Ao deixar o comando do West Bromwich Albion, no sábado, Steve Clarke tornou-se, depois de Di Canio (Sunderland), Ian Holloway (Crystal Palace) e Martin Jol (Holanda), o quarto treinador da Premier League a perder o lugar em quatro meses da temporada 2013/14. Um número mais alto do que o verificado em Portugal e na Alemanha (três mudanças), ou em Espanha (duas), e igual ao registado em Itália, o país europeu onde a política do chicote é quase uma instituição.

Conjugado com a especulação redobrada sobre o futuro de André Villas-Boas no Tottenham, depois da goleada deste domingo diante do Liverpool, o dado parece dar razão às críticas à banalização dos despedimentos dos treinadores, à medida que as clubes da Premier League se transformam em sociedades cada vez mais distanciadas das suas raízes e dos hábitos culturais do futebol inglês. A gestão de Roman Abramovich, que em dez anos à frente do Chelsea já mudou onze vezes o técnico dos «blues», é apontada como exemplo maior desta mudança.

Claro que há exemplos de sinal contrário, como os 26 anos de Alex Ferguson à frente do Manchester United (os diretores dos «red devils» esperaram quatro anos pelo primeiro troféu e sete pelo primeiro título de campeão), ou a tolerância do Arsenal para com a seca de títulos de Arsène Wenger, que não é campeão desde 2004 e não tem troféus desde 2005.

Mas, com a retirada de Ferguson, Wenger transformou-se numa exceção em toda a linha: o francês está à frente dos «gunners» há mais de 17 anos, mas o segundo na lista, em termos de longevidade num clube, é Alan Pardew, que está há exatamente três anos no Newcastle. E só outros dois (Sam Allardyce, no West Ham, e Malky McKay, no Cardiff) estão há mais de dois anos no mesmo clube.

Mas se a mudança de mentalidades tem sido evidente nos últimos anos – sublinhada pelo facto de metade dos donos dos clubes da Premier League não serem britânicos, o mesmo acontece com metade dos seus treinadores – ainda assim, o campeonato inglês ainda tem um longo caminho a percorrer para ganhar a mesma capacidade trituradora de treinadores de outras ligas. Em casos como os difíceis início de temporada de David Moyes, no Manchester United, ou de André Villas-Boas, noTottenham, dificilmente o grau de tolerância seria idêntico em outros campeonatos.

Contas feitas, mesmo aumentando significativamente o número de despedimentos a meio da época, durante a última década, a Premier League continua a ser um dos campeonatos europeus onde a chicotada ainda é vista como sintoma de um falhanço da política desportiva, antes de ser um falhanço do homem que vai para o banco. Os valores totais só ficam aquém dos registados em França (o campeonato mais estável para os treinadores), sendo claramente inferiores aos totais de Alemanha, Espanha, Portugal e Itália.

Veja os totais de chicotadas no decorrer da temporada, de 2008 para cá:

França- Ligue 1 (27)
2013/14: (5)*
2012/13: (4)
2011/12: (6)
2010/11: (4)
2009/10: (3)
2008/09: (5)

Inglaterra- Premier League (33)
2013/14: (4)*
2012/13: (6)
2011/12: (4)
2010/11: (6)
2009/10: (5)
2008/09: (8)

Alemanha- Bundesliga (44)
2013/14: (3)*
2012/13: (6)
2011/12: (9)
2010/11: (11)
2009/10: (10)
2008/09: (5)

Espanha- La Liga (47)
2013/14: (2)*
2012/13: (8)
2011/12: (10)
2010/11: (8)
2009/10: (9)
2008/09: (10)

Portugal- Primeira Liga (55)
2013/14: (3)*
2012/13: (8)
2011/12: (10)
2010/11: (10)
2009/10: (16)
2008/09: (8)

Itália -Série A (76)
2013/14: (4)*
2012/13: (13)
2011/12: (19)
2010/11: (13)
2009/10: (16)
2008/09: (11)

* Época em curso. Não são consideradas as saídas de treinadores por doença.