Marco e Felgueiras digladiam a presença na II Liga desde que se jogou a última jornada do campeonato na época passada. A 27 de Maio, as duas equipas partiam com hipóteses de permanência, sendo que a equipa de Canaveses detinha dois pontos mais do que o rival. Um dado insólito é, então, introduzido: a equipa do Marco chega atrasada ao seu próprio estádio e o jogo com o Rio Ave começa com 26 minutos de atraso. Poucos instantes depois (aos 30m), no Freamunde-Felgueiras, Mário Pedro fazia o 0-1, colocando o seu clube temporariamente na II Liga. Mas tudo mudaria nos 86 minutos restantes. 

O pormenor das chaves perdidas, as opiniões divergentes, as tomadas de posição, o constante empurrar de responsabilidades entre Liga e FPF, tudo isso já serviu para encher páginas de jornais. Um verdadeiro escândalo no país que vai acolher o Euro-2004. No campo, já se sabe, foi o Marco que conseguiu somar os pontos necessários para a manutenção, mas o que Maisfutebol propõe agora é uma abordagem despretensiosa, sem juízos de valor e centrada na vertente humana da questão. 

Interessa saber quem é que vive este impasse por dentro, conhecer os rostos, opiniões, apreensões e medos. Apesar do processo ser comum, os contrastes são gritantes. Sem apoio do Município ¿ a convulsão política em redor da presidente Fátima Felgueiras agrava o caso - em Felgueiras, os jogadores não recebem há quatro meses, os funcionários há sete e não há Direcção desde 30 de Setembro. Como não há jogos, os sócios não pagam quotas e os patrocinadores fogem a sete pés, ou seja, não há receitas. Sem dinheiro, os jovens que constituem o plantel regressam à casa dos pais, lamentando a independência perdida. 

O drama não é sentido com tanta intensidade em Marco de Canaveses, a pouco mais de 30 Km de distância. O clube é encarado pelos jogadores como cumpridor, pois os ordenados são pagos antes do dia 8. Sempre. O apoio da Câmara Municipal, presidida pelo conhecido Avelino Ferreira Torres, tem sido indispensável, porque, também aqui, não há maneira de deslindar dinheiro de outras formas, seja através de receitas de bilheteira, quotas de sócios ou contributos de patrocinadores. 

Uma das conclusões retirada deste rigoroso trabalho de investigação é que ambos os clubes acreditam que vão permanecer na II Liga. Uns (Marco) porque juram que não perderam a chave do autocarro de propósito, logo agiram de boa-fé; outros (Felgueiras) acreditam que houve «dolo eventual», ou seja, um atraso forçado ao terreno de jogo.  

A razão tem de ser, obrigatoriamente, atribuída a um dos lados e a justiça desportiva terá de decidir um dia. Esse dia é a próxima quinta-feira, precisamente daqui a uma semana, quando o Conselho de Justiça da FPF tomar a decisão final, sem espaço para mais recursos. Enquanto isso não acontecer, já passaram oito jornadas da II Liga, sete da II Divisão B e uma eliminatória da Taça, que terão de ser cumpridos antes do final da primeira volta. Os jogadores esperam e desesperam. 

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