Dois jornalistas, um da RTP e um free-lancer da Voz da América, ambos de nacionalidade angolana, foram hoje detidos em Luanda numa manifestação antigovernamental impedida de se realizar pela polícia, noticia a Lusa.

No total, além dos jornalistas, foi confirmada a detenção de mais 10 pessoas, segundo fonte policial. O jornalista da RTP, Isaac Manuel, foi entretanto libertado.

A manifestação antigovernamental, convocada pelo autodenominado Movimento Revolucionário Estudantil, começou com uma tentativa de concentração na zona do mercado de São Paulo, onde se concentra um grande número de vendedores ambulantes, que foi rapidamente controlada pela polícia.

Entre os manifestantes detidos alguns envergavam camisolas negras com «32 é muito», numa alusão aos anos de governação do Presidente José Eduardo dos Santos, e nas costas tinham a inscrição «Liberdade e Democracia».

Segundo o superintendente Francisco Notícia, comandante da Polícia do Sambizanga, há a registar um ferido entre os agentes policiais, atingido com um megafone por um dos manifestantes.

O objetivo dos manifestantes era, a partir da zona de São Paulo, dirigir-se para o Largo da Maianga, perto do Tribunal Constitucional, na entrada da Cidade Alta, onde está sediada a Presidência da República, para protestarem contra a candidatura de José Eduardo dos Santos nas eleições gerais de 31 de agosto.

Numa volta pela cidade, a Lusa testemunhou o notório reforço policial desdobrado pela cidade, sobretudo em São Paulo, onde além dos agentes controladores do trânsito era visível a presença de efetivos da unidade antimotim e diversos carros da corporação.

As detenções iniciaram-se quando os manifestantes se tentaram aproximar do mercado de São Paulo, provenientes de uma rua adjacente, onde está sedeada a emissora católica Rádio Ecclesia.

A aparente desorganização dos manifestantes tornou-os presa fácil do forte contingente policial presente, que os foi detendo um a um, tendo o jornalista free-lancer da Voz da América, Coque Mukuta, sido detido no momento em que procedia à recolha de imagens das detenções.

Coorganizadores dos protestos que desde março de 2011 têm sido realizados em Angola, o MRE pretendia com esta manifestação integrar ex-mlitares no protesto, para exigir a libertação de dois antigos combatentes que foram raptados no final de maio por desconhecidos e cujo paradeiro continua desconhecido ate agora.

A polícia angolana argumenta, a este respeito, que continua a investigar o sucedido.

Quanto à participação dos ex-militares, a Comissão dos ex-Militares Angolanos (COEMA), em comunicado enviado sexta-feira à agência Lusa, demarcou-se da iniciativa.

Se as anteriores manifestações foram reprimidas pelas autoridades ou resultaram em violência provocada por pessoas vestidas à civil, na de hoje, não se registaram os mesmos índices de repressão, à exceção das detenções.

Segundo os organizadores, as autoridades não impediram formalmente a realização do protesto de hoje, tendo sido notificadas da intenção de realizar a marcha no passado dia 03.