Entrada com o pé esquerdo 

Três empates e duas vitórias. Era este, no final de Setembro, o magro pecúlio do Sporting comandado por Giuseppe Materazzi no Campeonato da I Liga. 

Por essa altura, a eliminação da Taça UEFA era dado quase adquirido (0-3 com o Viking dava pouquíssimas esperanças) e o italiano foi despedido. 

Augusto Inácio chegou e não se estreou mal, com uma vitória sobre o Boavista e outra, de consolação, sobre o Viking, mas a verdade é que na primeira saída os «leões» perderam em Alverca. 

Seguiu-se um triunfo em Alvalade sobre o Sp. Braga e novo desaire. Nas Antas, o Sporting perdeu por 0-3 e foi completamente dominado pelo então principal candidato ao título, não aproveitando uma derrota do Benfica em Alverca para se aproximar da frente. 

Na hora dos festejos, poucos se recordaram deste tão atribulado início de Campeonato. Um dos piores, aliás, dos últimos anos. 

Noites negras na UEFA 

A 16 de Setembro de 1999, o Sporting de Giuseppe Materazzi conheceu a sua pior noite. Em Stavanger, frente a um modestíssimo Viking FK, os «leões» claudicaram de forma impressionante e saíram derrotados por 0-3, teimando na manutenção da tendência para eliminações tão prematuras quanto inesperadas das competições europeias. 

O central Marcos teve noite bastante infeliz, mas foi apenas a face mais visível do desnorte verde-e-branco. 

Duas semanas mais tarde, na estreia de Augusto Inácio como treinador então provisório, o Sporting, sem convencer, venceu por 1-0 em Alvalade com um golo de penalty apontado por Ayew e confirmou a sentença que já trazia pendente da Noruega. 

Com o Campeonato longe de correr bem, parecia a todos que o famigerado Natal tinha chegado mais cedo. E terão sido poucos os que acreditaram numa temporada tão diferente das últimas 18 como a de 99/2000 acabou por ser... 

Outono quente 

Alvalade fervia com o mau início de Campeonato e a demora na chegada das boas exibições. Os adeptos pediram desde cedo a cabeça de Materazzi, mas o italiano nem sequer era o mais visado: Carlos Janela, director técnico da SAD, e Paulo Abreu, administrador da sociedade e vice-presidente do Conselho Directivo do clube, ocupavam o ponto de mira dos associados mais exaltados. 

12 de Setembro: em Faro, num encontro que o Sporting até ganhou de forma folgada, os dirigentes leoninos entraram em rota de colisão com a Juventude Leonina. Tudo por causa de umas faixas de apoio à causa timorense que foram removidas pelos adeptos e substituídas por outras. Um facto que caiu mal no gabinete de José Roquette, juntamente com o desrespeito pelo minuto de silêncio em memória das vítimas de Timor Lorosae e cenas de pancadaria nas bancadas do São Luís. 

Roquette decidiu instaurar um inquérito e cortar relações com a claque. Cinco dias depois, a Juve Leo foi despejada de Alvalade. No mesmo dia em que o presidente afirmou que «a estabilidade é o grande treinador do Sporting». Faltava pouco mais de uma semana para o despedimento de Materazzi... 

Depois do jogo da Noruega para a Taça UEFA mais de uma dezena de adeptos esperaram a equipa no aeroporto. Eram seis e meia da manhã quando a comitiva chegou à Portela, mas ainda assim não consegiu livrar-se dos apupos do descontentamento. Sempre com Abreu e Janela no centro dos protestos. Dias Ferreira, assessor da SAD, também não se livrava da ira dos adeptos. 

A 20 de Setembro, o Sporting empatou em casa com o Estrela da Amadora. A Direcção reuniu-se de emergência, mas o povo foi paciente. Esperou horas pela saída dos dirigentes e obrigou a que saíssem de Alvalade sob escolta policial. Roquette falou aos sócios, pediu calma e anunciou para o dia seguinte uma reunião de emergência dos órgãos sociais do clube. 

A 21 de Setembro José Roquette demitiu-se, garantindo contudo a gestão dos destinos do clube até 5 de Novembro, data para a qual foram marcadas eleições. 

A família sportinguista temeu o desnorte do clube. Jogadores como Beto, Rui Jorge e Schmeichel não se coibiram de criticar a ausência dos dirigentes num momento difícil. 

Manteve-se o suspense: Roquette seria ou não recandidato? A vaga de fundo em favor do presidente foi crescendo. Paulo Abreu decidiu cedo que não se recandidataria, mesmo que Roquette avançasse. Carlos Janela foi-se mantendo em funções. 

O empate em casa do Gil Vicente deu origem ao despedimento de Materazzi, a 27 de Setembro. No mesmo dia José Roquette anunciou a recandidatura e contratou Augusto Inácio para treinador interino e futuro homem de confiança da SAD para o futebol. 

Percebeu-se cedo que Roquette não estava disposto a continuar a liderar a SAD. A ideia era presidir ao clube e à SGPS que controla a participação do Sporting na sociedade desportiva, entregando os comandos desta a outrém. 

Couto dos Santos foi sondado, mas declinou o convite. Inácio fez um «forcing» pela continuidade de Paulo Abreu, mas a decisão deste era irreversível. Amílcar Roque e Luís Peças (um engenheiro agrónomo) surgiram como candidatos às eleições, mas não chegaram a formalizar as listas. 

No final de Outubro foi confirmado o nome de Luís Duque como presidente da SAD. No dia das eleições o novo adminstrador convidou José Manuel Torcato e Manolo Vidal para a estrutura do futebol profissional e 24 horas mais tarde dispensou os serviços de Carlos Janela. 

Roquette distanciou-se da gestão diária e desgastante do futebol, Duque assumiu a pasta, deu um voto de confiança a Augusto Inácio e começou a nova era do Sporting. 

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