Ainda não tem o estatuto de tomba-gigantes, mas a Naval já ganhou o rótulo de outsider da Taça de Portugal, ao ser a única equipa da II Liga nos quartos-de-final da prova. Pelo caminho, ficaram o Vila Pouca de Aguiar, a Ovarense, o Sp. Braga e o Sp. Espinho, agora segue-se a sempre incómoda visita a Alvalade, onde irá medir forças diante do Sporting. Todos dizem que o clube da Figueira da Foz tem 30 por cento de hipóteses de seguir em frente, por isso a expectativa continua elevada apesar do valor do adversário, simplesmente o campeão nacional em título e detentor do troféu.

As gentes locais estão em corrupio por causa desta eliminatória e o número de mobilizados para a viagem até Lisboa cresce em ritmo considerável. Até esta manhã de sexta-feira, havia pouco mais de 1500 adeptos inscritos para presenciar ao vivo e a cores o jogo de sábado, o que se traduz num total de vinte autocarros. Algarismos muito acima do esperado tendo em conta a fraca aderência do público nos desafios em casa, com médias entre os 400 e os 500 espectadores. O turismo continua a ser o principal pólo de referência da Figueira da Foz, estando o futebol em segundo plano.

Dentro deste prisma, a Naval tem pouco mais de mil associados e o grosso das receitas provêm da Câmara Municipal e do Casino, este último o grande investidor e até o patrocinador oficial das camisolas. Num clube onde a ginástica financeira é quase um lugar comum a Direcção tem as contas equilibradas e os ordenados estão praticamente em dia, apesar de haver atrasos que variam entre as duas semanas e um mês, situações pontuais e que não beliscam minimamente o grupo de trabalho. No arranque da temporada, o presidente Aprígio Santos - líder há 12 anos - estabeleceu um orçamento de 150 mil contos, o que não é muito para a realidade da II Liga.

Cuidado Sporting!

No plano mais desportivo, a Naval está no sétimo lugar da II Liga, com 36 pontos, uma marca bem interessante para quem não nada em dinheiro e tem um plantel sem os craques dos principais candidatos à subida. A equipa orientada pelo conhecido Álvaro Magalhães tem um recorde interessante, cifrado em 19 jogos sem perder (incluindo neste percurso os encontros da Taça de Portugal) e até ao final da segunda volta conseguia ser a segunda defesa menos batida da prova.

No grupo de trabalho, distingue-se a presença de Auri, Tó Ferreira, Puma e Sérgio Gameiro - todos com experiência na Superliga e alguns deles com passado feito em equipas de topo, casos de Auri no V. Guimarães e do guarda-redes Tó Ferreira, campeão do Mundo de sub-20, um elemento cuja experiência competitiva distingue-se dos colegas. O avançado Baha foi recentemente convocado para a selecção marroquina e Costé é o segundo melhor marcador da II Liga.

Tudo isto sustentado na experiência de um treinador como Álvaro Magalhães, que consegue ressuscitar equipas aparentemente moribundas e já operou autênticos milagres, entre eles um brilhante quinto lugar do Gil Vicente, na temporada 1999/00. Tudo junto, o poderoso Sporting tem motivos para estar em alerta no sábado à tarde. No futebol, todos os cuidados são poucos.