Daqui para a frente Jorge Costa terá de se habituar a um equipamento completamente diferente do tão característico azul e branco do F.C. Porto. Consumada a saída das Antas para o Charlton Athletic, o jogador passará a conviver com uma camisola vermelha e um calção branco, duas cores pouco estimadas para quem defendeu o símbolo do dragão durante anos a fio. Ironia do destino, talvez... 

O capitão diz adeus, que não é definitivo, à cidade que o viu nascer para o futebol e ao clube que tanto amou ao longo da sua vida com a certeza de que dará um passo em frente na carreira, depois de ter sido afastado da titularidade pelo tão célebre e mediático «caso da braçadeira». Desde Setembro nunca mais jogou e o desafio frente ao Celtic, em Glasgow, ficará para sempre retido na memória como a sua última experiência na pele de um guerreiro do F.C. Porto..., mas sem a braçadeira no braço esquerdo. 

Setembro. Dia 22. Jogo com o Vitória de Setúbal nas Antas. O desafio estava empatado a zero e Octávio Machado mexeu na equipa para os golos serem uma realidade. Perto do intervalo, tirou Jorge Costa e colocou Rubens Júnior dentro das quatro linhas, uma alteração que irritou o defesa-central e o fez arremessar a braçadeira de capitão para o relvado, embora na direcção de Capucho, num gesto de dor e também de muita discórdia em relação à opção do treinador. As câmaras focaram o gesto, os fotógrafos pararam no tempo aquela atitude irreflectida e a equipa técnica não gostou da forma como o maior símbolo do clube abdicava de um objecto que só os anos, a força e o amor o levaram a conquistar por direito próprio. 

Dois dias depois, Octávio Machado deu o mote para o jogador se retractar publicamente como a melhor forma de passar uma esponja sobre o assunto e apagar, definitivamente, uma imagem pouco aconselhável de quem tantas alegrias deu à massa associativa. «A insatisfação deve mostrar-se trabalhando mais e melhor e aceitando as decisões, não tomando atitudes menos correctas», disse o treinador. Mas Jorge Costa abanou a cabeça. Disse «não» com todas as letras e acabou por ser afastado da equipa, deixando de integrar as convocatórias. Ainda defrontou o Celtic, mas nunca mais voltou a sentir a sensação de fazer aquilo que sempre fez melhor: travar os defesas e dar o exemplo de como deve ser um capitão. 

Pinto da Costa: «As opções são intocáveis» 

No final de Setembro, Pinto da Costa pronunciou-se sobre o assunto e desde logo deu a entender que concordava com a decisão de Octávio Machado: «Os treinadores do F.C. Porto têm trabalhado com liberdade e responsabilidade para fazer a equipa e a convocatória como bem entendem. As suas opções são intocáveis». Não havia dúvidas. Jorge Costa ficava irremediavelmente sozinho na sua própria causa, afastado dos relvados, sentado no sofá a ver os jogos pela televisão e com a certeza de que jamais se iria retractar publicamente. Ganharia, contudo, a primeira batalha. 

Na véspera do Portugal-Estónia, decisivo para a participação da selecção portuguesa no Mundial-2002, António Oliveira saiu em defesa do futebolista portista, o que levou o treinador azul e branco a tecer duras críticas em relação às palavras do seleccionador nacional. «Jorge Costa faz falta à selecção e ao futebol português», disse, assegurando que ao lado de Fernando Couto formou «a melhor dupla de centrais do último campeonato europeu». Jogou 90 minutos, naquele que foi o seu último jogo oficial e que daria a passagem ao tão desejado campeonato do mundo. 

Mas nas Antas os ecos eram completamente diferentes. Para além de Octávio Machado ter criticado Oliveira, o treinador elogiou, repetidamente, Jorge Andrade e Ricardo Carvalho, a nova dupla de centrais, quando se colocava à disposição dos jornalistas durante as conferências de Imprensa. Jorge Costa ouvia tudo isto calado, sem pronunciar uma única palavra, mas com a certeza de que só a jogar poderia ir ao Mundial-2002, um sonho perseguido por qualquer profissional. Por isso, acabou por ser emprestado aos ingleses do Charlton até ao final da temporada. Para já, a mítica camisola número 2 continua a repousar em silêncio. Que é como quem diz: da boca do futebolista nem uma única palavra.