Quando Messi subiu à equipa principal do Barcelona, brilhava Ronaldinho Gaúcho no Camp Nou, a principal figura do início do crescimento europeu do clube catalão.

Em entrevista à Cadena Ser, o brasileiro contou que sempre soube que o argentino era especial mas, em tom de brincadeira, diz que não é o melhor que já viu: «Messi o melhor que já vi? Depois de mim, sim (risos).»

«Messi sempre foi um grande amigo. Sentávamo-nos juntos no balneário. Ele sempre foi especial, não sei porquê mas Deus aponta para alguns, escolhe-os. E ele veio desta forma», referiu.

Ronaldinho não poupa elogios ao atual melhor jogador do mundo e recorda as palavras de Kobe Bryant: «Messi sempre foi diferente, o Barça foi buscá-lo ainda pequeno. Quando chegou, nós integramo-lo muito bem e eu só queria ajudar. Disse-o a Kobe Bryant: «Vai ser o melhor». Para mim que o via todos os dias era simples sabê-lo, mas para alguém como Kobe, que não o via diariamente, era mais difícil.»

O antigo melhor do mundo, em 2004 e 2005, confessou ainda quem são os seus ídolos e nenhum é futebolista: «Depois de Michael Jordan, Kobe Bryant é o meu ídolo.»

Confrontado sobre o atual tridente dos culés, o brasileiro voltou a brincar e a sentar no banco Neymar e Suárez: «O futebol é momento, agora é a época de Messi, Neymar e Suárez, ainda que na minha época teriam sido suplentes (risos). Bom, Messi não, mas os outros sim (risos). É brincadeira, eu joguei com Eto’o, Giuly, Larsson...se eu não falo deles, quem o fará? Messi, Neymar, Suaréz são os melhores do momento.»

«Neymar no Real Madrid? Quero que seja feliz. É um amigo»

O tema da renovação de Neymar é um dos assuntos do dia no Barcelona, mas Ronaldinho só deixou um conselho ao seu compatriota: «Encantar-me-ia que continuasse no Barcelona, a fazer história, mas eu não o vou aconselhar se fica ou vai, só que siga o seu coração. Na felicidade não há conselhos porque o que é bom para um não é para outro.»

E se Neymar rumasse ao eterno rival? «Neymar no Real Madrid? Quero que seja feliz. É um amigo.».

E naquela altura, Ronaldinho teve a oportunidade de assinar pelos merengues? «O meu irmão [Roberto Assis, ex-jogador e empresário] recebeu muitas chamadas, falou com muita gente, mas graças a Deus vim para o Barcelona. Escolhi assinar pelo Barça pela minha amizade com Rosell e porque todos os meus ídolos jogaram aqui: Romário, Ronaldo...»

Não assinou pelo Real Madrid, mas no Bernabéu viveu uma das melhores noites da sua carreira, em novembro de 2005. O Barcelona venceu por 3-0, Ronaldinho bisou e na altura do terceiro golo foi ovacionado pelos adeptos do rival.

«Poucos jogadores têm a felicidade de viver algo com a ovação do Bernabéu. Hoje tenho a noção do que significa que te aplaudam no Bernabéu e é uma alegria muito grande. Antes não estava consciente disso, mas com o passar do tempo sim. Vi muitas vezes esse jogo e esse momento.»

O jogador referiu ainda que se inspirou nos jogadores que viu jogar: «Não inventei o futebol.» E salientou que é diferente de Neymar: «Ele tem o seu caminho, Neymar não me faz lembrar de mim. Cada um tem o seu estilo. Ele vai ser o melhor do mundo mas pela sua forma de jogar. Não há que comparar.»

«Jogar à meia-noite? Perfeito, essa é a minha hora»

Quando chegou ao clube deparou-se com um cenário diferente do habitual. Na terceira jornada do campeonato o Barcelona defrontou o Sevilha à meia-noite, uma forma dos catalães conseguirem ter os internacionais (que viajariam no dia seguinte para as respetivas seleções), já que o Sevilha não quis antecipar o jogo para o dia anterior. Assim jogaram logo nas primeiras horas do dia.

Quando soube, Ronaldinho reagiu: «Disseram-me «vamos jogar à meia-noite». Primeiro pensei que era brincadeira e quando vi que era verdade pensei: «Perfeito, essa é a minha hora. É quando estou desperto.»

Neste momento, Ronaldinho está sem clube depois de uma passagem pelo Fluminense e aproveitou para fazer uma visita a Barcelona: «Volto como um turista, dantes era só aeroporto, estádio, hotel, é bom voltar para visitar com alguma tranquilidade e conhecer».

Agora veio à cidade em passeio, em diversão, algo que nunca deixou de fazer como jogador, tal como admite, mas deixa uma crítica à forma como as pessoas viam isso: «Gosto muito de sair? Igual a todos. O que se passa é que sendo uma figura pública o que fazes triplica-se. Há um mito muito grande à volta dos jogadores».

E continuou revelando o que mais lhe «cansa» ouvir: «O que mais me cansa são as mentiras. Se tenho um copo de água dizem que é vodka. Tu [para o jornalista] bebes e ninguém quer saber, mas quando és uma figura pública muitas coisas se exageram. Bebo um copo e dizem que estou borracho. Isso cansa-me.»

O brasileiro referiu ainda que em Espanha «se respeita mais que no Brasil» os jogadores, mas que as pessoas têm «memória curta»: «O que fazes na quarta já não se recorda no domingo e os futebolistas não somos máquinas.»