«O meu PSG tinha Ronaldinho, Okocha, Heinze, Arteta, Anelka... mas não estávamos a este nível mediático. Futebolisticamente, havia qualidade, mas não alcançámos o prestígio que esta equipa já alcançou, fazendo com que seja bem mais respeitado pelos adversários», diz Hugo Leal, antes de partir para inevitável comparação: «Este PSG talvez seja mais forte, mas a grande diferença é que tem definitivamente mais prestígio na Europa do que no meu tempo. Ganhou algum respeito dos adversários pelas exibições sim, mas também pelas aquisições e pelo mediatismo. É hoje uma equipa de referência na Liga dos Campeões, e tem fortes possibilidades de vir a ganhar o troféu.»
Não será cedo ainda? Afinal, o dinheiro do Qatar começou a entrar há apenas três anos, dinheiro esse fundamental para o investimento feito na equipa de futebol, com a contratação de jogadores como Ibrahimovic, Cavani, Lavezzi, Pastore, Thiago Silva, entre outros. «No ano passado não perderam com o Barcelona nos dois jogos, e isso mostra qualidade. Tem de mostrar. Não perder com uma equipa como o Barcelona prova que já apresenta um nível muito elevado.»
E o que poderá o Benfica perante este poderio?
Talvez seja a experiência de Hugo a falar nesta altura, mas não vacila na hora de dar a resposta. A diferença de orçamentos não parece preocupar o antigo jogador dos encarnados, formado no clube. «Existem um poderio atacante notório, mas não deixam de ser apenas 11. Não sei se até certo ponto o estilo de jogo do PSG não favorecerá o Benfica, uma vez que vão ter eles a iniciativa, e pode haver aí alguma vantagem para os portugueses. O Benfica tem estado muito forte na Europa desde que Jesus chegou, e não espero outra coisa que não um bom desempenho em Paris.»
A dependência que os parisienses têm de Ibrahimovic, uma vez que o sueco parece continuar a ser seu o principal criador de golos, não encaixaria bem neste novo modelo de meio-campo dos encarnados, com Fejsa e Matic? Hugo Leal ainda tem dúvidas que o Benfica tenha ganho algo com a junção dos dois sérvios. «Nesta fase é um pouco prematuro avaliar se está melhor ou pior desde que Fejsa entrou no onze. O Matic estava a desempenhar um bom papel, como médio mais defensivo. Vamos ver se há vantagem em mudar. Julgo que Matic fazia bem esse papel quase sozinho e libertava o Enzo Pérez. Um elemento é suficiente, mesmo com todo esse poderio de Ibrahimovic, uma vez que na defesa há dois fulanos com muita experiência e internacionais como são o Luisão e o Garay.»
«Jogadores vão sentir apoio logo no aeroporto»
Uma das razões para o pensamento positivo de Hugo Leal é a presença de muitos emigrantes no Parque dos Príncipes. «O Benfica terá um forte apoio da comunidade portuguesa desde o momento em que aterrar em Paris. Vão sentir isso claramente, no aeroporto, no hotel, durante o jogo e no final, e isso é animador para toda a equipa.»
Existe também um apoio mais brando ao próprio PSG desde que os Boulogne Boys, mais radicais, e os Supras Auteil, multiculturais mas também violentos, foram proibidos enquanto claques em dois anos consecutivos (2008 e 2009). O ambiente ficou mais moderado para todos: «Os portugueses não eram assim tão bem vistos pelas claques. Numa delas, no entanto, havia alguns dirigentes portugueses e aí sim era mais fácil aceitarem-nos, mas nos outros não», lembra, antes de explicar que a divisão das bancadas raramento chegava aos jogadores. «Quando estava no clube não havia um divórcio evidente, as duas claques estavam em planos opostos do estádio e sabia-se que não gostavam uma da outra. Mas era algo que parecia que passava com as vitórias.»
Hugo Leal esteve três épocas no PSG (de 2001/02 a 2003/04), depois de uma passagem pelo Atlético Madrid e antes de assinar pelo FC Porto. Retirou-se no final da última temporada, aos 33 anos, depois de ter representado o Estoril, o 12º clube do seu currículo.
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