival, com uma zona privilegiada da cidade a ficar entregue a atividades relacionadas com a final, muito viradas para o divertimento e para a expressão do sentimento clubístico dos adeptos.

O que está a ser melhorado

Apesar de ser o maior estádio português, e de já ter acolhido uma final de um Campeonato da Europa, em 2004, o Estádio da Luz necessitará de melhorias que foram exigidas pela UEFA e que já estão incluídas no projeto exposto esta terça-feira.

Uma dessas melhorias tem a ver com a instalação de uma tenda para convidados de patrocinadores
, um ponto especialmente importante na lógica da Champions. Os bilhetes para sponsors têm compromissos de venda prioritária. 

As áreas media serão também, no dia do jogo, bem diferentes das que neste momento são utilizadas na Luz.

Os bilhetes mais caros

Vender uma final da Champions não será, propriamente, a tarefa mais difícil nesta megaoperação. Olhando para as últimas edições, a procura é, de facto, impressionante.

E nem os lugares mais caros são difíceis de escoar. Bem pelo contrário: por esta altura, já não serão muitos os pacotes VIP disponíveis... apesar da exorbitância dos preços: 4.440 para o Super Platinum, com os restantes pacotes VIP a custarem 3.950, 2.950, 2.450 e 1.950 euros.

Mas não se preocupem com valores tão elevados: serão, certamente, esgotados rapidamente. Não se tratam de bilhetes únicos, são pacotes de 15 ou 21 lugares, mas são vendidos ao camarote e comprados por grandes empresas internacionais, geralmente.

Tratam-se de 3.400 bilhetes a englobar nestes pacotes VIP, onde se espera que haja tratamento mesmo... top.

Portugueses devem ser minoria

Cada clube finalista terá direito a 25 mil bilhetes. Nos restantes, para público em geral, não é certo que sejam na maioria para portugueses.

A experiência da UEFA aponta para que só 25% dos bilhetes reservados para o público em geral sejam destinados a adeptos do país organizador.

Articulação com Câmara e clubes


A operação final da Champions envolve várias entidades, tendo a UEFA e a FPF como principais vértices. No caso do Comité Organizador Local, a FPF tem dois parceiros fundamentais: a Câmara Municipal de Lisboa e os clubes que acolhem os jogos (Benfica e Belenenses).

Na final de Londres, por exemplo, além do grande jogo em Wembley, o Chelsea esteve envolvido, por via da partida em Stamford Bridge.

Há, nesse sentido, 16 elementos do Benfica especialmente focados nesta operação, mais quatro do Belenenses, cinco da Câmara Municipal de Lisboa, um dos aeroporto e dois dos bombeiros.

É que para lá de toda a operação logística nas áreas desportivas, esta final tem pontos críticos nas acessibilidades.

O estacionamento


Outra grande preocupação da organização é, por isso, o estacionamento. O plano final para acolher os adeptos só poderá ser feito quando se souber a nacionalidade dos dois clubes finalistas.

Tiago Craveiro explica: «Se um dos clubes finalistas for espanhol, isso vai implicar uma pressão automóvel muito maior. Se for da Rússia, por exemplo, já implicará que eles venham de avião e depois cheguem autocarros à zona do estádio».

Nesse sentido, há que prever vários planos antecipadamente. Para o estacionamento estarão previstos parques para acolher cerca de dois mil carros e mil autocarros. 

A necessidade de antecipação leva a que os quatro semi-finalistas estejam envolvidos. Ou seja: dois deles vão, de forma inglória, participar na preparação de uma final que irão falhar por pouco...

Todos podem sair a ganhar


Nestes tempos de cinto apertado, e perante o que a construção do estádios do Euro pôde implicar nas contas do Estado, sobram sempre algumas reservas sobre a organização de eventos desta dimensão em Portugal.

Tiago Craveiro assumiu, na exposição feita no TECMAIA, uma ideia clara em relação a isso: «Este evento puxa por Portugal. Logo a seguir à final, teremos Portugal no Mundial, muito por mérito de Cristiano Ronaldo e dos seus companheiros. E é importante que se saiba, nesta altura, que a atividade gerada por esta final trará receitas fiscais ao Estado, pela via do IVA e outros impostos que daria para pagar perto de dez anos de subsídios que o Estado dá ao futebol jovem».

Uma ideia que vai ao encontro de outra que, recentemente, o presidente da FPF, Fernando Gomes, ao lembrar que a Federação é «uma entidade privada, ainda que com utilidade pública desportiva, como os clubes» e que «dá muito mais do que recebe ao Estado». A FPF recebe cerca de um milhão de euros (perto 2,5% do seu orçamento) e dá, em impostos, 7,5 milhões ao Estado.