Ainda não foi desta que o Tottenham conseguiu uma vitória sobre um concorrente direto na luta pelo acesso à Liga dos Campeões. O empate deste domingo, com o Manchester United, foi o quinto jogo da temporada frente a equipas que lutam pelos primeiros postos, e o saldo da equipa londrina é agora de três empates (com Chelsea e Man. United, em casa, e Everton, fora) e duas derrotas (com Arsenal e Manchester City, ambas fora).

Considerando apenas a Liga, o Tottenham – que na Liga Europa vai tendo um oásis de vitórias - somou a quarta jornada consecutiva sem ganhar, igualando as piores séries da carreira do técnico português. A este registo pode ainda juntar-se um quinto jogo (empate com o Hull, na Taça da Liga, seguido de apuramento nos penáltis) que atira a última vitória doméstica dos «spurs» para mais de um mês de distância: mais precisamente de 27 de outubro, também diante do Hull. Algo sem precedentes no percurso de Villas-Boas.

Ainda assim, a forma como foi conseguido o empate com o Manchester United permitiu ao técnico português atenuar a pressão em seu redor. Muito contestado depois da goleada (0-6) com o Manchester City, AVB valorizou a resposta dos seus jogadores e considerou mesmo que a equipa tinha feito o suficiente para lhe permitir responder diretamente ao que considerou serem «ataques pessoais», na conferência de imprensa posterior ao jogo.

«Insultaram os meus valores humanos»

Na mira do técnico português estava o antigo presidente do Tottenham, o milionário Alan Sugar, que depois da goleada afirmou ter «dificuldade em entender as táticas» de AVB. Sugar, que deixou o clube em 2001, em conflito aberto com os adeptos, confessou também ter o sonho de ver Alex Ferguson sair da reforma para tomar conta dos «spurs».

Villas-Boas respondeu, lembrando o passado de Sugar à frente do clube: «Penso que ele tem uma agenda muito dirigida, que não faz justiça ao clube, a mim e aos jogadores», começou por dizer, contrapondo as críticas do ex-dirigente àquelas que são feitas pelos adeptos: «É a equipa deles, a paixão deles, e não a trocam por nada, ao contrário de Alan Sugar que a trocou por dinheiro», afirmou.

O técnico português aproveitou ainda para acertar contas com um jornalista em particular, depois de ter exigido ser tratado «respeito»: «Duas pessoas insultaram os meus valores humanos, a integridade e o meu profissionalismo. Uma dessas pessoas está aqui sentada. Ao questionar o sucesso que já tive em outros clubes fez um ataque à minha integridade pessoal», afirmou o técnico português, que em seguida se dirigiu diretamente ao jornalista Neil Ashton, do Sunday Mail: «Tu atacas a integridade de uma pessoa que nem sequer conheces. Só quando eu te desse a possibilidade de te sentares comigo a conversar é que poderias chegar a algumas das conclusões pessoais que tiraste nos teus artigos», sublinhou.

Villas-Boas acusou ainda o mesmo jornalista de deturpar as suas declarações no final da goleada de Manchester para criar um distanciamento com os jogadores: «Nunca disse que eles deviam sentir vergonha. Disse que devíamos todos sentir vergonha, o que é diferente. Eu disse «nós» e nada te autoriza a disser que me distanciei dos jogadores», sublinhou.

Veja a reação de André Villas-Boas neste vídeo, a partir dos 2 minutos:



Saldo negativo nos jogos com os «grandes»


Para a desforra de AVB perante os críticos ser mais categórica, só faltou mesmo uma vitória sobre o campeão em título – mas a equipa não conseguiu segurar duas situações de vantagem e teve de contentar-se com um empate que a deixa a dez pontos do líder Arsenal, mas apenas a três dos lugares de acesso à Champions. O confronto com as equipas de topo tem sido, aliás, um dos calcanhares de Aquiles do técnico português, desde que chegou à Premier League, em 2011.

Considerando sete equipas na luta pelos lugares de acesso à Champions (Chelsea, Arsenal e Tottenham, Manchester United e City, Liverpool e Everton), o registo do técnico português é negativo nas três temporadas que leva de Inglaterra. No Chelsea, em oito jogos de topo, venceu dois (Everton e Man. City, ambos em casa) empatou outros dois (Tottenham, fora, e Man. United, em casa) e perdeu quatro (Everton, Man. United, Liverpool e Arsenal), os dois últimos em casa.

Villas-Boas deixou os «blues» em março, e não cumpriu os restantes quatro jogos – o seu sucessor, Di Matteo, não fez melhor nesse particular, com dois empates e duas derrotas, mas levou a equipa a conquistar a Taça de Inglaterra e a Liga dos Campeões.

Na primeira temporada completa, no Tottenham, o saldo foi ligeiramente melhor, mas ainda negativo, e insuficiente para deixar a equipa nos quatro primeiros: quatro vitórias (uma delas em Old Trafford), três empates, e cinco derrotas (das quais só uma em casa, perante o Chelsea). A saída de Bale, no verão, acompanhada de uma vaga de reforços, alimentou expetativas sobre a resposta neste ano 2, mas para já confirma-se a tendência: com empates caseiros (Chelsea e Man. United) e derrotas fora (Arsenal e Man. City) o único ponto efetivamente ganho perante um rival foi o nulo em Goodison Park, diante do Everton.

Depois de um novembro terrível, sem vitórias caseiras, Villas-Boas terá oportunidade para melhorar este registo com os grandes, quando receber o Liverpool, no dia 15, duas semanas da visita do Tottenham a Old Trafford, no primeiro dia do ano.

Registo de Villas-Boas com adversários diretos na Premier League

6 vitórias, 8 empates e 11 derrotas.

Vitórias:

15/10/2011: Chelsea-Everton, 3-1
12/12/2011: Chelsea-Man. City, 2-1
29/9/2012: Man. United-Tottenham, 2-3
28/11/2012: Tottenham-Liverpool, 2-1
3/3/2013: Tottenham-Arsenal, 2-1
21/4/2013: Tottenham-Man. City, 3-1

Derrotas:

18/9/2011: Man. United-Chelsea, 3-1
29/10/2011: Chelsea-Arsenal, 3-5
20/11/2011: Chelsea-Liverpool, 1-2
11/2/2012: Everton-Chelsea, 2-0
20/10/2012: Tottenham-Chelsea, 2-4
11/11/2012: Man. City-Tottenham, 2-1
17/11/2012: Arsenal-Tottenham, 5-2
9/12/2012: Everton-Tottenham, 2-1
10/3/2013: Liverpool-Tottenham, 3-2
1/9/2013: Arsenal-Tottenham, 1-0
24/11/2013: Man. City-Tottenham, 6-0

Piores séries de AVB

Jornadas sem vencer na Premier League: duas séries de quatro no Chelsea, entre 17 e 31 de dezembro de 2011 e de 21 de janeiro a 11 de fevereiro. Uma série (em curso) no Tottenham, iniciada a 3 de novembro.

Jogos domésticos sem vencer: série em curso, cinco jogos, desde 30 de outubro.

Derrotas: quatro consecutivas no Tottenham, entre 31 de outubro e 17 de novembro de 2012.