A cerimónia de abertura dos Jogos Olímpicos de Londres, agendada para sexta-feira às 21:00, vai durar três horas e será vista por milhões de pessoas por todo o mundo. Manda a tradição que o espetáculo fique reservado ao segredo dos deuses até lá, mas a era dos smartphones e das redes sociais está a dificultar a tarefa dos organizadores.

Os 10 mil participantes estão a ensaiar no Estádio Olímpico desde junho, há centenas de membros do staff e seguranças e milhares de jornalistas à volta e já foram partilhadas informações que, noutros tempos, estariam guardadas a sete chaves. «Faz parte do mundo moderno que não possamos fazer isso», admitiu o realizador Danny Boyle, responsável pelo espetáculo de abertura.

Entretanto, o presidente do Comité Organizador das Olimpíadas pediu aos envolvidos para pararem de divulgar pormenores. Através do Twitter, Sebastian Coe revelou a sua «frustração» e apelou: «Vamos salvar a surpresa!»

Para tentar acabar com os rumores, Danny Boyle revelou alguns pormenores da cerimónia cujo tema será «Isles of Wonder» [Ilhas da Maravilha] e que terá como principal inspiração a peça de William Shakespeare «A Tempestade», refere a Associated Press.

Após as badaladas de um sino de 27 toneladas, da mesma fundição onde foi criado o Big Ben, um ator britânico vai ler parte do discurso do escravo Caliban, personagem shakespeariana. Mark Rylance foi o escolhido, mas a morte de um familiar deverá levar à sua substituição por Kenneth Branagh.

Serão exibidas algumas pré-gravações no Palácio de Buckingham, que alegadamente envolvem a rainha Isabel II e Daniel Craig, o ator de James Bond. Um dos rumores que se espalhou dá conta que vai entrar um agente secreto 007 de paraquedas no estádio.

A sequência de abertura vai evocar o paraíso «verde e agradável» descrito no poema de William Blake que se transformou numa espécie de hino não oficial dos britânicos, intitulado «Jerusalem». Além do prado e do gado, haverá lugar a um inevitável jogo de críquete.

«Tentaremos mostrar o nosso melhor, mas também muitas coisas diferentes sobre o nosso país», prometeu Boyle. O outro lado do país descrito por William Blake será contado através de fotografias aéreas de prédios escuros e chaminés pelas margens do rio Tamisa, mas também será lembrada a recuperação da zona oriental da cidade, onde decorrerão os Jogos, que está agora mais verde e serve de casa a artistas e novas empresas.

O realizador britânico montou a sua própria versão da história das ilhas. Vão aparecer manifestantes da era da Grande Depressão, enfermeiras para homenagear o sistema nacional de saúde criado em 1948, mineiros, trabalhadores das fábricas e uma réplica do navio que levou centenas de imigrantes para o Reino Unido.

Segundo o «Sunday Times», também haverá lugar para personagens infantis, como a Alice no País das Maravilhas e o Peter Pan, e para um emocionante confronto entre o vilão de Harry Potter, Lord Voldemort, e um conjunto inspirado em Mary Poppins.

A parte musical da cerimónia que custou 27 milhões de libras (cerca de 35 mil euros) é da responsabilidade do grupo eletrónico britânico Underworld. No Estádio Olímpico vão soar canções dos Beatles, The Who, Sex Pistols, Vangelis, entre outros. A fechar, o ex-Beatle Paul McCartney vai cantar «Hey Jude», certamente com a ajuda dos 60 mil espectadores no estádio.

Danny Boyle, que foi obrigado a cortar algumas cenas para cumprir as três horas de espetáculo e a pontualidade britânica, tem um ensaio final marcado para esta quarta-feira e avisou desde já que «as verdadeiras estrelas são os atletas».

Manda o protocolo olímpico que se siga o desfile dos atletas de mais de 200 países, os discursos de várias personalidades, a declaração oficial de abertura, a cargo da rainha, e o ato mais simbólico da cerimónia, cujo segredo sobreviveu: ainda não se sabe quem irá acender a chama olímpica.