Ricardo Carvalho, numa longa entrevista à Globo, falou no regresso à Liga dos Campeões, da sua relação com José Mourinho e do choque com Pepe que o levou a abandonar a seleção nacional. Aos 36 anos, o central garante que continua disponível para representar o país, mas reconhece que agora é tempo de dar a vez aos mais novos.

O experiente central venceu a Liga dos Campeões com José Mourinho em 2004 e, desde então, jogou com regularidade na liga milionária. Mas na última época, no Mónaco, ficou a ver jogar. Agora está de volta à competição num grupo em que o Mónaco terá como adversário o Benfica. «Na última temporada, no Real Madrid, sofri várias lesões e não joguei muito, mas sabia que estava bem. Sabia que podia continuar a jogar ao mais alto nível, e a verdade é que quase toda a minha carreira joguei a Liga dos Campeões. No ano passado, quando assistia aos jogos, sentia muita falta de estar ali. Estou contente por estar de volta. Já não sou uma pessoa nova. É importante ter esta motivação», destacou o antigo internacional na entrevista feita em La Turbie, no centro de treinos do Mónaco.

«Fiquei bem com Mourinho»

Os últimos tempos no Real Madrid, antes da saída para o Mónaco, não foram fáceis para Ricardo Carvalho. Chegou-se mesmo a falar numa situação de conflito com José Mourinho. «Fiquei bem com ele, não tive problema nenhum. Ele explicou a situação. No momento em que regressei apto após a lesão, o Mourinho disse-me logo que não poderia mudar a defesa, porque todos os jogadores tinham estado com ele e eu não estava quando ele precisou. O futebol é assim mesmo, só tenho de entender, mas gosto de jogar, não gosto de ficar fora», contou.

«Pepe é um caso especial»

Saiu Ricardo Carvalho, mas ficou Pepe. Os dois centrais não tinham uma boa relação na seleção. «O Pepe é um caso especial, porque não nasceu em Portugal. Ele foi para Portugal com 18, 19 anos e tornou-se português mais tarde. Sobre esse assunto, no geral, acho que cinco anos é pouco tempo para poder representar um país. Eu vivi seis anos na Inglaterra, mas não era capaz de jogar pela seleção inglesa. E adoro o país e as pessoas, mas não era capaz. Mas o futebol está assim. O Pepe gosta de Portugal, é casado com uma portuguesa, e as coisas sempre correram bem para ele na seleção. Só neste Mundial é que foi mau, mas não foi só o Pepe, os portugueses criticaram quase toda a equipa», explicou.

Terá sido mesmo Pepe, segundo Ricardo Carvalho, que esteve na origem do polémico abandono da seleção. «Tive o problema com o selecionador, toda a gente sabe o que aconteceu. O Pepe não tinha treinado e entrou para a equipa. Eu estava a dar tudo e senti-me excluído. Não me senti respeitado. Era o subcapitão da seleção, eu sempre dei o máximo por Portugal e ali nem olharam para mim, nem ligaram. Sei que tive uma reação a quente ao abandonar o estágio de repente, mas mostrei-me sempre disponível para regressar. O Paulo Bento foi rígido, mas perdemos todos, perde o país, perco eu muito porque gostaria muito de estar lá. Tive um percurso bonito na seleção, joguei a final em 2004 , a semifinal do Campeonato do Mundo em 2006, disputei o Mundial de 2010 e estarei sempre disponível», destacou ainda.

«Estarei sempre disponível para a seleção»

O central diz que está e sempre esteve disponível para a seleção, mas reconhece que agora é tempo de dar a vez aos mais novos. «Não é fácil para mim, a prioridade são os mais novos neste momento. No Euro de 2016 vou estar com 38 anos. Vai ser difícil jogar. Mas eles sabem que, se quiserem, podem contar comigo. Enquanto jogar futebol, eu estarei sempre disponível para a seleção», acrescentou.

Ricardo Carvalho também falou do Mónaco que passa por um momento difícil com a saída de muitos jogadores nucleares. «A verdade é que todos os jogadores tentam fazer o seu melhor e olham muito para o lado profissional. O Mónaco é um lugar bonito, bom para se morar, mas o que conta é a ambição do jogador», comentou ainda.